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Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

sexta-feira, novembro 26, 2004

Listas de Natal

Há já alguns anos que a minha relação com o Natal tem sido desvirtuada. De facto, lembro-me que o Natal era antes uma coisa sobre mim. Eu fazia a lista dos brinquedos que eu queria receber, mais tarde dos livros, dos cds e dos filmes. A partir do momento em que tens casa e trabalho, a tua lista começa a centrar-se em electrodomésticos e artigos de decoração. E tu pensas, oh Deus, aburguesei-me, estou a receber os mesmos presentes que os meus pais. E, mais estranho, a partir desse momento, começas a ter de fazer uma outra lista: a das prendas dos outros.
Não me interpretem mal: EU ADORO DAR PRENDAS!
A questão não é essa. A questão tem a ver com a ansiedade. Eu não faço a mínima ideia do que é que quero receber no Natal, mas a minha cabeça fervilha em busca de ideias para as prendas dos outros. A ansiedade não está em receber mas em dar. E isso parece-me, para contrariar a nossa estrutura emocional carente, um grande avanço.
Isto vem também a propósito de um artigo que saiu hoje no Público (o link está no título) sobre um estudo europeu realizado pela Duracell (gente pouco interesseira esta) sobre as prendas que os europeus oferecem às suas crianças. Parece que as crianças portuguesas recebem menos brinquedos! Ao que parece, os pais portugueses "só" gastam 88 euros de média nas prendas dos seus filhos, entre quatro a cinco brinquedos. Os nossos compadres europeus gastam 140 euros e compram em média 7 brinquedos.
QUE É ISTO, SENHORES?
Não bastava a malta andar para aí a querer ter um telemóvel topo de gama, um carro xptónico e uma roupa cool, agora ainda nos obrigam a comprar mais brinquedos? Pior, não bastava já nos acharmos maus em tudo, ainda por cima somos acusados de sermos fuínhas em relação aos nossos filhos? Não nos podem dar um tiro na cabeça? Para quê tanta violência? Acho inacreditável que estes estudos saiam a um mês do Natal, que terrível coincidência. Imagino os pais de norte a sul a pensarem "não quero estar na cauda da europa. O meu filho merece mais, ele também é europeu. Vou individar-me um pouco mais. Vamos estoirar o Visa! A máfia russa ainda me pode dar crédito."
Espero que os portugueses olhem para a porcaria do estudo e pensem naquilo que é mais importante e revelador no mesmo: as crianças portuguesas têm como segunda actividade favorita (a um ponto percentual de brincar) ver televisão. Isso sim é preocupante. É aí que eles podem sentir-se ameaçados na qualidade da sua maternidade/paternidade.
Eu tenho uma criança na minha vida e vou-me esforçar este ano por estar abaixo dos 88 euros (soma bem redondinha até e graúda para a minha lista de prendas). Orgulho-me disso: revela discernimento e contenção!
Cambada de chulos, perdoem-me a expressão!

3 Comments:

  • At 12:26 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Ah pois.. na onda destes estudos vou comentar um que vi a dois dias na TV:

    A "Proteste" (acho que eram eles) fizeram um estudo aos brinquedos mais vendidos para verificar se estes cumplem com as normativas de segurança.

    E pelos vistos muitos brinquedos chumbaram, brinquedos que são dos mais vendidos, desde a boneca-bebé que chora até o boneco super herói que mergulha para cumprir as suas missões. São feitos de plásticos que podemo por em risco a saude das crianças. Ou tem peças pequenas que podem afogar, ou sei lá o que.. E mesmo importante ouvir os expertos..

    mais é interessante que estes brinquedos são vendidos todo o ano. mmm

    Kardo

     
  • At 5:13 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Fazendo um comentário que não falará de todo da excepcional beleza da Sandera, gostaria de dizer que o endividamento é um grande mal do nosso país.
    E isso começa desde pequenos, em que pedimos alguns euricos aos colegas para comprar mais cromos para a caderneta ou vamos á carteira do pai ou da mãe para cravar mais uns trocos para qualquer necessidade desnecessária. Consumismo puro e duro. Gastar por gastar.
    Ora bem, se a paixão destes últimos governos é a educação e se querem que Portugal saia de uma vez por todas da cauda da Europa, porque é que não se investe em educação financeira? Falo em coisas básicas e muito úteis, que vão desde preencher um IRS a organizar um orçamento doméstico. Talvez com essa cultura de só gastar o que se tem, isto ande um pouco para a frente.
    Até poderiam organizar isto conforme as idades. Desde economia básica na preparatória à gestão básica de empresas no secundário. Mas sem notas nem avalições descabidas e irreais, porque só se vai ver que aprendeu ou não na vida real.
    Assim posso futuramente voltar aos meus comentários estético-admiratório-bajuladores sobre a Sandera.

    Anónimo Voyer (da Silva?)

    PS: que tal umas Barbies com as roupas da Sandera? A Barbie tem muito que aprender até ser uma boneca de verdade.

     
  • At 11:23 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Sei que vou parecer banal, mas não importa,é o que me apraz dizer com toda a sinceridade.
    Para mim o Natal é na verdade em certas circunstâncias, cínico e por vezes falso, fala-se muito nos pobres nas suas angustias, armaguras e nas suas carências elementares á sua dgnidade humana, mas o que faz a sociedade para os aliviar na sua dor? muito pouco, com a agravante de no dia seguinte quase toda a gente se esquecer desses infelizes.
    No entanto o Natal tem muitas outras coisas positivas, e era aqui que eu gostaria mais de argumentar.
    Gostaria de expressar sómente um exemplo que para mim é muito gratificante, que é sem duvida reunir muitas pessoas que gostamos, e isso é muito bom, pois permite criar um espirito de solidariedade e aproximação de todos.
    Sabias que um dos maiores receios, sobre o Natal,é que um dia perdendo para sempre a nossa maior referência, aquela que na verdade nos leva a aproximar uns dos outros, se possa perder. É que para mim o melhor do Natal, não são as prendas, mas sim o espirito da amizade do amor, e o conforto de saber-mos que afinal ainda há muita gente que gosta de nós.
    Por mim tudo farei que este espirito nunca se perca.
    O resto não interessa são sómente pequenos pormenores.

    Carlos Vicente

     

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