A sesta
Como não me apetecia dormir nem ler nem fazer nada, pus-me a olhar para as pessoas. Ao meu lado estava um homem, na casa dos cinquenta anos, sentado numa cadeira de praia a ler o pequeno guia do Expresso. Ou, deveria dizer, a tentar ler. Pois, os olhos do pobre homem teimavam em fechar-se. Conseguia sentir o peso nas suas pálpebras e, à medida que os olhos se fechavam e abriam, a revista ia escorregando das suas mãos até cair definitivamente na areia, quando os olhos se fechavam por completo. Se uso o Pretérito Imperfeito, é porque foi um processo demorado e repetido durante algum tempo.
A revista caía na areia, ele acordava. Olhava para a frente a ver se alguém tinha reparado, abria muito os olhos e voltava a fitar as páginas do pequeno guia. Nem um minuto passava, até o processo recomeçar. Esteve nisso os bons 20 minutos que estive a olhar para ele. Ao princípio, estava divertida, mas depois comecei a desesperar. Que raio, por que é que o homem não se encosta simplesmente e aproveita o soninho bom de praia?! Que fixação é esta em ler o guia do expresso, que aliás nem tem nada para ler?
Que desconsolo, pensei. Estive mesmo para ir ter com ele, abaná-lo e gritar: RELAXE, senhor! DURMA À VONTADE QUE NINGUÉM QUER SABER. A SUA MULHER ESTÁ A DORMIR! POR QUE NÃO HÁ DE DORMIR TAMBÉM?!
Mas de nada adiantaria. Não entendo por que é que gritar a alguém "relaxe" não faz essa pessoa relaxar...
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