naperon

Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

quinta-feira, dezembro 30, 2004

Vai acima, vai abaixo, vai ao centro, vai para dentro

O ano está a acabar. É tempo de balanços, de personalidades do ano, de acontecimentos que nos marcaram a nós e/ou à humanidade, de parafernálias, que se resumem única e exclusivamente às perguntas mais misteriosas do mundo: de onde vimos? onde estamos? para onde vamos?
Ora, 2004 não foge à regra. E há anos que correm bem, outros piores, outros assim-assim. 2004, para mim, foi uma grande revelação.
Em tempo de balanço, há quem seja pessimista, há quem seja optimista e depois há os que dizem que são realistas (normalmente os pessimistas). É tudo a mesma ilusão. Não há só céu e inferno. Há o purgatório de poder olhar para as coisas. E há ter sorte ou não. Isso é terrível, eu sei.
Ser cínico é aceitar a vida como ela é, com a distância devida, e esperar ter sorte. Ter o máximo de sorte e o privilégio de viver à procura da verdade das coisas. Nos tempos mais adversos, as pessoas revelam o seu melhor. Constrõem-se destruindo. Destrõem-se construindo. Não há limites para o sofrimento humano, é uma realidade. Há limites para a felicidade, sim. A condição humana é mesmo assim. No entanto, não consigo deixar de acreditar. Todos os dias são bem vindos. 2005 é bem vindo por mim.
A vida umas vezes vai acima, outras abaixo, depois ao centro. Mas quando vai para dentro, não há nada melhor. Ao contrário dos brindes, quando vai para dentro, volta para fora muito melhor.
O que eu desejo a todos é o melhor que a realidade tiver para dar, mas principalmente desejo verdade para a vida, uma espécie de vislumbre da resposta às perguntas essenciais da vida.

quinta-feira, dezembro 23, 2004

O espírito de Natal

Como a minha boa amiga Sandera, eu também gosto muito do Natal. Gosto das prendas, gosto do stress, gosto da família, gosto do amor e da saudade. Gosto das canções idiotas e principalmente do "Last Christmas" dos Wham. Gosto dos emails apinhados de postais giros, ou feios, ou simplesmente absurdos.
Gosto dos excessos do Natal. Mesmo no consumismo. Como dizia uma pessoa sábia, os portugueses costumam dar comida para mostrar que gostam de alguém. É mais fácil encher um saco de chouriços do que dizer "gosto muito de ti", já para nem falar do mais difícil "amo-te". As prendas também são assim.
Gosto das pessoas todas juntas. Dos amigos que se juntam e trocam prendas de 2 euros e meio. Das festas com Karaoke com prendas a 5 euros.
Gosto do bacalhau. Gosto da "Música no coração".
Gosto das horas que ficamos fechados numa casa sentados à mesa e depois no sofá. Gosto de me lembrar das pessoas que já não estão cá. Gosto de sentir saudades desse tempo. Gosto de ficar comovida.
Gosto das crianças. E principalmente de uma que revolucionou os meus natais.
Gosto de todas as prendas, até aquelas que odeio. Gosto de prendas repetidas, as que dou e as que recebo. As que dou, porque quero partilhar algo muito meu. As que recebo, porque quer dizer que há algo que evidentemente quero e as pessoas sabem.
Gosto de ficar farta do Natal e depois perceber que está quase a acabar e ficar triste. Gosto do facto do Natal da vida adulta começar muito mais cedo, durar muito mais tempo e ser muito menos intenso, mas com mais vinho.
Gosto da família e da familiaridade. Gosto das piadas repetidas até à exaustão. Gosto de não gostar de Bolo-Rei. Gosto de azevias.
Gosto das decorações de Natal. E principalmente gosto do Natal por ser Natal e ter amigos e uma família que amo.
Gosto do Natal porque gosto de ouvir Bom Natal nas lojas. Gosto do Natal porque digo Bom Natal e desejo-o de facto.
Bom Natal àqueles que nos lêem. Bom Natal a todos os que amo.

domingo, dezembro 19, 2004

"A" prenda de Natal

A prenda para este Natal chama-se "Humanos". Não tenho dúvidas. Já comprei cinco cd's e gostaria, no fundo, de oferecê-lo a todas as pessoas que conheço como prenda suplementar.
Para quem não sabe, os humanos são Manuela Azevedo, Camané e David Fonseca (por incrível que pareça, consegue não irritar) a cantarem inéditos do António Variações.
Está lá a vida toda. Tudo o que precisamos para pensar e sentir. Ouçam, ofereçam, mudem de vida.

E a Manela, claro, é a melhor!
Viva o Variações, um homem à frente do seu tempo!

A auto-censura

Ultimamente tenho-me deparado com alguns problemas culturais da forma humana, ou pelo menos portuguesa, de as pessoas se expressarem. Tanto emocionalmente como socialmente, devo dizer.
Por exemplo, este blog. Como espaço de liberdade que é, à partida deveria ser a expressão daquilo que nos vai na alma (uma boa frase feita). Mas a verdade é que, de facto, há uma imposição própria que nos obriga a traçar limites que, no início, não acharíamos previsíveis e muito menos necessários. Há aquela história de um indivíduo lá para o norte que foi despedido, porque tinha um blog em que afirmava as suas posições políticas. Independentemente de ser verdadeira ou não, a história é significativa, porque coloca a problemática de saber quem nos lê e com que intenção.
Depois há outros limites claros. Sabendo que existe uma audiência virtual, cuja posição ou relação connosco desconhecemos, está presente na mente que há coisas emocionais/pessoais das quais não queremos falar, sob pena de alguns desses leitores comprometerem alguma coisa da nossa imagem. Enfim, não queremos mostrar as cartas todas e, nessa auto-censura, vamos deixando de escrever em momentos mais fortes da nossa vida pessoal e emocional.
Nem por isso deixamos de ser verdadeiros, mas há algo que se perde.
Socialmente falando, tenho identificado um problema comum a muita gente: a incapacidade em dizer o que se sente. É uma espécie de medo que invade as pessoas, impedindo-as de estabelecerem relações significativas com os outros, mesmo sem compromisso. Como se, ao dizermos o que sentimos, estejamos já a abrir uma porta para o compromisso ou para a ruptura.
Há a questão do sexo, por exemplo. No outro dia, discutia com um amigo a questão de falar ou não falar com a pessoa no dia seguinte. Esse meu amigo achava que, numa relação casual (não estou a falar de sexo com desconhecidos), não sentia necessidade de falar com a pessoa sobre o acontecido. Eu defendia o contrário, acreditando que o acto sexual, mesmo descomprometido, é um acto íntimo sobre o qual se deve falar e que abre a porta para outras camadas emocionais. E falar não para dissertar sobre os pormenores, mas para não deixar aspectos mal resolvidos.
No limite, eu defendo que ir para a cama com alguém significa começar uma relação com alguém, ou torná-la diferente. Não falo de começar uma relação amorosa, mas uma relação mais verdadeira. Encaro assim o sexo como uma forma de nos aproximarmos de alguém e não o contrário.
Pois, talvez seja ingenuidade minha. As pessoas não querem falar, não querem aproximar-se muito, têm medo. Eu também tenho - ninguém é perfeito - mas de que serve a vida se não tentarmos chegar mais rapidamente ao outro?
O medo onde nos levará, agora que começamos "a ter as primeiras rugas"?

quinta-feira, dezembro 02, 2004

E no dia 30 de Novembro, a liberdade sorriu

Toda a gente falou e fala do Santana. Eu não vou analisar muito. Já todos andam a falar disso.
Quando soube da queda, fiquei tão feliz que até me surpreendi com o meu entusiasmo - já não me lembrava como estava angustiada e asfixiada com aquela dupla em S.Bento. Sorri e nem quis acreditar. Os incompetentes oportunistas vão sair do seu poleiro.
Saí do trabalho a pensar que as pessoas na rua estariam aos gritos e que todos os condutores estariam a apitar.
É claro que rapidamente me apercebi que isso não se passava assim. Os portugueses estão deprimidos e são viciados: só apitam quando Portugal ganha um jogo do Euro2004 (bons tempos!) ou para mandar o peão sair da estrada. Mesmo com boas notícias como esta se retraem. Quatro meses de medo são suficientes a juntar ao tempo da outra senhora.
Valham-nos as eleições, porque acabam sempre com uma boa apitadela à volta do Marquês e servem para limpar a casa.

O conforto

Ter alguém que diga que vai passar a dor, a doença, que aqueça a cama, que vá à farmácia, que faça um chá, é razão fundamental para que muitas relações amorosas sobrevivam.
Quando estamos bem, somos livres e gostamos. Quando estamos doentes lembramo-nos de todas as ex-relações, desejamos intimamente que estivesse alguém na caminha connosco e imaginamos quem cuidaria melhor de nós. É inevitável.
O desconforto da doença atrai as outras mazelas emocionais. Não há medicamento que nos valha.