As nossas paixões não estão cartografadas
O que é estranho na vida é que embora a sua natureza deva ter sido aparente para todos ao longo de centenas de anos, ninguém deixou uma explicação adequada. As ruas de Londres têm o seu mapa; mas as nossas paixões não estão cartografadas. Que encontraremos se virarmos esta esquina?
«Holborn sempre a direito», diz o polícia. Ah, mas para onde iremos se, em vez de passar rente ao velho da barba branca com a medalha de prata e o violino barato, o deixarmos contar a sua história que termina com um convite para entrar, presumivelmente no seu quarto junto a Queen’s Square, onde nos mostrará a sua colecção de ovos de aves e uma carta do secretário do Príncipe de Gales e isto (passando por cima das fases intermédias) nos levar num dia de Inverno à costa de Essex, onde o barquinho larga em direcção ao navio e o navio parte e no horizonte vemos os Açores; e os flamingos levantam voo; e nós sentados à beira do pântano a beber punch de rum, exilados da civilização, pois cometemos um crime, estamos infectados com febre amarela e provavelmente – preencham a cena como quiserem.
Tão frequentes como as esquinas de Holborn, são estes abismos na continuidade dos nossos dias. E contudo seguimos em frente.”
WOOLF, Virginia, O quarto de Jacob
1 Comments:
At 5:34 da tarde, ana said…
que bonito ana vicente!
quem me dera que houvesse todo o tempo do mundo para explorar todas as esquinas de Holborn!
explorar todos os abismos, e no fim, rebenta a bolha, e voltamos ao início para explorar mais um!
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