Terapia existencial
Desta vez, a filosofia veio a um domingo, sob a forma do humor, num filme muito divertido: Psico-detectives. Não se deixem enganar pela tradução manhosa, nem pelo teor do site oficial. É mesmo um filme brilhante, que puxa pelo absurdo, mas principalmente por diversos pontos de vista filosóficos.
No filme, existe uma dupla de detectives que, em vez de psicos como define a tradução, são existenciais. Essa ideia, absurda e genial, nasce da necessidade humana de procurar respostas para a existência. A dupla de detectives toma o teu caso e estuda-o até levar o cliente a encontrar a resposta que precisa. O mais interessante é que o caminho só pode desembocar na perspectiva do mundo dos tais detectives. Como qualquer método de terapia psicológica, os condutores (ou orientadores) do trabalho sabem qual o lugar em que o paciente deve chegar e só tem de estimular e orientar o caminho para lá chegar.
Como dizia, eu sou uma gaja de filosofia e, como tal, a minha formação é avessa à psicologia (que, entretanto, pelas circunstâncias me conquistou para o seu lado). Nessa aversão, nasceu a ideia (já aplicada, parece-me, mesmo em Portugal) de fazer terapia existencial. Em vez de procurar respostas psicológicas para a existência, procurar respostas metafísicas. Para mim, a dificuldade dessa ideia era o método: qual o método a aplicar em cada paciente? Não poderia ser uma mera conversa, pois isso nem em psicologia funciona. Agora, com este filme, descobri: é um método policial. Investiga-se a vida da pessoa até à exaustão, espia-se o dia-a-dia, envolve-se em tudo o que faz, gera-se confusão, vira-se tudo ao contrário... e, enfim, tem-se o resultado. Pois, tal como na psicoterapia, o importante é destruir o que se toma por adquirido.
2 Comments:
At 8:33 da manhã, ana said…
terapia existencial???
uau!
conta conta!
queres uma cobaia????
At 12:42 da tarde, ana vicente said…
Bom, a ideia da terapia existencial é simples: resolver a vida de cada paciente através da análise da condição humana - ou seja num quadro mais global. Aparentemente simples, porque a concretização é tramada.
O que quero dizer é que, por trás de qualquer terapia (psicológica e emocional) de qualquer corrente, estão subjacentes dois aspectos: a vida do paciente tem de mudar e, para isso, há que destruir alguns dados tomados como adquiridos.
Logo, o trabalho do terapeuta passa por questionar uma série de coisas, até então nunca postas em causa ou sequer afloradas.
Enquanto a psicologia, independentemente da corrente, baseia essa destruição/reconstrução na vida do indivíduo em causa (seja em experiências vividas, seja a um outro nível), a terapia existencial basear-se-ia exclusivamente na condição humana.
O grande problema prático com que me deparo é que a filosofia ajudou-me a criar um ponto de vista sobre o mundo, e até sobre os meus comportamentos, mas não reconstrui nada. Ou seja o problema é: para lá de destruir, como tornar essa destruição um ponto de partida para a reconstrução.
Outro problema é, inevitavelmente e derivando desse, a filosofia apresentar poucas soluções. Apresenta essencialmente problemas - o que nos ajuda imenso, mas depois também nos trava. Sendo esse um problema individual, meu, e não geral (o que não falta para aí são filófosos com respostas filosóficas para os seus problemas), dei a mão à palmatória à psicologia. Isso quer dizer que assumi que teria de, primeiro, resolver a minha merda para depois resolvê-la de acordo com aquilo que acredito ser a condição humana.
Ainda te ofereces como cobaia?
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