naperon

Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

sexta-feira, janeiro 14, 2005

1977

1977 é o ano em que nasci. É também o nome de uma canção dos The Gift, incluída no último cd duplo da banda, na parte AM. A canção, muito boa, fala sobre a vida desde 1977, "when everything starts", e termina com a frase "twenty seven years old". 27 é a minha idade.
A música aqui é, mais uma vez, um pretexto. Queria falar da idade. Dos anos que vivemos, do valor da nossa idade, do papel que assumimos ou não com ela.

Aqui entre nós, é difícil viver de acordo com a idade que têm?

Por vezes, parece haver um desfaçamento entre a idade de alguém e aquilo que faz, diz, pensa.
Eu sou uma adulta. Ter 27 ou 35 anos, neste momento, parece-me igual. Mas não é. Poucas vezes, agimos com a idade que temos, poucas vezes somos vistos pelos anos que vivemos. Porque a questão aqui é essa: não aquilo que é esperado de um adulto, mas sim saber afinal saber como nos constituiram estes anos que já vivemos.
Andamos a tratar crianças como pares, adultos como jovens, jovens como adultos, adolescentes como crianças ou adultos, velhos como bebés. Há que assumir a idade que se tem, não pelo número, mas pelo valor da nossa vida, por aquilo que vivemos, que aprendemos. Não sabemos ser adultos, não queremos ser crianças. Assinamos cheques, temos contas e casa, mas cadê a maturidade?
Na adolescência, é simples de perceber, há uma diferença clara entre aquilo que se sente e a forma como se é visto pelos outros. Mas a verdade é que, apesar de ser mais difícil de perceber, nós continuamos sem nenhuma noção do valor da idade. Talvez por sermos jovens adultos e ainda não termos percebido que, quando os mais velhos diziam "quando chegares à minha idade vais perceber", tinham razão.
Eu começo a perceber e quero assumi-lo. Quando estiverem aqui, vão perceber.
A minha proposta é:
- vivam com a idade que têm, socialmente, emocionalmente, politicamente,...
- tratem os outros considerando a idade que têm, por muito arrogante ou humilde que vos possa parecer.
Não há nada melhor do que viver ajustado consigo mesmo. E, já agora, ouçam esta música e o cd todo.

4 Comments:

  • At 5:58 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    >Na adolescência, é simples de perceber

    Há muito pouca coisa "simples de perceber" na adolescência

    >, há uma diferença clara entre aquilo que se sente
    > e a forma como se é visto pelos outros.

    Em que direcção é que vai essa diferença?

    Queixamo-nos de sermos tratados como putos, mas entramos em pânico se nos tratam como adultos porque não sabemos lidar com a responsabilidade. Não me parece nada simples.

    E já agora, o que é que é ter 27 anos politicamente? (a propos, ver a crónica de hoje do MST sobre as "mulheres socialistas") Além de se ser a favor de que o cartão jovem dê até aos 27 (por causa dos descontos do comboio e tal), não vejo muito mais que tenha a ver com a idade.

    luispedro

    ps: se calhar adiamos esta discussão para quando eu tiver 27 anos, mas depois aí já me dizes outra vez "olha, quando tiveres 30, volta cá"

     
  • At 7:33 da tarde, Blogger ana vicente said…

    Aos 27 (os meus), preocupamo-nos menos com a retórica e com a forma das coisas.

    A idade não é para ser entendida no numerário. Falo da importãncia dos anos que vivemos e não nos aniversários.

    Na adolescência não há nada de facto que se consiga perceber, a não ser que é mesmo uma fase estúpida. Mas, à distância, é fácil de perceber que essa dificuldade em perceber tem mesmo a ver com o desfaçamento que existe entre a aquilo que se sente e como se é visto, por nós e pelos outros. Estás a perceber? Os adolescentes não são crianças nem são adultos. Esse é o drama deles. A nós, basta tratá-los com muita, mas muita condescendência e interesse (sem paradoxos, condescendência para relativizar, interesse porque é alguém que está a crescer).

    Não faço ideia o que pensarás quando chegares aos 27... não é uma fórmula.

     
  • At 11:40 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Vicente achei o tema lindissimo, apesar da diferenca de opiniao...
    Epa nunca parei para pensar tenho 15 ou 28 anos entao vou fazer isto ou aquilo porque ja sou grandinha...faco as coisas que quero, no momento que quero...ajo, responsabilizo-me e assumo os meus actos...

    A minha consciencia e a minha idade!

    Ser adulto implica ser maturo. A maturidade atinge-se com a experiencia, com o tempo logo com a idade!!

    Ha uma beleza no facto de vivermos o reverso do tempo...eu quero ver os meus entes pequeninos a passar pelo tempo entao desejo-lhes que crescam (futuro...bebe/adolescente).
    quero ver os meus entes velhinhos a perdurarem como se o tempo nao acabasse, entao mimo-os como se fossem muito pequeninos (presente, talvez um futuro ausente...velho/bebe).

    A vida e tao breve que praticamente nao da tempo para pensar na idade entao apressamo-nos...
    duvido se nao estaremos a perder tempo quando vejo bebes, criancas, jovens a morrer...

    O viver-se ajustado tem a ver com a nossa estabilidade interior...

    Por outro lado tenho a sorte de estar a passar pela idade sem muitas marcas aos 28 continuam-me a dar:
    18 quando olham para a minha cara
    23 quando sabem que tenho uma filha
    30 quando falam comigo..

    Analiso as pessoas pelo nivel cognitivo, haverao certamentamente homens com 17 mais interessantes do que putos com 30!!!

    kunst

     
  • At 4:02 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    idade política?
    ora aí está uma ideia que me é difícil de aceitar, é que, já o facto de ter uma idade catalogada juntinho do nº de cidadão foi uma ideia que tive de aprender a ignorar...
    talvez esteja a imaginar o conceito "idade política" de uma forma oposta á tua, mas não imagino o que será ter uma idade política. Para mim viver é já um acto político.

    Neste assunto, discordo que o valor numerário seja directamente propocional a uma atitude "esperada".
    acho que é a experiência de vida que delimita as atitudes, faculta a maturidade, inibe as pulsões egoístas ou (infantis).
    Digo isto porque vejo tanta gente a agir "adultamente", ou melhor, da forma como se espera que um adulto aja. Ainda que sejam infundadas essas atitudes, ainda que emocionalmente não se consigam resolver questões com o nosso par, e insistimos em ser "infantis"... no fundo e tão fácil parecer adulto.

    alguém viu o olhar daquele menino que sobreviveu ao tsunami após 19 dias? um olhar profundo, estranhamente adulto para uma cara de 7 anos. um olhar de quem viveu uma esperiência insólita, uma experiência que só podemos imaginar.

    claro que a experiência de vida não serve de nada se não existir humildade e coragem de arriscar. Aprender a aceitarmo-nos é um manifesto de maturidade,
    aceitar o outro é a humanidade a manifestar-se em nós.

    Digo isto porque sinto que vivo de acordo com a idade que tenho, mas não ajo como seria de esperar de uma pessoa da minha idade. É um assunto controverso este e daria pano para mangas numa conversa em tempo real.

    Assim, contento-me a aprender com as crianças, com os meus amigos, com os velhos, e limito-me a viver como me sabe bem, como a tal broa que não seria tão boa se não tivesse migalhas.

    antes de "quando chegares á minha idade vais perceber" prefiro: "se viveres o que vivi vais compreender-me"


    abraços - parabéns pelo blog

    guga

     

Enviar um comentário

<< Home