"Homeless" - Um teatro à maneira
Não quero revelar muito, apenas o suficiente para se sentirem impelidos a ver.
"Homeless" é uma experiência diferente, para além do convencional. O público é convidado a encontrar-se com Miguel Moreira em frente ao Teatro Nacional D.Maria II e, daí, partir para o local onde se realizará a peça propriamente dita. Mas o espectáculo começa aí, não a nível performático, mas a nível político. A caminhada acaba por tornar o acto de ver a peça em muito mais que isso. Obriga-nos a reflectir sobre o próprio acto em si.
É difícil falar da peça sem falar da experiência, comprometendo a vossa.
Por isso, digo apenas que me reconheço naquela urgência. Uma urgência de intervir politicamente, de "sujar as mãos" com o poder de mudar alguma coisa. Sinto a mesma resistência da parte daqueles que agoram ocupam o poder. Resistência aos jovens adultos, às mulheres e a outras minorias (que noutras áreas são os verdadeiros motores da mudança).
Ao contrário do Miguel, eu já não recorro ao Zeca Afonso (que muito admiro e que adoro) para expressar o meu desejo de liberdade, exactamente por remeter demasiado para a actual geração do poder. Eles, que sempre nos disseram que fizeram o 25 de Abril (deixando-nos de mãos atadas e de consciência pesada para qualquer revolução), são os mesmos que agora nos fecham as portas para o poder, seja na política seja nas universidades. A revolução está por fazer, nas mentalidades e nos corações portugueses. 30 anos de democracia nada são perante o atraso de mentalidades que sofremos durante quase 50 anos.
Não me quero alongar. Quero apenas promover este espectáculo pela importância política, social e também artística que tem. Pela necessidade de liberdade, para romper.
Está até dia 27, próxima quinta-feira. Façam reserva (tel.965470159/965732982) porque o número de espectadores é limitado. Depois comentem...
5 Comments:
At 3:23 da tarde, Anónimo said…
Tu escreveste "mulheres e outras minorias." Eu podia comentar, mas não me parece que haja mais a dizer.
luispedro
ps: ainda não fui ver o homeless, mas acho que vou ver (apesar de e não por causa da tua crítica, devo dizer).
At 3:34 da tarde, ana vicente said…
Ó Luís Pedro, desiludes-me... pensei que já me conhecesses o suficiente.
Parafraseando a minha amiga Madonna, referindo-se à sua amizade com o Rupert Everett, "entendemo-nos muito bem, porque fazemos os dois parte de minorias, ele é gay, eu sou mulher".
É interessante como o género maioritário (as mulheres, luís, não os gays) podem ser tratados como uma minoria...
At 6:11 da tarde, Anónimo said…
Conheço-te, mas não concordo.
Não penso que as mulheres sejam uma minoria. E não estou só a falar do facto estatístico. Estou a dizer que não acredito que as mulheres sejam muito mais discriminadas por serem mulheres que os homens o são por serem homens (repara que não disse que não o são).
Não há tantas mulheres na política como homens porque as mulheres não são tão atraídas para a política como os homens. Como não há taxistas mulheres e nunca ninguém sèriamente propõe quotas para taxistas (talvez a esquerda americana). As excepções confirmam a regra.
Por outro lado, as faculdades de direito ou medicina têm uma maioria feminina (que não se reflecte ainda na profissão por razões históricas) e eu talvez não contratasse um homem como mulher-a-dias.
luispedro
At 6:17 da tarde, Anónimo said…
ps: vou ver hoje o espectáculo
At 2:17 da manhã, Anónimo said…
olá ana
parabés pelo post
e não é que fomos ver o mesmo espectáculo no mesmo dia?
é verdade, se calhar agitamos as mesmas bandeirinhas pela praça dos restauradores acima...
o espectáculo é sem dúvida surpreendente e inovador, gostei muito e também gostei da maneira como o descreveste e da maneira como te identificaste:
«Por isso, digo apenas que me reconheço naquela urgência. Uma urgência de intervir politicamente, de "sujar as mãos" com o poder de mudar alguma coisa. Sinto a mesma resistência da parte daqueles que agoram ocupam o poder. Resistência aos jovens adultos, às mulheres e a outras minorias (que noutras áreas são os verdadeiros motores da mudança).»
gostei da esposição das relações daquelas 3 pessoas (personagens), e do porquê da degradação das mesmas; o encontro deles no dia em que o lider político havia morrido - é a plataforma para se iniciar uma batalha campal dos egos desenfreados e meio perdidos (sem saber em que acreditar, sem símbolos para se agarrarem).
uma porta aberta para exporem a nu os seus sentimentos e desejos.
Uma bela maneira para abordar o tema do uso ou abuso de poder... deliciei-me do principio ao fim.
uma bela escolha que partilho contigo, ana
guga
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