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Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

segunda-feira, julho 11, 2005

A banhada

Antes que comece toda a gente a dizer mal da "Guerra dos mundos" - o que já começou ontem à saída do cinema e hoje de manhã - vou falar do filme, sem falar mesmo do filme. Considerações imediatas do visionamento: assustei-me, achei demais, pensei ya ya, aborreci-me e o final desiludiu-me. No entanto, gostei.

Mas isso não interessa nada e não é disso que eu quero falar. Não vou propriamente dar nenhum insight raro sobre o filme, com base nas minhas reacções primárias. Ao contrário de toda a gente que parece ter descoberto a pólvora (ui, é mesmo segunda-feira, peço desculpa), eu sinto-me uma mera espectadora da catástrofe. Pois bem, eis a banhada de que todos vão falar: morrem todos à volta e ao Tom Cruise não acontece nada. Essa abordagem irrita-me solenemente. A personagem Ray Ferrier não é propriamente um herói, não anda à caça de extraterrestres a tentar salvar o mundo - se fosse assim, talvez ninguém chamasse banhada. É um tipo cheio de medo que anda a fugir, a tentar sobreviver no meio da catástrofe. Não vi ninguém dizer que O pianista era uma banhada. Há razões óbvias para isso: era uma história verídica e tinha uma contextualização real - eram nazis e não extraterrestres de quem o protagonista fugia. Tudo bem, mas a essência da história é a mesma: a sobrevivência. Tal como em O pianista, Ray Ferrier é o anti-herói, um sobrevivente, foge para não morrer. É extremamente humano, tem de fazer opções radicais em tempos radicais e, sim, tem sorte, mas a sorte também é um factor.

Essa é a pertinência deste filme, mesmo que seja ideologicamente manipulador. Os espectadores não se deixam manipular pela ficção, mas são facilmente manipuláveis pelo resto. Eu prefiro ceder à ficção. E não vou ver um filme com extraterrestres para depois dizer no final que é uma banhada - é óbvio que é uma banhada. E, quando olho para o filme, penso qual é o meu limite, que condições adversas poderia suportar, sobreviveria?

É óbvio que estamos condicionados, no nosso olhar, pela nossa linguagem, pelos nossos medos, pela forma como olhamos o mundo. A perspectiva de quem foi ver comigo o filme era diferente da minha exactamente por isso, mas não recusava a ficção, pelo contrário.

Há uma permeabilidade ao star system que não nos deixa ver simplesmente a ficção: será sempre o Tom Cruise. Mas, enquanto no Mr. e Mrs. Smith, o filme vivia exactamente disso, só interessava porque era o Brad Pitt e a Angelina Jolie, neste "Guerra dos mundos" já não é assim. Qualquer dia, as estrelas só poderão fazer "Ocean's eleven"'s da vida - e para isso não há pachorra.

8 Comments:

  • At 2:30 da tarde, Blogger Pedro Couto said…

    Ainda não o vi. Mas se se espera algum realismo ( dentro do possível num filme de extraterrestres ) não podemos estar à espera de ver um homem comum a combater com aleanígenas.

     
  • At 3:14 da tarde, Blogger ana vicente said…

    Não é de todo o caso neste filme. Não há cá lutas com E.T.'s, pelo contrário, ele evita-as.

    Mas por que não poderíamos ver um homem comum a combater com alienígenas? À partida, esperamos que um alien seja um ser superior, fisica e intelectualmente. Mas porquê? Enfim... esta discussão já não tem nada a ver, mas vendo o Mars Attack do Tim Burton essa ideia do alien poderoso cai um bocado por terra. Ou mesmo o outro spielberg ET... o pobre bichinho não tinha muitas hipóteses com um humano com uma pistolita na mão.

    Mais uma vez: não é o caso. Nesta "Guerra dos mundos", os aliens são mesmo poderosos. Mas os homens estão protegidos...

     
  • At 3:46 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    eu vi o filme e não gostei muito

    a coisa que achei gira sobre o filme foi a importância da "escala", isto é, o facto da conclusão do filme depender imenso da escala a que os aliens observaram a terra

    de o poder de um ser depender muito do facto de ser observavel e assim estudado ou não...

    se fores demasiado pequeno, demasiado invisivel, os outros não estaram preparados para se defenderem contra ti, porque não te conhecem

     
  • At 3:48 da tarde, Blogger ana said…

    o ultimo post ficou como anonymous...
    e esqueci-me de assinar

    mas não era minha intenção consciente ficar como invisivel ;-)

     
  • At 11:53 da tarde, Blogger ana vicente said…

    Obrigada, Meg, pelo teu elogio!
    O serendipity é um dos blogs que mais visito e dos que mais me inspira a comentar. Gosto muito do vosso blog também.

    A blogosfera é uma coisa muito estranha, com momentos peculiares.

    E rapidamente salta dos aliens para o que quisermos. Até já. Volta sempre.

     
  • At 12:17 da tarde, Blogger ana vicente said…

    Eu também gosto dos ocean's eleven ' s da vida... ah pois gosto. E adoro o star system! Vê-los a divertirem-se pode ser bastante divertido.

    Não há pachorra só para isso, era o que queria dizer. É preciso mais: é preciso ver o Tom Cruise como actor e não apenas como estrela. Ou o Brad Pitt (que ultimamente se têm dedicado bastante a ser exclusivamente star), ou a angelina jolie, and so on and so on.

    Gosto por exemplo de ver a Marisa Paredes (como vimos em "Rainhas") a fazer de estrela. Aí sim é inusitado. Porque ela é de facto uma estrela resplandescente, mas não está integrada em nenhum star system. Mas os espanhóis estão muito à frente (tema de um próximo post)...

    É uma drama queen!

    Mas a minha estrela favorita continua a ser a Julia Roberts... Hollywood rules!

     
  • At 6:15 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Eu gosto do Oceans Eleven.

     
  • At 6:17 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    O Brad Pitt no California está fora da cena Star System.

     

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