A auto-censura
Por exemplo, este blog. Como espaço de liberdade que é, à partida deveria ser a expressão daquilo que nos vai na alma (uma boa frase feita). Mas a verdade é que, de facto, há uma imposição própria que nos obriga a traçar limites que, no início, não acharíamos previsíveis e muito menos necessários. Há aquela história de um indivíduo lá para o norte que foi despedido, porque tinha um blog em que afirmava as suas posições políticas. Independentemente de ser verdadeira ou não, a história é significativa, porque coloca a problemática de saber quem nos lê e com que intenção.
Depois há outros limites claros. Sabendo que existe uma audiência virtual, cuja posição ou relação connosco desconhecemos, está presente na mente que há coisas emocionais/pessoais das quais não queremos falar, sob pena de alguns desses leitores comprometerem alguma coisa da nossa imagem. Enfim, não queremos mostrar as cartas todas e, nessa auto-censura, vamos deixando de escrever em momentos mais fortes da nossa vida pessoal e emocional.
Nem por isso deixamos de ser verdadeiros, mas há algo que se perde.
Socialmente falando, tenho identificado um problema comum a muita gente: a incapacidade em dizer o que se sente. É uma espécie de medo que invade as pessoas, impedindo-as de estabelecerem relações significativas com os outros, mesmo sem compromisso. Como se, ao dizermos o que sentimos, estejamos já a abrir uma porta para o compromisso ou para a ruptura.
Há a questão do sexo, por exemplo. No outro dia, discutia com um amigo a questão de falar ou não falar com a pessoa no dia seguinte. Esse meu amigo achava que, numa relação casual (não estou a falar de sexo com desconhecidos), não sentia necessidade de falar com a pessoa sobre o acontecido. Eu defendia o contrário, acreditando que o acto sexual, mesmo descomprometido, é um acto íntimo sobre o qual se deve falar e que abre a porta para outras camadas emocionais. E falar não para dissertar sobre os pormenores, mas para não deixar aspectos mal resolvidos.
No limite, eu defendo que ir para a cama com alguém significa começar uma relação com alguém, ou torná-la diferente. Não falo de começar uma relação amorosa, mas uma relação mais verdadeira. Encaro assim o sexo como uma forma de nos aproximarmos de alguém e não o contrário.
Pois, talvez seja ingenuidade minha. As pessoas não querem falar, não querem aproximar-se muito, têm medo. Eu também tenho - ninguém é perfeito - mas de que serve a vida se não tentarmos chegar mais rapidamente ao outro?
O medo onde nos levará, agora que começamos "a ter as primeiras rugas"?
1 Comments:
At 12:20 da tarde, Anónimo said…
Aqui me estreio! Sem qualquer problema de expressão, diga-se. De facto quem se expressa sem preconceitos quer sempre que os outros o façam de igual modo! Sem entraves , sem medir as palavras, os gestos, tudo. Mas isso não acontece... é raro! Existe uma contenção latente e não sei porquê, mas que irrita irrita! Uns dizem que é feitio, que não é defeito. Sinceramente acho esta frase bastante fácil para se desviar um assunto, mas cada um sabe de si. Eu sei de mim e sei também que tenho tido resultados bem mais satisfatórios para comigo e para com os outros quando digo o que sinto, tenha o assunto um teor "sexófrutal" ou não. E em relção a este especificamente, concordo ana vicente, com uma conversa pós acontecimento. E não é conversa de gosto não gosto, é claro, essa não interessa, mas sim, e volto a concordar, uma conversa emocional que reflicta o que se passou: o surgimento de uma "outras camadas emocionais" (citando). Infelizmente nem todas as pessoas entendem que falar não significa comprometer e por isso olha... vamos vivendo adivinhando!
Bem, não sei se o que escrevi serve para alguma coisa, mas a verdade é que já andava a sentir uma certa pressão por parte da minha amiga ana vicente no sentido de me expressar aqui no blog, e por isso cá está!
EHEHE desculpa... é que digo o que penso ;) Não me contenho! :))
AM (ana maria ou ana margarida para quem não identifique)
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