6:30 da manhã
Gosto do melting pot. De os voos serem misturados. De haver turistas e haver regressados. De haver imigrantes e executivos. Gosto de ver chegar, de partir, de voltar. Até gosto de me despedir de alguém que parta, porque se sente e como é bom sentir.
Mas quem parte ou chega, está distraído, está embrenhado na viagem. Quem espera ou quem se despede, está concentrado apenas naquele momento. Não tem referências a não ser o tempo antes e o tempo depois.
Hoje fui ao aeroporto, bem cedinho, surpreender os meus cubanos. Cheguei atrasada, mas mesmo assim antes de tempo. Encontrei outro esperante e lá ficámos os dois a olhar para a porta a ver quando chegavam. Ao meu lado, ele estava mais nervoso. Afinal, era um novo amor que voltava e ele estava lá desde as 7 da manhã. Eu estava bem descontraída e a hora madrugadora só mais tarde se revelou no meu corpo, agora mesmo enquanto escrevo isto. Ficámos a olhar para a porta, dizia eu, a ver se eles enfim chegavam.
É sempre fantástico ver as pessoas chegar. As que não têm ninguém à espera, as que olham à volta a ver se encontram alguém, os que esperam que acenam sem sucesso imediato, os que chegam em família e vê-se logo quem é o pai, quem é a mãe, o irmão mais velho e a mais nova também ali, os casais, os apaixonados e os outros, as senhoras da limpeza a transportar carrinhos com lixo e vassouras, os seguranças, tudo ali naquela porta, em que passam, passam, passam. E os nossos parecem sempre os últimos mas, depois deles, a dinâmica vai continuar, sempre gente a passar, a passar, a passar.
Gosto do abraço apertado que se dá quando de repente eles chegam e, afinal, que longe que estiveram. Tão longe que até, afinal, é outro mundo. Um mundo que entra e que não sai mais. Gosto como o tempo no aeroporto não é de todo o tempo real. É outro tempo, lento, rápido... excepcional. Gosto dos encontros por acaso, um primo e a mulher que vêm também da América Latina, mas mais acima (?), do México, e com muito mais bronze. Gosto da iconografia, da t-shirt do Che, até ao boné verde e à boina preta. Gosto que falem sem parar, todos ao mesmo tempo, que estejam excitados, cansados, tristes e felizes. Gosto do olhar cúmplice com quem esteve o tempo todo cá, como quem diz estamos fora, mas eles também. Gosto do facto de quem chega não ter dinheiro, dinheiro que valha. Gosto que perguntem pelo mundo, por Portugal, por mim. Gosto de saber tudo, assim ao mesmo tempo, que é quando tem mais piada e metade nem se absorve e metade nem se sabe que se disse.
Mas principalmente gostei de ter ido buscá-los ao aeroporto, gostei que voltassem e gostei de tê-los surpreendido, dando-lhes um novo ânimo para a chegada. Gosto de tudo nos Encontros e Despedidas. Até da tristeza da canção da Maria Rita e cuja letra vos deixo aqui abaixo num comment.
2 Comments:
At 3:21 da tarde, ana vicente said…
Encontros e Despedidas
Milton Nascimento / Fernando Brant
Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço
Venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero
Todos os dias é um vai e vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
É assim, chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida...
A hora do encontro
É também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida...
At 10:37 da manhã, Anónimo said…
Bem vindos!!!
beijos meus.
Sandera
Enviar um comentário
<< Home