Bláblábláblá
Quando falo com uma velhinha, com um desconhecido integrado num ambiente estranho, com um conhecido a quem não me quero revelar, a minha voz, o meu tom, até a minha expressão, mudam. Digo frases genéricas que começam com "pois, de facto" ou "sabe que as coisas às vezes" ou "é verdade". Depois há a conversa fora jovem, igualmente genérica, igualmente sem o meu tom próprio, que varia entre "bem, que cena" ou "ya, isso é bué marado" ou "tás a ver?". Faço a coisa com algum esforço, mas lá me vou conseguindo entender com o mundo, sem me mostrar minimamente e sem dar um passo em falso no blábláblá social.
Ora bem, cá me vou safando. Mas há pessoas que parece que só tagarelam. Até aí, tudo bem. O que me faz aflição é a afinidade que se constrói entre pessoas, exclusivamente baseada em jogos de conversa fiada. O tempo, a bola, as compras, os rapazes, as raparigas, o governo, sempre tudo de uma forma geral, superficial e pouco comprometedora. Não tenho nada contra esses temas, pelo contrário - até se pode discutir o desarmamento nuclear dessa forma. O que me impressiona é a capacidade aparentemente inesgotável de ter uma conversa incólume para todas as partes, sem parecer que nos estamos a borrifar.
Na escola, havia amizades baseadas nisso. Agora, no local de trabalho, é vê-los a passar: grupos de homens no yada, yada, com uma empatia visível; grupos de mulheres no blábláblá que parecem melhores amigas.
É difícil entrar na conversa. Cada vez é mais difícil. E tenho optado pelo boicote ou pelo silêncio. Mas sei que tenho umas quantas relações baseadas no "faz de conta que estamos a comunicar".
1 Comments:
At 12:56 da manhã, pita said…
É verdade sim sinhora.
Uma vez quando era jovem, puz-me à porta da escola a dizer aos conhecidos uma unica palavra, "Então".
Esta palavra é de uma potência tal que acho que num interrogatório bastava dizer "Então" que os suspeitos debobinavam tudo.
Experimentem é um teste divertido.....
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