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Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

segunda-feira, setembro 05, 2005

Terapia existencial

Sou uma gaja de filosofia. Eu bem tento esconder, anular essa veia monstruosa do meu ser, mas ela lá anda e, de vez em quando, aparece-me. Às vezes, é uma coisa pesada e pesarosa (deprimente q.b.), mas outras vezes vem sobre a forma do humor (a minha sorte) e tudo se revolve com ironia, algum cinismo. Tudo conceitos filosóficos de raiz, lá está.

Desta vez, a filosofia veio a um domingo, sob a forma do humor, num filme muito divertido: Psico-detectives. Não se deixem enganar pela tradução manhosa, nem pelo teor do site oficial. É mesmo um filme brilhante, que puxa pelo absurdo, mas principalmente por diversos pontos de vista filosóficos.

No filme, existe uma dupla de detectives que, em vez de psicos como define a tradução, são existenciais. Essa ideia, absurda e genial, nasce da necessidade humana de procurar respostas para a existência. A dupla de detectives toma o teu caso e estuda-o até levar o cliente a encontrar a resposta que precisa. O mais interessante é que o caminho só pode desembocar na perspectiva do mundo dos tais detectives. Como qualquer método de terapia psicológica, os condutores (ou orientadores) do trabalho sabem qual o lugar em que o paciente deve chegar e só tem de estimular e orientar o caminho para lá chegar.

Como dizia, eu sou uma gaja de filosofia e, como tal, a minha formação é avessa à psicologia (que, entretanto, pelas circunstâncias me conquistou para o seu lado). Nessa aversão, nasceu a ideia (já aplicada, parece-me, mesmo em Portugal) de fazer terapia existencial. Em vez de procurar respostas psicológicas para a existência, procurar respostas metafísicas. Para mim, a dificuldade dessa ideia era o método: qual o método a aplicar em cada paciente? Não poderia ser uma mera conversa, pois isso nem em psicologia funciona. Agora, com este filme, descobri: é um método policial. Investiga-se a vida da pessoa até à exaustão, espia-se o dia-a-dia, envolve-se em tudo o que faz, gera-se confusão, vira-se tudo ao contrário... e, enfim, tem-se o resultado. Pois, tal como na psicoterapia, o importante é destruir o que se toma por adquirido.

2 Comments:

  • At 8:33 da manhã, Blogger ana said…

    terapia existencial???
    uau!
    conta conta!
    queres uma cobaia????

     
  • At 12:42 da tarde, Blogger ana vicente said…

    Bom, a ideia da terapia existencial é simples: resolver a vida de cada paciente através da análise da condição humana - ou seja num quadro mais global. Aparentemente simples, porque a concretização é tramada.
    O que quero dizer é que, por trás de qualquer terapia (psicológica e emocional) de qualquer corrente, estão subjacentes dois aspectos: a vida do paciente tem de mudar e, para isso, há que destruir alguns dados tomados como adquiridos.
    Logo, o trabalho do terapeuta passa por questionar uma série de coisas, até então nunca postas em causa ou sequer afloradas.
    Enquanto a psicologia, independentemente da corrente, baseia essa destruição/reconstrução na vida do indivíduo em causa (seja em experiências vividas, seja a um outro nível), a terapia existencial basear-se-ia exclusivamente na condição humana.
    O grande problema prático com que me deparo é que a filosofia ajudou-me a criar um ponto de vista sobre o mundo, e até sobre os meus comportamentos, mas não reconstrui nada. Ou seja o problema é: para lá de destruir, como tornar essa destruição um ponto de partida para a reconstrução.
    Outro problema é, inevitavelmente e derivando desse, a filosofia apresentar poucas soluções. Apresenta essencialmente problemas - o que nos ajuda imenso, mas depois também nos trava. Sendo esse um problema individual, meu, e não geral (o que não falta para aí são filófosos com respostas filosóficas para os seus problemas), dei a mão à palmatória à psicologia. Isso quer dizer que assumi que teria de, primeiro, resolver a minha merda para depois resolvê-la de acordo com aquilo que acredito ser a condição humana.

    Ainda te ofereces como cobaia?

     

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