Pode alguém ser quem não é?*
Há quem queira ser o Homem-Aranha, há quem queira ter a mesma energia que outra pessoa tem, há quem sonhe com o Euromilhões, há quem deseje voar. As limitações, as nossas, as humanas, e o desejo de ultrapassá-las com muita hybris (esclarecimentos aqui), foi o que fez a evolução, as grandes descobertas, blábláblá... não vou entrar por aí. O que é certo é que nós, banais humanos, não conseguimos ultrapassar a maior parte das nossas limitações.
Isto a propósito de super-poderes. Eu queria mesmo era ter super-poderes. Não me basta ser o anti-herói, quero ser uma heroína! Super heroína, com poderes bons, à séria (não me bastava esticar-me toda, era necessário também ter muita força, alta velocidade, voar, dar saltos magníficos, invisibilidade, etc.). Muito à Ally McBeal, é certo, a maior parte de nós (estarei a ser pretensiosa) imagina grandes cenas possíveis com poderes mirabolantes. Mas é apenas uma fantasia e isso, em vez de ser uma frustração, pode ser uma benesse. Não ter o dom da multiplicação dos pães é triste... mas não esborrachar a cabeça de alguém sempre que nos apetece é muito bom.
Agora, toda a gente tem de ter super-poderes, ou anseia ter ou obrigam-nos a ter. Ninguém nos favorece com o dom da ubiquidade e como eu desejava tê-lo quase todos os dias, principalmente para não falhar naquilo que considero mais importante. Falho muitas vezes.
Falhamos, mas também por isso nos superamos, nos aceitamos, nos gostamos.
E, que diabo, começo também a irritar-me a mim própria: só queria mesmo falar de super-poderes, explodir cabeças, saltar no topo dos edifícios e parar catástrofes naturais. Aceito a limitação ou supero? Será crónico?
*Título roubado ao nosso Godinho.
6 Comments:
At 2:03 da manhã, Anónimo said…
Depois de alguma experiência de vida, cheguei à conclusão que só conseguimos aquilo que queremos, quando não o queremos para nós.
A vida é irónica.
A divina comédia.
At 2:27 da manhã, Anónimo said…
"Só conseguimos aquilo que queremos, quando não o queremos para nós."
Raios! Eu queria era ser o autor desta frase. Too late! :)
At 1:18 da tarde, Anónimo said…
aceitar as nossas limitações e as dos outros é o que é de facto gostarmos de nós e dos outros, porque essa é a parte difícil da coisa.
acho que assumir as limitações é, de facto, meio caminho para as ultrapassar. porque se aceitarmos que não somos capazes de algo, e isso não faz mal (e isto, porra, se é difícil), descobrimos que temos por nós um respeito maior.
às vezes faz bem olharmos para dentro e descobrirmos que ainda somos crianças e cuidarmos de nós como cuidamos delas quando sabemos ser doces: acarinhando, dizendo: não faz mal, pra próxima consegues, eu acredito em ti.
boa sorte ana!
At 4:09 da tarde, Anónimo said…
Então e a Lena d`água?
"eu só estooouuuu bem aaaonde não estou e eu só queeeeeero ir para onde não vou".
:) e milhares de indivíduos a cantar a letra em sintonia.
At 12:03 da manhã, ana vicente said…
A bem do rigor, a Lena d'Água veio depois: essa canção é do grande António Variações.
At 8:34 da tarde, Anónimo said…
Eu por exemplo sou a super-mulher. Agora estou mais magra, já mandei apertar o cinturão. É uma pena não saber coser: é uma limitação que sai cara...
SM
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