A snobeira é uma das coisas que mais odeio. Tenho uma visão muito clara daquilo que define um snob. Até desenvolvi, por minha conta e risco, uma oposição entre o snob e o arrogante (categoria em que, infelizmente, muitas vezes caio).
Um Snob é alguém que, em determinada situação ou assunto, acha que os outros, ou as suas posições, pontos de vista, etc., são piores que ele.
Um arrogante é alguém que, nas mesmas condições, acha que é melhor que os outros.
Parece a mesma coisa, mas de facto não é. Um arrogante é um megalómono narcísico, só depende de si, um snob é pequenino, depende dos outros. Um arrogante pode ser apenas estúpido, mas não sente que os outros são piores, ele é que está simplesmente acima.
Não pretendo fazer a defesa da arrogância. Pretendo apenas atacar a snobeira.
Tenho alguns amigos snobs, mas perdoo-lhes essa falha (lá está a minha arrogância), porque consegui fundar uma plataforma de entendimento emocional com eles.
Fora os meus amigos, abomino a snobeira. Acho um sintoma de grande provincianismo, que não associo à província geográfica mas à província mental. Aqueles que acham que não há mais nada para lá do mundo que conhecem é que são os verdadeiros provincianos. Em Lisboa, há tanto provincianismo assente na ideia de Capital, que se traduz no desconhecimento sobre a realidade do resto de país. Como a frase que uma vez disse, há muitos muitos anos, no meu provincianismo urbano "há cinemas em braga?".
Enfim...
Os snobs são piores que isto.
Os snobs dão-me cá os nervos. Os piores são os intelectuais snobs. São tão entediantes. Como o programa da Clara Ferreira Alves na SIC Notícias, que, independentemente daquilo que eles estão a falar, me dá cá um aborrecimento. Têm uma atitude tão pedante que é impossível ouvi-los. Têm aquele esgar de sobranceria que lhe tira qualquer possibilidade de encanto. Estão tão seriamente envolvidos consigo que nem o humor os parece salvar. É normalmente quando riem que a sua snobeira vem ao de cima, porque normalmente quando isso acontece estão a rir-se de alguém.
Muitos snobs se sentem com certeza iluminados. Para lá da atitude snob cultural/artística/intelectual, o que mais me chateia é a snobeira social. A snobeira social, que é estrutural neste país, começa com palavras como as "neste país". Há uma lista infindável de expressões, o "povão", a "parvónia", todas elas reflectindo o mal-estar de se ser português e "os portugueses", esses "portugueses" dos quais os snobs se excluem, como se fossem especiais, como se não dependesse também deles o estado dos "portugueses". Muitas pessoas que estiveram no estrangeiro partilham deste mal. E, normalmente, quando me falam de Portugal e dos portugueses, logo lhes digo: pior que um português só um português que viveu no estrangeiro.
Não sei por que os snobs me afectam tanto. Provavelmente porque também eu sofro com a possibilidade -irreal na minha mente arrogante- de haver alguém que ache que eu sou pior que ele.
Não há nada mais típico.