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Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Árvore geneológica ou o meu lado George Constanza

Quando alguém de quem gostamos muito se predispõe pela primeira vez a falar da sua família, tendo a atenção e a disponibilidade de fazer um apanhado rigoroso de nomes e idades, deveria haver uma convenção social que assegurasse o direito de quem ouve a puxar de um papel e escrever uma cábula com o mesmo rigor.

É impossível fixar e não há nada que dê um ar mais desleixado/distraído do que perguntar 2,3,4 vezes a mesma coisa. Ah, mas a prima Leopoldina é a irmã do Gervázio, que é aquele que levou um sopapo do Sidónio, que é tio da... Ao princípio, haverá um sorriso do género compreensivo, mas depois das primeiras vezes esse será substituído por um esgar de desdém. Mais para a frente da relação, seja ela de que nível for, provavelmente será feita a acusação Tu? Tu és um egocêntrico imbecil, não ouves ninguém, nem vês ninguém. Nunca soubeste um nome sequer dos meus familiares, mesmo eu tendo contado todas as suas desventuras.

Com uma pequena cábula, tudo seria mais simples. Dava uma oportunidade à pessoa de estudá-la um pouco e fixar todos os nomes, idades, até, quem sabe?, lembrar pormenores que, entretanto, o protagonista se tinha esquecido. É porque é sempre um teste. E não se deve brincar com a família dos outros, só com a nossa. Até mesmo, dentro dessa ordem social em que as cábulas são permitidas e até estimuladas, haveria um momento em que o protagonista faria um gesto compreensivo, a meio da história, permitindo ao ouvinte puxar da cábula para perceber efectivamente o que se está a passar. É muito triste assistir a conversas em que se vê claramente que o que o ouvinte está a pensar é Mas que raio de pessoas são estas de que ele está a falar?, tudo disfarçado com um acenar afirmativo de cabeça, que pretende dissimular o desnorte.

É por isso que peço a compreensão de todos, apelando ainda a que me enviem por email ou carta as vossas árvores geneológicas. É que vocês nunca conheceram outra, mas eu às vezes distraio-me com outras coisas...

3 Comments:

  • At 11:37 da manhã, Blogger T. M. said…

    :) :)

    Que giro, identifiquei-me totalmente com esta tua historia. Eu confesso que tenho ma memoria para estas coisas, e confesso meio envergonhadamente que ha uns anos quando namorei uma italiana cheguei a casa e escrevi duas paginas com a informacao (imensa) que ela me tinha contado. Depois reli algumas vezes, just to "refresh". Shame, I know. But done with the best intention.

    E ainda me sinto pior quando ha amigos meus que se lembram de tudo o que lhes contei!

     
  • At 11:53 da manhã, Blogger ana vicente said…

    é terrível, não é?

    pior é também quando dizemos qualquer coisa a alguém como se fosse a primeira vez, do género "olha, isto é mesmo muito importante para mim e não costumo dizer a ninguém" e a pessoa responde "mas já me contaste isso há que tempos!"...

    acontece-me muitas vezes dizer "ah já te tinha dito? mas era segredo".

    queremos sempre impressionar e ilustrar o imenso interesse que temos pela outra pessoa. às vezes, quanto maior é o interesse, mais se deixam escapar os factos.

     
  • At 5:44 da tarde, Blogger T. M. said…

    o que contaste a seguir entao acontece-me milhares de vezes. Tantas que depois acabo por me calar e o efeito e' o contrario. Eu a pensar que ja' contei e afinal nao. E levo "MAs tu nao me contaste nada disso! Nao me contas nada, tu!" E eu "Eh pa, pensava que sim... nao queria estar a "sobrecarregar-te" com historias minhas"

    Se nao cobrares muito, vou aproveitar a tua dica do "Como era segredo, nao tinha a certeza se te tinha contado".

    Por outro lado isto faz com que a pessoa se sinta pouco especial - afinal nao era (supostamente) elegivel para saber de segredos.

    E' um beco sem saida. BOlas, bolas.

     

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