naperon

Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

quarta-feira, setembro 28, 2005

Em jeito de homenagem

Havia um tempo em que éramos miúdos, éramos todos muito miúdos e pensávamos que seria sempre assim. Que aquelas pessoas estariam sempre connosco, perto de nós, quase invisíveis. Agora, já não somos tão miúdos assim. E sabemos, porque já fomos colhidos no nosso núcleo algumas vezes, que as pessoas não ficam sempre connosco.

Ontem à noite, soubémos mais uma vez. E lembrei-me então do bairro da Ajuda, do papagaio, da Praia Verde, das touradas no segundo canal, das histórias da Mobil, das suecas em que eles, os nossos avós, batiam com a mão na mesa com a certeza da vitória, lembrei-me do Natal. Lembrei-me de um carro, que me aparece cor de ferrugem na memória, mas como hei-de ter a certeza? Seria um datsun? Lembrei-me de nós todos juntos, pequenos a acreditar que eles sempre estariam connosco.

Lembrei-me de como eles já foram jovens e que nós sempre os achámos "velhos". Pensei no amor que se constrói durante uma vida e que se perpetua nos filhos, nos netos e nos bisnetos.

Hoje sei que, na minha família, há alguém que perde pela primeira vez um pai. Que há crianças que experimentarão pela primeira vez a ausência. E, nessa dor, há um pouco de nós que também morre. Hoje queria apenas deixar uma palavra de alento para aqueles miúdos, que nós fomos, para estes adultos que somos agora e para os que sempre me acompanharam e que amo.

É apenas isso, um grande abraço.

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