naperon

Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

sexta-feira, julho 15, 2005

Easy come, easy go

É oficial: o speed dating já existe em Portugal. O conceito é simples e estapafúrdio: X homens e X mulheres vão ao mesmo lugar e conversam 4 minutos com todas as pessoas do sexo oposto. A ideia é criar novas amizades e possibilidades de encontros futuros. A notícia vem bem desenvolvida no Público de ontem.

O modelo é norte-americano, claro, e já está bem aplicado e espalhado pelos países modernos. Sim, modernos, leram bem, porque isto é um sintoma dos tempos modernos. Da vida concentrada, centrada, fechada, parada. Em que a única maneira de conhecer pessoas é em 4 minutos. Porque nem sequer tens mais para dispensar. Porque não conheces ninguém fora do local de trabalho, em que passas 10 horas por dia e fantasias coisas que não existem com os teus colegas desinteressantes e parados. Mas tu já te esqueceste, porque entretanto passas demasiado tempo fechado, fechadinho, e o desinteressante vira interessante porque não há mais nada. E as vozes que imaginas daqueles nicks marados com que te cruzas na net. Uma teia, uma teia em que entraste, que te faz reviver esse sentimento antigo, perdido, do qual tens apenas reminiscências. Já nem sais, já nem sabes. Viste tudo, não conheces nada. E até é uma experiência gira.

Conhecer pessoas, esse grande desafio, essa grande dificuldade. E julgar poder conhecê-las em 4 minutos. Escrever num papel sim, não, talvez. Pensar no tempo que as minhas relações demoraram a arrancar. Os minutos que se gastaram em quem és, de onde vens, que me queres, pode ser, vem cá. Pensar em todos esses minutos, na expectativa, no medo, na ansiedade, no momento em que tudo se consome, consumidos que estamos pela urgência. Pensar que os tempos modernos nos querem arrancar todo esse tempo, dizer-nos que já não precisamos dele. Arrancam-nos o tempo.

Importa-se o modelo do speed dating, mas o dating ainda nem sequer cá chegou.

Não tenho nada contra. Acho um lindo e grande disparate. Mas desta vez, este sintoma cheira a desespero a mais.

2 Comments:

  • At 3:36 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    These are the last things, she wrote. One by one they disappear and never come back. I can tell you of the ones I have seen, of the ones that are no more, but I doubt there will be time. It is all happening too fast now, and I cannot keep up.

    I don’t expect you to understand. You have seen none of this, and even if you tried, you could not imagine it. These are the last things. A house is there one day, and the next day it is gone. A street you walked down yesterday is no longer there today. Even the weather is in constant flux. A day of sun followed by a day of rain, a day of snow followed by a day of fog, warm then cool, wind then stillness, a stretch of bitter cold, and then today, in the middle of winter, an afternoon of fragrant light, warm to the point of merely sweaters. When you live in the city, you learn to take nothing for granted. Close your eyes for a moment, turn around to look at something else, and the thing that was before you is suddenly gone. Nothing lasts, you see, not even the thoughts inside you. And you mustn’t waste your time looking for them. Once a thing is gone, that is the end of it.

    (Paul Auster, In the country of last things)

     
  • At 1:17 da tarde, Blogger ana said…

    concordo com a Sandera
    em Lisboa há n possibilidades de conhecer pessoas, porque há uma série de sítios onde elas estão aos molhos, e no entanto é preciso haver uma organização pré-estabelecidas para que as pessoas ganhem coragem para falar umas coisa as outras.
    faz-me lembrar qd era miúda e jogava ao bate-pé. só podia pedir um beijo a outra pessoa se houvesse um sistema aceite, nunca poderia fazê-lo de livre e espontânea vontade.

     

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