naperon

Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

domingo, outubro 02, 2005

Spicy Spike

A nova joint do Spike Lee, She hate me, é disperso, longo, por vezes estranhíssimo e bizarro, há quem diga até que é pouco credível e que tem pirosadas.

No entanto, acho-o brilhante. Tem um genérico fantástico.
Uma ideia de amor utópica perpassa. Uma ideia de uma América corrompida e a convicção estampada da defesa da liberdade. Um grito contra Bush. Um piscar de olho às diferenças, sempre tão ricas no mundo de Spike Lee.
A confiança perdida e a confiança reencontrada à luz de uma relação improvável, mas no entanto tão paradigmática a meus olhos. A traição e a entrega. A salvação de um homem passa pelo amor e pela verdade.
O mundo está diferente. É isso que Spike Lee nos diz. Reconheço essa diferença no meu dia-a-dia e faço parte daquele imaginário simplesmente por estar viva. Há negros yuppies e italianos que gostam de rap. Há desejo que não se coaduna com um estereótipo.
Spike Lee subverte. Subverte sempre. Desta vez, subverte o género, subverte a ideia de objecto sexual, subverte os quadros culturais e é "básico" na sua raiva a uma certa América. Apresenta-nos os maus da história e os cuspidos da sociedade. Dá-nos a cor do dinheiro, eleva-nos utopicamente para a esperança de um amor simples.

O novo do Spike Lee é imperdível. E se, durante o filme, ficava por vezes perplexa e desconfiada, a verdade é que, no fim, não conseguia pensar noutra coisa se não em como era bom.