naperon

Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

terça-feira, agosto 09, 2005

A cigarra e eu

Ao telefone, de férias no algarve, a Criança diz-me que viu dois grilos e uma cigarra. Reajo como se fosse a coisa mais extraordinária do mundo, claro! EEEEEEEEHHHHH que fixe, dois grilos e uma cigarra. Ele continua e diz-me que a cigarra só tinha uma perna. Eu penso "que nojo!" e digo "coitadiiiiiinha da cigarra". Ele responde, com bastante desembaraço e algum espanto perante a minha reacção, "mas a cigarra anda, tem só uma perna mas anda".

A Criança dá-me uma grande lição! Quais coitadinha, a cigarra anda, pá, 'tás parva?

Assim como podem evoluir as mentalidades se perpetuamos um preconceito tão feio como este perante a deficiência? Força, cigarra maneta, aguenta-te e mantém-te por aí! E, tu, Ana Vicente, devias ter vergonha... pareces uma formiguinha! Devia era ter perguntado se a cigarra ainda cantava.

8 Comments:

  • At 1:10 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    "Serpa sapo veio rápido para nós, fez-nos uma festa imensa – eu sabia que tu vinhas, pá, tinha uma fezada que vinhas e vais-me dar uma sorte bruta. Olhei-o com firmeza analítica mas ele tinha muita alegria em volta que não deixava ver bem. Era feliz ou coisa assim, que extraordinário. Deve haver no homem um limite até onde se é feliz ou infeliz, depois a lei já não funciona. Deve haver um espaço em que se pode ser uma coisa ou outra, depois já não há razões para a escolha e é-se uma coisa ou outra mas por cima dessa. Ser-se alegre na desgraça ou o contrário. Um cego ou aleijado ou assim ultrapassaram o problema da desgraça que já lá têm e então constroem a vida a partir daí e têm o aleijão a menos para se queixarem e são alegres ou tristes mas por cima disso, não sei. O Serpa sapo era um tronco sem pernas, ou só com dois cotos curtíssimos assente na cadeira de rodas e parecia-me alegre por cima desse tronco.
    (…)
    Havia um jogo rítmico nesse balancear de tronco e braços e era como se se revelasse outra ordem da Natureza e houvesse outras leis estéticas, pensei, num mundo fantástico de seres humanos sem pernas."

    (Vergílio Ferreira, na tua face)

     
  • At 12:09 da tarde, Blogger Sam said…

    Hum... Uma cigarra sem uma PERNA será uma cigarra maneta?

     
  • At 12:19 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Eehhh não sei se é mantea ou perneta realmente, mas torturada foi de certeza...e por outra criança quase aposto.

    Essa cigarra é de facto uma sobrevivente que deve odiar miúdos e falar deles quando se deita no sofázinho da terapia.



    Sandera

     
  • At 12:26 da tarde, Blogger ana said…

    a propósito do post do jctp lembrei-me que há uns quantos estudos que provam que os níveis de felicidade e de infelicidade dependem muito das mudanças que ocorrem na vida das pessoas.
    isto é, as pessoas habituam-se às coisas que lhes deixam de fazer diferença
    assim, passado algum tempo, o nível de infelicidade de alguem que perdeu uma perna, como a nossa querida cigarra, reduz e ela volta a sentir-se como antes... o que é bom!

    ... e agora as más notícias... o nível de felicidade daqueles que ganham "certos e determinados prémios" também atenua passado algum tempo, e eles sentem-se como se nunca tivessem ganho nada!

     
  • At 12:27 da tarde, Blogger ana vicente said…

    Lá está, a perna, a mão... o que interessa é o espírito!
    Será que coxeia? E quantas patas tem uma cigarra? E a pata da frente das cigarras chama-se mão, como os cavalos? Afinal quantas patas tem uma cigarra?

    Estive mesmo para escrever Pateta, mas depois percebi que não se lê "patêta", lé-se "patéta". Depois estava a chamar pateta à cigarra e a cigarra só não tem uma pata, não anda a fazer patetices. Além disso, o Pateta é um cão, um cão amigo de um rato mas um cão. Eu pensei nisso tudo, mas a verdade é que é um erro escrever um post sobre animais... Não domino o assunto, peço desculpa.

     
  • At 12:33 da tarde, Blogger ana vicente said…

    Ana, lá estás tu com essa fobia ao Euromilhões. Isso tem de acabar.
    Agora a serio, eu também ouvi falar de um estudo semelhante... que diz também que aquilo que uma pessoa é mantém-se em caso de adversidade ou boa fortuna. Isto é, alguém que era optimista antes de um acidente em que fica de cadeira de rodas, mantém-se optimista e uma pessoa pessimista, depois de ganhar o euromilhões, continua com o mesmo pessimismo.
    A questão è: o que somos nós?
    Se soubermos, se calhar já não teremos tanto medo de jogar no euromilhões (estou a meter-me contigo...eheh! tenho de pôr-te a jogar)

     
  • At 12:43 da tarde, Blogger Sam said…

    Tanta reflexão sobre o assunto para isto. Então e PERNETA?
    A cigarra perneta.

     
  • At 12:47 da tarde, Blogger ana vicente said…

    Perneta nao dava!
    Eu sei lá se era a pata de trás! E chama-se perna? e coxeia? não, não! não podes reduzir este assunto assim tãõ facilmente. Apresenta-me argumentos de um manual de zoologia e voltamos a falar.

    (hum... obsessiva-compulsiva, eu?)

     

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