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Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

segunda-feira, janeiro 31, 2005

Sansão e Dalila - versão norte-coreana

A estória bíblica de Sansão e Dalila já todos conhecem. Todos nós, de uma forma ou de outra, sofremos com o pobre Sansão, que viu a sua força desvanecer-se com o corte de cabelo mais arrojado (uma antevisão bíblica do "facto"?) que a Dalila (nome de cabeleireira) lhe executou.
Nesses tempos, nesses mitos, cabelo comprido equivalia a força, mas os tempos mudaram e os mitos também e, na Coreia do Norte, pensa-se de maneira diferente.
Todo este preâmbulo para vos contar a última da Coreia do Norte. Ao que parece, há por lá uma lei que proíbe os homens de terem cabelos mais longos que cinco centímetros. Abre-se excepção para os carecas e para os senhores com mais de 50 anos, que podem estender os cabelos para os sete centímetros. Não perguntem porquê... se houvesse lógica nesta história, não a contaria.

Antes que comecem a achar que estou a inventar, cliquem no link do título e descubram a notícia publicada na última página do Público de 24 de Janeiro.

Ah pois! É verdade! Na Coreia do Norte, não se cai em estórias bíblicas para Hollywood adaptar, vai-se directamente à questão: deixa-me cá medir o teu cabelinho, não vá ele atentar contra "as emoções e o gosto do nosso povo"! Até se fazem programas de televisão à caça do gadelhudo!
Vai daí e o pessoal (com a mania que é desenvolvido) brada: preconceito! Quais preconceito, senhores, é ciência, pois vocês não sabem que "o cabelo longo tem efeitos prejudiciais para a inteligência"? Sim, pois "os nutrientes gastos pelo cabelo demasiado longo roubam a ração de energia que caberia ao cérebro"!
Provado pelas autoridades científicas da Coreia do Norte.

Eu, cá por mim, digo: nunca gostei de cabelos compridos (bom, tirando aquela fase em que o Bono Vox usava e, vá lá, havia o grunge e tal), nem em homens nem em mulheres (sim, não é um factor prioritário para exclui-las de uma short-list de beleza, eu sei, olha a Julia Roberts).
Mas, de facto, as emoções de um povo não são para contrariar. Qualquer dia, em Portugal, começam as pessoas a falar abertamente das coisas e a legalizar o aborto e (há gente para tudo) a legalizar casamentos homossexuais. Por isso, é preciso ter cuidado com estas aberturas de mentalidade. As emoções de um povo quem as alcança, quem as domina? É trabalho para guerreiros ou meninos, talvez?

A olhar para o espelho, constato o óbvio: tenho de cortar o cabelo... mas está tanto frio! E as minhas orelhinhas, o que diriam de tal atentado? Será que seriam capazes de mudar? Será que a inteligência que ganharia ao cortá-lo não possibilitaria que as emoções profundas das minhas orelhas (também elas do povo) aceitassem a realidade e assumissem de uma vez olha a vida é assim?

Perguntas, apenas perguntas. Quem deu a estes governantes as respostas? Como sabem eles o que o povo quer ou pensa?

Antes de respondermos, antes de 20 de Fevereiro, cortemos o cabelo.

1 Comments:

  • At 8:54 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    o meu bem haja ao novo jornalista do público cujo texto está linkado no título do post da ana...

    eu cá, aspiro a umas barbas homéricas. já a carecada, virá com as estiagens.

    beijo (com bigode e pera)

     

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