naperon

Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

quarta-feira, maio 04, 2005

Bláblábláblá

Nas relações com as pessoas, houve sempre algo que me fez impressão: a conversa fora. Nunca fui muito boa a jogá-la, mas desde cedo reparei que há quem o faça brilhantemente. Por exemplo, qualquer pessoa que já tenha falado normalmente comigo, sabe quando estou a falar por falar, mas há outras pessoas -as tais especialistas em conversa fiada- em relação às quais nunca se sabe. Há pessoas que sabem mesmo jogar conversa fora, conversa de faz de conta.

Quando falo com uma velhinha, com um desconhecido integrado num ambiente estranho, com um conhecido a quem não me quero revelar, a minha voz, o meu tom, até a minha expressão, mudam. Digo frases genéricas que começam com "pois, de facto" ou "sabe que as coisas às vezes" ou "é verdade". Depois há a conversa fora jovem, igualmente genérica, igualmente sem o meu tom próprio, que varia entre "bem, que cena" ou "ya, isso é bué marado" ou "tás a ver?". Faço a coisa com algum esforço, mas lá me vou conseguindo entender com o mundo, sem me mostrar minimamente e sem dar um passo em falso no blábláblá social.

Ora bem, cá me vou safando. Mas há pessoas que parece que só tagarelam. Até aí, tudo bem. O que me faz aflição é a afinidade que se constrói entre pessoas, exclusivamente baseada em jogos de conversa fiada. O tempo, a bola, as compras, os rapazes, as raparigas, o governo, sempre tudo de uma forma geral, superficial e pouco comprometedora. Não tenho nada contra esses temas, pelo contrário - até se pode discutir o desarmamento nuclear dessa forma. O que me impressiona é a capacidade aparentemente inesgotável de ter uma conversa incólume para todas as partes, sem parecer que nos estamos a borrifar.

Na escola, havia amizades baseadas nisso. Agora, no local de trabalho, é vê-los a passar: grupos de homens no yada, yada, com uma empatia visível; grupos de mulheres no blábláblá que parecem melhores amigas.

É difícil entrar na conversa. Cada vez é mais difícil. E tenho optado pelo boicote ou pelo silêncio. Mas sei que tenho umas quantas relações baseadas no "faz de conta que estamos a comunicar".

1 Comments:

  • At 12:56 da manhã, Blogger pita said…

    É verdade sim sinhora.
    Uma vez quando era jovem, puz-me à porta da escola a dizer aos conhecidos uma unica palavra, "Então".
    Esta palavra é de uma potência tal que acho que num interrogatório bastava dizer "Então" que os suspeitos debobinavam tudo.
    Experimentem é um teste divertido.....

     

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