naperon

Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

sábado, julho 02, 2005

I. A primeira impressão

Chegar a um local conhecido, com memórias construídas, reconstruídas e desconstruídas, é sempre uma tarefa estranha. E, paradoxalmente, familiar.

Eis-me então na Manta Rota, onde passei muitas férias em criança, na adolescência e onde mais tarde voltei com a então minha nova família, uma ideia bem composta de casal, mas muito deficientemente concretizada. No regresso a esta praia, lembro-me obviamente (ou não fosse eu alguém dado a melancolias, ressentimentos e pensamentos compulsivos) dessa deficiência mas também da bela composição da ideia. Lembro-me, pronto.

Lembro-me até de outra ideia de casal, ainda mais mal concretizada. Alguém com quem não construí memórias de Manta Rota, mas que, depois de me ter assaltado a vida, ficou para sempre (?) a assombrar este lugar.

Estes parágrafos iniciais servem de preâmbulo para a descrição da minha primeira impressão. Pois sei bem que esta foi construída com base nestes ou influenciando estes, numa mistura indestrinçável de sensações.

Chegada, encontro-me num limbo social. Já não há pessoas da minha/nossa idade sem serem casais. Com filhos ou sem filhos. Navegamos com um código próprio – sem as referências sociais do costume. As praias estão cheias de famílias jovens, crianças. Tendo uma criança na nossa vida, como eu tenho, e tendo escolhido a liberdade esta semana, a melancolia pode ser muita avistando as outras crianças, os filhos dos outros. Os filhos dos outros que não são nossos filhos, já que o meu filho é filho de outros.

Junte-se à nostalgia da criança – traduzida em que bom seria se eu a tivesse trazido, quando afinal foi minha decisão não a trazer – a melancolia do casal. O casal, essa entidade vaga que me invoca coisas menos boas, é também uma ideia tão bem composta. A satisfação, a intimidade, uma espécie de segurança constante por se pertencer a um casal – algumas linhas que desenham os contornos da melancolia. Mais uma vez sabendo que não é nada disso que se quer agora.

Pois é, o limbo. Já não há outros grupos, como nós, aos quais nos podemos juntar nas férias, na praia. Fazemos parte de outro quadro social. Outra família, felizmente bem composta na concretização, em que já não há paralelismos para traçar no areal.

É bom ou mau? Sacudo a nostalgia como areia, essa é que é a verdade. Conheço-me melhor agora e, ao segundo dia de praia, sei bem que estou no sítio certo agora, mesmo que este seja de transição ou de passagem. Na praia da Manta Rota, há jovens famílias, casais mais velhos, grupos de adolescentes e, depois, há-nos a nós – quadro bem composto.


Algarve, 26 de Junho de 2005

2 Comments:

  • At 11:36 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Na Praia da Rocha há tudo isso e mais!!! MUITOS BIFES E BIFAS!!!! que à noite se encantam nos desgraçados bares, a cantar e a beber e a torcer por jogos de hóquei em campo de relva... nem sabia da existencia deste desporto que ao que parece é Olímpico... (igorância minha portanto).
    E o cheiro do algarve? Não te diz nada? Mal se vê a placa ALGARVE na autoestrada cheira logo diferente!!

    a.m.

     
  • At 11:36 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Na Praia da Rocha há tudo isso e mais!!! MUITOS BIFES E BIFAS!!!! que à noite se encantam nos desgraçados bares, a cantar e a beber e a torcer por jogos de hóquei em campo de relva... nem sabia da existencia deste desporto que ao que parece é Olímpico... (igorância minha portanto).
    E o cheiro do algarve? Não te diz nada? Mal se vê a placa ALGARVE na autoestrada cheira logo diferente!!

    a.m.

     

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