naperon

Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

sábado, julho 16, 2005

Outdoors de mau gosto

Publicidade de mau gosto é o que não falta. Aliás, muitas vezes chega a ser um redundância. Mas, em tempos de campanhas políticas, a coisa descamba e chega a pontos do insuportável. Há alguns exemplos que gostaria de partilhar convosco.

Comecemos pela margem sul. Há um cartaz do candidato do PS que diz "Almada está parada no tempo. É tempo de seguir em frente". Eu não sou da margem sul, mas conheço relativamente bem Almada (e o seu concelho) para dizer que este headline é um autêntico tiro no pé. Se há coisa que Almada não está é parada no tempo. Gosto da margem sul, gosto da malta da margem sul, vivi grandes momentos da minha vida na margem sul (ainda ontem). Um candidato que diz isso de Almada põe toda a gente contra ele - tenho a certeza que a maior parte dos eleitores do concelho se sente ofendida com este raciocínio. Como se não bastasse, o cartaz tem uma foto de fundo a preto e branco que parece Cacilhas dos anos 40. Vai-se a ver e o senhor não deve andar a sair muito.

Não directamente relacionada com as autárquicas, há ainda o triste cartaz do BE, com a foto do Sócrates enraivecido, mais parecendo um animal selvagem, que diz "Foi para isto?". A frase é o resultado de "aumento do IVA, aumento da idade de reforma" e outra medida que agora não me lembro. A foto e o headline são altamente demagógicos e não evocam nada de positivo à estratégia do BE. E sabem bem que não sou suspeita...

Cartaz de Isaltino Morais em Oeiras - Uma foto com uma rapariguinha com uma imagem de fundo em fundo (será uma praia?) com a frase "Quero Oeiras mais à frente". Sem comentários! Haja vergonha.

Político, mas não partidário, e completamente inconsequente, há a campanha do Continente. "Os portugueses merecem 0% de IVA". Merecem? Grande ideia esta de pôr em causa todo o nosso sistema social em prol de uma suposta justiça para os portugueses. Em termos publicitários, a ideia funciona e, como estratégia de marketing, é brilhante. Os consumidores têm um benefício directo evidente: recebem um vale com o valor do IVA para fazerem mais compras no Continente e o hipermercado não perde rigorosamente nada, antes ganha mais movimentos.

Contra a minha preferência e ao contrário do que a maior parte das pessoas diz, acho que o cartaz do Carmona Rodrigues está perfeito em termos de comunicação. A pose, o design simples, a escolha do vermelho, a empatia com os eleitores através da frase na primeira pessoa do plural e a não referência ao PSD. Um cartaz inteligente que, espero, não dê frutos.

4 Comments:

  • At 10:47 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Vou pegar apenas no exemplo do Carmona Rodrigues porque a primeira vez que vi o cartaz fiquei chocado (para não dizer revoltado, enojado, humilhado). O cartaz é um exemplo típico do anti-intelectualismo primário, que hoje faz escola e é moda, e da arrogância, não dos miseráveis mas daqueles que se alimentam (e a alimentam) dessa miséria. O cartaz surge em nítida oposição ao filósofo (cuja arrogância também não ajuda, mas a perversidade infiltra-se por todos os lados), ele, o Carmona, é o homem da acção, da prática, do fazer, enquanto o outro seria o da reflexão, da teoria, e do saber (repara que o problema aqui não é apenas o facto desta imagem ser falsa, é também a inversão de valores que ela contém). Ele é o homem que arregaça as mangas, que se junta à plebe (daí o uso do plural), Vamos a isto Lisboa. A besta quadrada que hoje governa os Estados Unidos também disse em plena campanha eleitoral que desde que tinha saído da Universidade (qualquer pessoa sensata perguntaria para que é que ele lá entrou. Pior: como é que ele lá entrou.) nunca mais tinha aberto um livro. Ora isto dito para o seu bem amado eleitorado cai que nem mel. O gajo é dos nossos. O gajo é como nós. O senhor Carmona não é diferente. Ele sabe, ou os especialistas do marketing, da publicidade e de toda essa tralha de pensamento para o mercado, sabem que o que vende é esta arrogância anti-intelectual, este populismo miserável que dá ao povo, essa aberração, aquilo que ele quer, ou deve querer, ou tem que querer.

    Claro que se me falas apenas em termos de pensamento para o mercado, então concordo que a ideia do cartaz é genial. E outra coisa não esperava dessas mentes iluminadas que pensam e decidem estas coisas. Eu não sou intelectual. EU NÃO SOU INTELECTUAL. E sabem que mais: o outro candidato é intelectual. ELE É INTELECTUAL. Eu não penso, eu ajo. Eu não perco tempo com livros e ideias e ideologias e o raio que os parta a todos, a esses arrogantes de merda que julgam que são mais do que vós, que sabem mais do que vós, que vos querem dar lições e guiar-vos. Que se fodam todos. Eu sou como vós. Eu sou dos vossos. Em mim podereis vos reconhecer. E o que é o voto afinal senão um processo de reconhecimento. Este é que se baba como eu, este é que odeia os intelectuais como eu odeio, este é que não é maricas como eu não sou, este é que gosta de gajas como eu, este é que fala uma linguagem que eu entendo, este é que me diz o que eu quero ouvir, este é que me passa a mão pelo pêlo, este é que é dos meus, neste é que eu me reconheço. Vamos a isto Lisboa! VAMOS A ISTO LISBOA!

    Carrilho, amigo, não te esqueças, no meio desta tralha toda, tu tens a Bárbara. Sim, és tu quem tem a gaja boa. Aquela de que o Coelho gosta, de que o PS em peso gosta. A grande, a deliciosa, a fascinante, a nunca por demais louvada Bárbara. Ela é o teu maior trunfo. Usa-a. Para o bem de todos nós usa-a. Mas não no papel da mãezinha. Usa-a como nós a merecemos e queremos. Não esqueças: ÉS TU QUEM TEM A GAJA BOA. Aproveita. Eu já me estou a babar.

     
  • At 12:31 da manhã, Blogger ana vicente said…

    É como eu disse, jctp, espero que a inteligência do cartaz não dê frutos. Sim, estava a falar de marketing.
    Acho que a leitura que fazes do cartaz é correcta, para não dizer muito boa. Mas não era disso que estava a falar. Repara que o tom directo da mensagem não chega aí e duvido que essa seja a mensagem recebida. Acho que já estás um passo mais à frente. Acho, sim, contigo, que este é um cartaz no qual as pessoas se podem reconhecer - mérito de quem fez a campanha, de quem escolheu não ter símbolos partidários, de quem quer transformar o aparente cinzentismo do candidato em carisma.
    Sei pouco sobre o Carmona Rodrigues, sei que me insira mais confiança do que o Santana. Gosto que seja menos vaidoso que o Carrilho, mas não desejo que ganhe as eleições.
    Sei também que o Carmona Rodrigues foi (não me parece que neste momento exerça) professor universitário e constou-me que as suas aulas estavam sempre cheias - não quer dizer nada, bem sei. Isto para dizer que é com certeza um homem que lê. Mas não deixa de ser um político. E, lá está, sabe-se lá porquê, inspira-me confiança. Os cartazes reforçam essa ideia, sublinham-na - é um bom cartaz, está bem conseguido por isso. E não pelas considerações acerca da teoria que nele lês.
    Votarei nele por causa do cartaz? Nem pensar. Nem é pela elegância do design da homepage do Carrilho que nele votarei. Dá uma espreitadela em http://www.manuelmariacarrilho.com/home.html e lê o editorial e depois diz-me o que pensas sobre aquilo e vê se aquela teoria te interessa. A arrogância de Carrilho fê-lo dar tiros no pé enquanto pensava manipular as massas. O low profile do Carmona fá-lo conquistar pessoas como eu, que nunca votarão nele, mas que admiram a simplicidade daquele discurso.
    O Carrilho foi, para mim, o melhor ministro da Cultura que tivémos até hoje. Mas não suporto a sua vaidade e desconfio de tanta soberba, semelhante à de um José Mourinho. Mas, para acabar com outro cartaz (do BPI), todos queremos "ganhar como ele". Em relação ao Carrilho todos queremos uma "gaja boa" como a dele. Esse acabará por ser o argumento vencedor, parece-me.

     
  • At 11:42 da manhã, Anonymous Anónimo said…

  • At 3:23 da manhã, Anonymous Anónimo said…

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