naperon

Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

sábado, junho 04, 2005

Girl talk ou Girlie is my middle name ou Entra na conversa

Demorei tempo a aderir à denominada "girl talk"... por vezes, nem assistir conseguia. Era-me difícil, impossível até. Não entendia.

O que é a girl talk, perguntam vocês? É tudo aquilo que se imagina e ainda mais. Ou seja, não estou aqui para reforçar o estereótipo, do género as raparigas falam disto e daquilo, e os rapazes de aqueloutro e mais não sei o quê. Não, não pensem isso de mim: sou progressista e feminista e pela igualdade dos géneros, etc., etc.

Chamo Girl Talk às conversas que só mesmo as miúdas podem ter: menstruação, depilação, ginecologia e sensações associadas, já para não falar da gravidez, parto e amamentação... Depois há àquelas (a que chamaria conversas Girlie) que preconceituosamente as pessoas atribuem como exclusivamente das mulheres, como relações, cremes, compras, culinária, novelas, roupas ou homens. Mas disso um homem também pode falar - e fala com toda a certeza - sendo que há muitas mulheres que simplesmente não falam disso. É óbvio que qualquer homem pode ter uma conversa sobre menstruação ou aleitamento e até pode dissertar bastante bem sobre o assunto, mas não é disso que se trata, não sejam picuínhas.

Pois bem, acontece um fenómeno (a que tenho assistido ao longo da vida) das miúdas começarem a falar dessas coisas e não haver limite: girl talk ou mesmo conversas girlie. Eu poucas vezes consegui. Falar de homens não conseguia e de depilação muito menos porque seria assumir que tinha pêlos. Às vezes, é difícil assumir quem somos, como se se tratasse de uma falha não gostar assim tanto de homens ou ter pêlos.

Durante a adolescência, as minhas amigas não falavam disso comigo e eu pensava que isso seria geral. Só mais tarde percebi que eu não dava espaço para essas conversas. Depois comecei a ter o privilégio de assistir às conversas, embasbacada, como se tivesse entrado de repente no mundo das mulheres adultas, mas ainda não me achava no direito de falar girlie ou mesmo girl talk. Às vezes, é difícil assumir quem somos, como se se tratasse de uma raridade preciosa não ver as novelas ou não tomar a pílula.

Cresci entretanto. E agora acho que posso falar do que quiser. E quando as miúdas falam entre si - seja girl talk seja girlie - é bom sentir que faço parte, mesmo que as coisas sejam todas diferentes entre nós. É a isso que chamo girl talk: gajas a falarem entre si do que quiserem, mas com aquele leve convencimento de que estão a falar de algo que só elas podem falar.

Não há nenhuma conversa que me possa excluir do meu género, por haver assuntos em que não estou à vontade. Um homem não deixa de ser homem (nem passa a ser gay) por falar de um rabo de outro homem, nem uma mulher deixa de ser mulher por não saber que skip é o melhor detergente para a roupa. Andam-nos a enganar e tornam-nos ainda mais difícil assumirmos quem somos. É por isso que digo: entra na conversa, homem ou mulher, muda-a, subverte-a, alinha, concorda, discorda, mas não deixes de falar.