naperon

Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

sábado, julho 16, 2005

Reminiscência tardia

Quando uma relação começa a deteriorar-se, pensa-se em relação ao outro: quem me dera voltar a apaixonar-me por ti. E esse desejo não se expressa com carinho, expressa-se com raiva, como se fosse culpa do outro termo-nos desapaixonado. Como se fosse sua responsabilidade não nos reapaixonarmos. Dessa mágoa, passa a viver a relação e por muito tempo pode daí alimentar-se.

3 Comments:

  • At 10:27 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Nietzsche pergunta num poema, ou melhor: Diónisos pergunta a Ariadne num poema de Nietzsche se não será preciso primeiro odiar, para se poder amar?

    (Eu espero que a tradução seja esta, andei às voltas com ela e só fiquei mais confuso, o alemão definitivamente não é o meu forte nem faz o meu género, pelo sim, pelo não, deixo-te o original: Muss man sich nicht erst hassen, wenn man sich lieben soll? – E pronto, se souberes traduzir dá-me a tua versão.)

    Mas seguindo as tuas palavras, e embora ódio seja uma palavra demasiado forte, aparentemente, porque depois amor também é, ou pode ser, mas nem precisa ser, pode ter um sentido mais leve, banal, quotidiano, usando ódio nesse sentido, como sinónimo da raiva de que falas, ódio de si próprio dirigido ao outro, talvez dirigido contra si próprio, uma vez que se continua a alimentar uma relação que nos leva à raiva e que conseguimos alimentar porque nos leva aí, seguindo esse caminho é como se perguntasses, parafraseando o Nietzsche, se não será preciso odiar, para poder continuar a amar?

    E talvez só nos libertemos desta “perversão” (se calhar devia dizer só paradoxo, mas repara que eu pus aspas, espero estar perdoado) se o amor (e até o ódio) se tornarem coisas mais leves, como nestas palavras que escreveste: “quem és, de onde vens, que me queres, pode ser, vem cá.” E que deviam ser gravadas num qualquer memorial do amor, porque além de serem uma sequência muito bela, devolvem uma certa leveza às relações amorosas que as torna menos obsessivas, doentias e complexadas, e contra a mim falo, e suponho que seja isso que me atrai no que escreves, um certo prazer, não em contemplar o igual, mas em avistar uma diferença onde nos reconhecemos, como num espelho invertido que nos devolve não aquilo que somos, mas aquilo que não sendo, talvez gostássemos de ser, talvez seja isso o fascínio. :)

     
  • At 12:44 da manhã, Blogger ana vicente said…

    É exactamente essa leveza - “quem és, de onde vens, que me queres, pode ser, vem cá.” - que queremos de volta quando estamos nessa posição. Uma leveza que só temos no momento em que nos apaixonamos. Depois vêm as coisas da vida: os horários, a família, o social e tudo o que é prático - tudo o que é vida vidinha.

    Todo e qualquer peso é atribuído ao outro em exclusivo, mesmo sendo nós a criá-lo.

    Mas fiquei demasiado encantada com o teu comentário para poder articular seja o que for. Ainda me pões a mandar beijos, tu queres ver...

    (aceito a tua tradução como válida porque de alemão ainda percebo menos do que de publicidade.)

     
  • At 1:19 da tarde, Blogger ana said…

    “quem és, de onde vens, que me queres, pode ser, vem cá.”
    não conhecia esta tua frase mas, de facto, estás de parabéns

    uma vez experimentei (sem grande sucesso) umas aulas de ballet. e a sra professora ensinou-me uma coisa que se tornou metafórica para mim: que a leveza dos bailarinos tem a ver com ter um centro forte, isto é, bons abdominais

     

Enviar um comentário

<< Home