naperon

Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Sabes que algo está errado quando...

...estás num sítio público, começa a ouvir-se o famoso "Morango do Nordeste" na sua enésima versão, e alguém amigo te diz "esta canção é a tua cara".

Oh Deus, alguém me acuda!

segunda-feira, outubro 24, 2005

Em síntese

"É isso o que quero dizer: aprendi a viver comigo próprio. E gosto."

Henry Miller, O mundo do sexo

Ser amigo é...

Beber duas cervejas ao fim do dia, numa esplanada com frio. É contares histórias, rires. É ficares sério e ouvires confidências. É não falares a mesma língua, mas falares a mesma linguagem. É não teres medo de tocar sem ser mal interpretado. É afirmar o amor sem pudor.

É dizer "és uma pessoa espectacular", é ouvi-lo sem se sentir enganado.

Há dias em que estou apaixonada pelos meus amigos. Há dias em que, por sentir que esse é um amor tão raro, dou graças por tê-los. Dias que se fecham. Dias que não anunciam o seu amanhã.


Hoje o meu amigo K pagou-me duas cervejas. E valeram ouro. Como ele.

Para fazer hoje alguém contente, seja eu

O FIM DE TUDO

No começo era o fim
agora ai de mim
era bom, era a sós
agora ai de nós
como é que se sai
do eterno ai
como é que se faz
pela paz
que é o nosso bem camuflado
dá-se aquela de emancipado
e some cada um p'ra seu lado
o perfeito casal
habitué da columa social
estrilhou, estrilhaçou
vá lá saber-se porquê
vá lá saber-se porquê
O fim de tudo
é um recomeço
e olha, eu bem que mereço
tratar bem do melhor em mim
No começo, a paixão
agora essa não
era tudo demais
agora é só ais
que é do amor que aparecia
tão cru na fotografia
que é do amor que se fez
não volta mais a ser feito
vai-se de coração ao peito
cortar pela vida a direito
coração trivial
a afundar em água doce, água e sal
estrilhou, estrilhaçou
vá lá saber-se porquê
vá lá saber-se porquê
O fim de tudo
é um recomeço
e olha, eu bem que mereço
tratar bem do melhor em mim
No começo é para sempre
agora há quem lembre
a promessa a preceito
de peito ao ar, mão no peito
pelo jeito da mão
ainda é talvez sim, talvez não
mas o fôlego falha-nos
quem nos acode
a parte esquerda do peito explode
e o coração que gire e que rode
O fim de tudo
é um recomeço
e olha, eu bem que mereço
tratar bem do melhor em mim



Sérgio Godinho (versão com clã, of course)

Estou pálida

e ando a falar em grunhidos há 24 horas, mas hoje não posso deixar de vos dar um grande bem haja.
Obrigada aos que celebraram o naperon connosco.

Uma palavra especial para a coragem destas meninas, que conseguiram quebrar os limites da blogosfera e arriscar uma nova abordagem.

E para a prima inês que conseguiu abrilhantar tudo com a sua varinha de condão.

(e mais pessoal, para os meus paizinhos que foram um verdadeiro brilharete)

sexta-feira, outubro 21, 2005

Can't touch me!

Pode chover!
Posso passar uma manhã na segurança social e ser atendida por uma cavaquista, que se auto-denominou "laranja"!
Pode estar um trânsito estúpido!
Podem pôr a minha boa amiga de molho!

Nada me afecta: o naperon faz um ano!

A minha prima disse-me de manhã, perante a minha boa disposição, que parecia que o meu filho fazia um ano. Ou então que era o meu aniversário... mas se fizesse 5 anos. Apesar de ser cáustica, achei que tinha razão. Agora vou fazer a dança da vitória.

De molho

A minha boa amiga sandera pode estar doentinha em casa, engripada e tentando evitar medicamentos, mas também sei que está muito feliz por este nosso aniversário.

Está aqui comigo, com o naperon e com vocês. E, após diversos contactos telefónicos, posso dizer-vos que está sensibilizada como eu (muito!) e agradece as vossas felicitações.

coisa mai linda

Houve uma coisa nova neste ano, essa é que é essa. Um motor, um baú, um sofá, um ringue, um disparate, uma coisa, um blog.

Iamos pela estrada fora e a coisa já estava a matutar. E tu, boa amiga, honra te seja feita, disseste naperon. Estava feito. Escolher template e mais nada. Não sei quantos dias passaram, mas sei que estávamos perto de Sta.Apolónia. Não faço ideia para onde iamos. Também não interessa, porque aí tivémos a ideia.

A ideia do naperon. Não nos interessava nada saber o que era um blog. Era o naperon, pronto. Duas boas amigas fazem um naperon. Com muita renda em que se enredam diariamente. E se a nossa vida dava uma série, por que raio não havia de dar um blog?

Para mim, o naperon foi crescendo, crescendo até mais não. Até se tornar uma comunidade ou uma coisa viva, pelo menos. Um tempo qualquer, muito mais que um espaço. E faz sentido é contigo, minha boa amiga Sandera do coração. Por que nas entrelinhas, tu sabias tudo, sempre soubeste. Por que tu eras, és, toda a gente sabe e repito, a minha boa amiga. Caraças, como nos divertimos e como nos exasperámos e como te repito até à exaustão postei. Como perdemos a cabeça algumas vezes, como duvidámos que afinal a internet fosse esse espaço de liberdade e como nos deixámos de importar. Até ficar isto. Hoje sinto que temos uma bela casa onde nos visitam. As nossas visitas não amachucam o naperon, antes o compõem. Hoje sinto-me em casa. E é contigo que a ponho de pé.

Não sei como é que este post começou. Em que direcção ia. Um ano de naperon é de cair para o lado. Mas principalmente é um ano de vida. Em que um blog passou a ser personagem, mas que continuamos nós a fazer a série. E a vida revelou-nos algo extraordinário neste último ano, boa amiga. Às duas, muitas vezes, de formas muito diferentes.

Por isso, este ano é nosso. Por isso, o brinde que fizermos hoje/amanhã será em primeira mão para a nossa bela e boa amizade. Mas, cá para mim, esse brinde será a ti.

One fucking year!

Ainda não estou em mim, boa amiga!
Um ano de naperon. Estamos de parabéns!

Vou reflectir sobre o assunto...

(e comemorar até mais não)

quinta-feira, outubro 20, 2005

Almoçarando XV - Cúmplices

Eu e a minha boa amiga estamos a andar no Vasco da Gama, a querer fugir, quando duas miúdas a rirem-se e a conversar passam por nós, em sentido contrário.

Sandera (com cara de messenger) - Huh, que feias!

Eu (com cara de vómito) - Huh e adolescentes!

Sandera (enjoada) - Yacks!

quarta-feira, outubro 19, 2005

Green wing

Há o seinfeld, bem sei, o saudoso sexo e a cidade (oh carrie, miranda, charlotte e samantha!), mas, agora, há o Green Wing. E não há nada a fazer, estou conquistada!
Nem sei bem como hei-de descrevê-la. Diria apenas que as personagens parecem todos o Kramer à inglesa, mas são como nós. Hoje, havia um Cristo que aparecia nas janelas do hospital, médicos à porrada, um falso enforcado, enfim um disparate pegado. Mas, estranhamente (será de mim?), tudo aquilo faz imenso sentido.
A série passa-se num hospital e o mais importante são os jogos na sala de operações (que variam entre um quizshow sobre música pop ou a adopção de sotaques do norte de Inglaterra) e a tensão sexual. Sim, a tensão sexual é fundamental. Estão todos trocados, todos a tentarem foder com as pessoas erradas, todos malucos, mas sem sorte nenhuma. Fazem tudo, tudo, mesmo tudo. São completamente chanfrados. Deus, são a minha cara!

Adoro o Green Wing. Nunca mais vejo outra coisa na vida. I'm hooked!

"como sentir a vida à la miller sem com isso gastar todo o nosso dinheiro e o dinheiro dos outros em alcool e putas" - Post de encomenda

Sem jogo.

Perdidos e achados

"Por que somos nós tão cheios de reserva? Por que não nos damos em todas as direcções? Será por medo de nos perdermos? Enquanto não nos perdermos deveras, não poderemos esperar encontrarmo-nos. Pertencemos ao mundo, e, para entrarmos plenamente no mundo, temos que começar por nos perdermos nele. O caminho para o céu passa pelo inferno, diz-se. Não importa o caminho que tomemos, desde que nos deixemos de cautelas ao avançar."

Henry Miller, O mundo do sexo

Dúvida ao sindicato

Será que se me pagassem para escrever para o Naperon, eu teria tanto empenho, tanta disponibilidade mental, tanta vontade, tanto tempo, tanta ponta, tanto amor?
Ou seria como é agora com o meu emprego?

Metáfora de ouro II

És como os brindes da minha família: vai acima, vai abaixo.
Brindes que culminam no para dentro.

terça-feira, outubro 18, 2005

Post a piscar o olho ao flirt VII

UM A UM

Eu não quero ganhar
Eu quero chegar junto
Sem perder
Eu quero um a um
Com você
No fundo
Não vê
Que eu só quero dar prazer
Me ensina a fazer
Canção com você
Em dois
Corpo a corpo
Me perder
Ganhar você
Muito além do tempo regulamentar
Esse jogo não vai acabar
É bom de se jogar
Nós dois
Um a um
Nós dois
Um a um
Nós dois
Um a um
Nós dois
Eu não quero ganhar
Eu quero chegar junto
Sem perder
Eu quero um a um
Com você
No fundo
Não vê
Que eu só quero dar prazer
Me ensina a fazer
Canção com você
Em duo
Pouco a pouco
Me perder
Ganhar você
Esse jogo não vai acabar
É bom de se jogar
Nós dois
Um a um
Nós dois
Um a um



Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte

Tensão instalada

Das duas, uma:
- ou os gatos do pátio se desejam loucamente e estão em preliminares sado-masoquistas;
- ou o gato está a levar um enxerto descomunal da gata (mais velha mais sabida) por se ter atrevido a saltar-lhe para cima.

É que não vos passa pela cabeça a esquerda da pata da frente daquela gata. É cada gancho! Temos dominatrix.

Gostamos mesmo da vida como ela é?

Quando foi a campanha de lançamento da nova imagem da tmn, havia mupis espalhados pela cidade com diversos post-it's. Eram azuis e tinham frases que começavam com "gostamos de...", para culminar no "gostamos da vida como ela é". A minha prima arranjou-me duas preciosidades: um "gostamos de gays" (mais vulgar) e um genuíno "gostamos de naperons". Colou-os no meu carro e por lá estão e estarão enquanto não cairem.

O que é certo é que estão bastante visíveis, do interior e do exterior do auto.

Já duas vezes tive a reacção de pessoas mais velhas que, com cara de messenger, me alertam para a possibilidade de algum gandulo, algum macho latino, alguma má pessoa me dê cabo do carro à conta disso. Eu faço sorriso amarelo e penso "os naperons terão esse efeito nas pessoas?".

Não o fazem por mal. De facto, preocupam-se e as intenções até são boas, mas o medo, o medo fala sempre mais alto.

Gostamos da hipocrisia, do preconceito, do medo? Gostamos mesmo da vida como ela é? Porque a vida tem esse lado, mesmo naqueles que mais gostamos e que até gostam do nosso naperon.

Sim, acho que gosto da vida, como ela é e quando é mais vida. Mas isso não quer dizer que deixe esse lado vencer. Por isso, se me quiserem partir o carro, olhem: "gostamos de carros partidos".

segunda-feira, outubro 17, 2005

Aos celibatários

Estreia daqui a quatro dias o filme que fui ver esta noite, no último dia da Festa do Cinema Francês, As Bonecas Russas.

É a continuação da "Residência Espanhola", mas isso não é importante. O que é importante é este filme. O Xavier tem agora 30 anos, ou vai a caminho disso, e está sozinho e, é claro, está todo partidinho por dentro*. Ou não tivesse um sonho de amor por concretizar, ou não fosse tão susceptível à beleza, ou não ansiasse da vida o mesmo que frustra nela. Muito ao nosso tom.

Sinto que a minha geração se define, entre outras coisas mais existenciais/sociais/ culturais/etc., por esta solidão. (Se coloco a palavra solidão em itálico é por uma questão de pudor, tentando manter as distâncias devidas dessa palavra tão pungente.) Uma solidão que se desdobra em desejo (sem itálico), insatisfação e procura. A caça está sempre presente, tentando disfarçar esse outro desejo, tão íntimo e tão (in)confessável, de encontrar o amor. De agarrá-lo, de mantê-lo perto. Esse outro desejo nascido da idealização, mas também, paradoxalmente, de um certo desencanto.

Podemos deixar de acreditar, mas nunca deixamos, é claro, de acreditar. Perseguimos a beleza, entregamo-nos ao desejo, deixamos as coisas passar, fugimos, tudo em contradição. A contradição fundamental que nos define. Queremos, mas temos medo. Arriscamos, mas somos cegos.

Aos celibatários, pois bem, e aos pouco castos no seu celibato principalmente. Àqueles que conheço e aos que não conheço. Àqueles que, como é dito mais ou menos no filme, pensam "andamos sempre à procura do amor. depois encontramos alguém e perguntamo-nos se é mesmo. e é só confusão. para quê? para quê o amor?". Porque, mesmo assim pensando em qualquer momento de desespero (alcoolizado ou não), a verdade é que sabem que ainda acreditam. Para eles, desejo toda a sorte, mas principalmente desejo uma boa escolha.



* Expressão criada e desenvolvida durante as férias do cadafaz, por um casal e um trio de celibatários.

domingo, outubro 16, 2005

Problema de expressão

"É difícil e quase absurdo explicar a pessoas emocionalmente aleijadas que o fundamental é exprimirem-se. Não aquilo que exprimem ou o modo como o exprimem, mas o simples facto de se exprimirem a si próprias. Dá vontade de exortar as pessoas a tentarem seja o que for, desde que isso contribua para a sua auto-libertação. Muitas vezes nos disseram que não há nada que seja, em si, errado ou mau. É o medo de fazer coisas erradas, o medo de cometer este ou aquele acto, que é errado. «O medo é deixar de semear por causa dos pássaros.»"

Henry Miller, O mundo do sexo

sábado, outubro 15, 2005

A desenhar

Pela manhã, tínhamos o "trabalho" de desenhar uma folha A2. Um dos objectivos era desenhar o foguetão do Tintim. O mais difícil, segundo ele, eram os quadrados vermelhos. Lá nos empenhámos (não tenho talento especial para o desenho, aliás não tenho talento nenhum para o desenho) e a coisa fez-se. Eu desenhei o fogo e o fumo a sair de um lado. Ao puto, estava designado o outro. Começa a explicar-me como vai fazer: primeiro, tenho de desenhar o calor (uau!, que génio esta criança), mas o calor não se vê (já tem pensamentos ontológicos, deus!) por isso vou pintar o calor a branco (verdadeiro artista).

Lá continuámos a desenhar. Depois pergunta-me se os foguetões têm botijas. Botijas??????? Sei lá se os foguetões têm botijas. Sai-me um devem ter, devem ter e lá faz ele a ligação do gás entre a parte inferior e superior do foguetão. Diz-me que tenho de pintar por dentro e eu começo. E agora, o que vais desenhar?, pergunto. Agora estou a ver se pintas bem, está tudo dito. Faço o meu melhor, ele aprova, menos mal.

Depois desenhamos as fases da lua e discutimos a problemática da representação visual da lua nova. Ele insiste em desenhar uma quinta lua, a lua invisível, que não é de todo o mesmo que a lua nova, ah pois não.

Elogio do Sexo

Cantada (Depois de Ter Você)
Adriana Calcanhotto

Depois de ter você
Pra quê querer saber
Que horas são?
Se é noite ou faz calor
Se estamos no verão
Se o sol virá ou não
Ou pra que é que serve uma canção
Como essa?
Depois de ter você
Poetas para quê?
Os deuses, as dúvidas?
Pra quê amendoeiras pelas ruas?
Para que servem as ruas
Depois de ter você?

sexta-feira, outubro 14, 2005

Ai, os homens!

Hoje, tiraram o dia para me assediar.

Foi ele que espalhou.

Expressões que definem uma cultura IX

Aqui.

Obrigada, j.c.t.p.!

Ó william, ainda casamos!

Com arqui-inimigos destes, quem é que precisa de amigos?
Bem vindo, ó coisa linda, vou-te apertar essas bochechinhas como se não houvesse amanhã!

Metáforas de ouro

Eu - Ele é como o vinil.

Cara de incompreensão e interrogação de toda a gente à volta.

Amigos - Hã? É como o vinil?

Eu - Sim, dá para os dois lados.

Caganda Noite!

A coisa não começou bem. Tinha dois gigantones à minha frente, mesmo a taparem a manela. Tanto me queixei da sua altura excessiva que me ofereceram a primeira fila. Ah pois! A dois metros estava a Manela. E eu com um grande sorriso. Grande concerto, como sempre. Mas com o privilégio de estar ali mesmo à mão. E não se põe a mão, porque o super-ego nos diz: "olha que depois nunca mais entras em concerto nenhum dos clã". Fiquei sugadita, tirando os saltos e a dança e a loucura. E como eles me fazem rir. Fazem-me mesmo rir, são divertidos, bonitos e excepcionais. No final, a manela diz "vou ao bar", tira o papel do Santiago do bolso de trás das calças (como se ela pagasse) e sai pelo meio do público. Foi logo rodeada pelos fãs pedindo autógrafos, tirando fotos, mas está tudo louco? Mantive-me perto, saquei do livro. Farta de não a deixarem chegar sequer ao balcão, viro-me para ela, enquanto tirava a enésima foto com uma fã (acho que tem mais fãs entre o público feminino, coisa estranha), e digo "isso amanhã está tudo na internet". Pois bem que ela olha para mim, com aquele seu sorriso tão excepcional, e me reconhece do nosso último encontro. E vá lá de dizer ainda bem que vieste, vi-te mesmo lá à frente. E eu, sorrindo, tolinha, com o livro na mão com uma dedicatória feita à última hora nas costas da susblue, ofereço-lhe o livro. Desta vez comportei-me como uma pessoa normal, excepto na dedicatória (por que sou tão exagerada, deus meu?), e dá cá dois beijinhos e pronto. Uns copos com a malta e vamos lá embora. Ainda nos cruzámos com o Miguel (sintetizadores?) e eu, remoendo, disse-lhe avisa a manela que a dedicatória, bem, foi feita assim precipitadamente. E ele, somos pessoas normais e eu pensei, pois, mas eu sou assim com as pessoas normais.

Caenergia, capotência, cagénios. E eu catola!

P.S. e já tenho outra t-shirt, esta manga à cava como eu gosto.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Terapia a mais

Hoje vi um anúncio naqueles canais de centros comerciais a um centro de lavagem de carros. É da rede do elefante, mas o nome que aparecia era: AUTOESTIMA.

É genial. Lavar o carro é cuidar dele, é estimá-lo. Auto é automóvel. Claro, Auto-estima. Brilhante! E como se não bastasse passa um valor positivo.

Acho que o copy que fez aquilo anda a fazer terapia a mais. Auto-estima para lavagem de carros?

quarta-feira, outubro 12, 2005

Em condições de receber

"A verdadeira vida começa quando estamos sós, frente a frente com o nosso eu desconhecido. O que acontece quando nos encontramos uns com os outros é determinado pelos nossos solilóquios interiores. Os acontecimentos cruciais e verdadeiramente decisivos que marcam o nosso caminho são fruto do silêncio e da solidão. Costumamos dar grande importância aos encontros ocasionais, referi-los como pontos de viragem das nossas vidas, mas tais encontros nunca poderiam ter-se dado se não nos tivéssemos já preparado para eles. Se estivéssemos mais despertos, estes encontros fortuitos seriam ainda mais compensadores. Só em certos momentos imprevisíveis nos encontramos plenamente receptivos, plenamente disponíveis e, por isso, em condições de receber os favores da sorte. O homem bem desperto sabe que todos os 'acontecimentos' estão carregados de sentido. Sabe que não é só a sua vida a ser alterada, mas que todo o mundo virá a ser igualmente afectado."

Henry Miller, O mundo do sexo

Ver e agarrar

Há dois dias seguidos que me cruzo, junto à escola do puto, com uma ex-colega minha de faculdade. Ela dentro do carro, com dois miúdos ainda mais pequenos atrás, e eu a sair do carro com a minha Criança. O nosso cumprimento é um sorriso sincero de alguém que, apesar de nunca ter sido muito próximo, foi suficientemente cúmplice para guardar boas memórias.

Há anos que não a vejo. Nem tenho a certeza se sei o nome dela. Não fazia ideia que tinha filhos. Eu era outra pessoa quando a conheci. E, em dois dias, desenvolvemos um ritual, um hábito quase. Hoje, entre a chuva, acho até que me fez uma careta por lhe estar a roubar o lugar.

O tempo passa por nós a uma velocidade extraordinária e devolve-nos pedaços de nós de forma bem inesperada e estranha. De repente, aquela mulher de quem nada sei anda por aí e cruzamo-nos como vizinhas. Gosto disso. É a vida a dizer olha, olha bem. Agarra, não deixes passar.

terça-feira, outubro 11, 2005

Curiosidade

Os avisos amarelos a assinalar "Pavimento Húmido" evitarão todas as quedas? Ou só as das pessoas que estão mais atentas ao percurso?

A entrega

Esta semana estou com o puto todas as noites. O que implica ir levá-lo todas as manhãs à escola. Tenho de levantar-me às 7h30, arranjar-me, arranjar a comida dele, pô-la no termo. E depois acordá-lo e arranjá-lo. Uma tarefa complexa que varia todas as manhãs.
No carro, ele arrebita e começa o stress do trânsito na baixa. Pode ser rápido e simples. Ou apanhamos um eléctrico engatado e está tudo estragado. Depois, mais perto da escola, damos voltas e voltas para estacionar. Chegando à escola, ele lá me pede com voz de bebé "leva-me à sala". Eu vou e tem dias que é mais fácil que outros.

Hoje, vi outras entregas e suspirei de alívio por a minha ser mais do tom pastel do que do tom garrido! Nas escadas, apanhei um miúdo com uns 5 anos a gritar para a mãe "Eu subo sozinho, eu não subo com ninguém, fica aí, eu subo sozinho, eu vou sozinho, eu quero ir sozinho, fica aí, deixa-me ir sozinho". Eu e a Criança passámos como se não fosse nada connosco. Ao entrarmos, ele lá fez a carinha, mas ficou logo bem sem olhar para trás. À saída, apanhei uma miúda mais velha (7,8 anos) a gritar à mãe "Xô, xô, vai-te embora" e a empurrá-la.

Saí a correr e, na rua, levantei os braços ao céu e agradeci ao Senhor ainda não ter chegado a minha hora de ser expulsa da escola do miúdo pelo próprio miúdo. Xiça! Eu é que ficava a chorar.

segunda-feira, outubro 10, 2005

Gosto mais da mulher tempestade do que da menina arco-iris

Esta é para a minha prima I. Que nem sequer é minha prima de sangue, que é muito mais que isso.

Com quem todos os dias, reconstruo uma ideia de família.
Com quem destrui ilusões e chorei mágoas.
Com quem embirro por pôr etiquetas em todo o lado.
Com quem invento e reinvento uma linguagem.
Com quem perco a cabeça.
Com quem rio por coisa nenhuma.

A minha prima I já foi uma menina arco-íris. Agora é uma mulher tempestade. Com arco-íris, chuva pelo meio, trovoada e céu nublado. É muito mais imprevisível, mas muito mais real.

A minha prima I vive comigo há mais de um ano. E somos tão diferentes que quase parecemos tornar-nos iguais.

Esta é para ela porque hoje rimos feitas tolas com aquilo que doía, porque haja o que houver quero que se saiba que eu estou aqui. E quero dizer-lhe isso para toda a gente ouvir. Venha o Vince, venha o que for. Estou aqui, como uma rede.

Porque podemos livrar-nos de todo o lixo que ainda temos e empacotá-lo com a ajuda uma da outra.

E, definitivamente, esta é para a minha prima I sem nenhum toque de deslumbramento. Porque temos uma casa para governar, contas para pagar, uma criança para criar (cada uma à sua maneira), muitas paredes para destruir e chãos para cimentar. Reinventamos todos os dias, sem um pingo de misericórdia pelo mundo.

Estou de unhas e dentes agarrada ao covil. Isso te garanto. Cabeçadas à Cais do Sodré podem não ser comigo, mas destruição de um mito em cinco segundos é a minha especialidade.

domingo, outubro 09, 2005

Objectiva

Gosto de objectivos claros, com um calendário definido.
Gosto que sejam imediatos e melhor ainda sob pressão.
Gosto que sejam concretizáveis e, de preferência, fáceis.

Digo que não gosto.

Porque no fundo gosto mesmo é deles impossíveis.

Isto é o mais objectiva que consigo ser, enquanto dou banho ao miúdo, faço o jantar, bebo uma cerveja, fumo um cigarro e escrevo este post.

sexta-feira, outubro 07, 2005

Consegui!

Podem ficar descansados, não vou para a choldra nem para o Júlio de Matos. Quinta-feira, dia 13, vou direitinha para o Santiago Alquimista ver os Clã.

Ah pois, fã é a fã! E vai até onde é preciso...

(by the way, a rakel também conseguiu)

Não baixa os braços

Amanhã, reflecte-se.

Apetece mesmo é não querer saber. Domingo lá teremos a imagem do país. Oeiras, Gondomar, Felgueiras e Amarante nos dirão o que devemos esperar uns dos outros.

Apetece mesmo é olhar para o lado e fingir que não é nada connosco.

Mas não pode ser, ah pois não pode. Temos de ficar por cá e persistir. Persistir um pouco mais e mais ainda. Fazer a vida de forma a valer a pena. E, portanto, temos de nos importar.

É caso para dizer que já nada nos admira de facto. Que haja o que houver...

Odeio a conversa do "povinho" estúpido. Odeio, não a suporto. Se ao menos me desse razão.

Haja o que houver, segunda-feira não estarei cá para dizer o contrário. Se os corruptos visíveis ganharem, nada direi - a vergonha será um sentimento demasiado forte.

Outros virão gritar é uma vergonha!

EU MATO

para conseguir um convite para o concerto dos Clã no Santiago Alquimista no dia 13!

(agora que consegui atrair as atenções de forma bastante leviana, por favor peço-vos se souberem de algum passatempo, se tiverem um convite e não quiserem ir, se conhecerem métodos de entrada ilícitos em locais públicos, qualquer coisa, por favor contactem-me. Obrigada!)

O direito de saber

Hoje ouvi na rádio que o FBI tinha emitido um comunicado em que alertava para riscos de iminentes atentados terroristas na rede de transportes de Nova Iorque, devido a avisos que tinham recebido. Dizia-se que iam aumentar as medidas de segurança e prevenia-se o povo nova-iorquino para o risco, pedindo a sua colaboração face a qualquer acto suspeito que detectassem.

Mais uma vez, a paranóia dos tempos modernos. A minha primeira reacção foi de repulsa perante esse comunicado. A ideia de alimentar o medo perante as populações parece-me o principal objectivo do terrorismo e senti que o FBI estava a pactuar com ele. Imaginei toda aquela gente com medo, a olharem-se com suspeita, a suspirarem de alívio ao fim do trajecto.

Mas, depois, reconsiderei. Temos ou não o direito de saber? Temos ou não o direito de escolher perante esse conhecimento? Deverá o Estado proteger o Estado a todo o custo, cego à ignorância daqueles que afinal defende?

Quero que o Estado me proteja ou quero que me dê meios para me proteger também? Quero que mantenha a ilusão de segurança ou me mostre que, afinal, tudo pode acontecer a qualquer momento, por isso é melhor abrir os olhos? Até sei qual é a resposta certa, mas não sei qual é a mais eficaz.

Talvez tenha sido uma prova de confiança ao povo de Nova Iorque. No fundo, o FBI não teve medo do medo. Enfrentou-o de frente e partilhou-o com quem mais riscos corre. Quais serão as consequências, não sei.

quinta-feira, outubro 06, 2005

Dúvida existencial depois de subir as escadas

Por que é que a Adminstração, a Direcção, os Corpos Gerentes, estão sempre lá em cima e nunca em pisos inferiores? Imagine-se:

- Ana Vicente, podes ir lá baixo ao -2 falar com Presidente?

Post a piscar o olho ao flirt VI

Aqui na Terra
Regina Guimarães \ Hélder Gonçalves


nada me prende a ti
dono e senhor de mim
nada me prende a nada

por essa estrada fora
por essa estrada dentro
faço figas ao vento

porquê
fugir de ti
aqui
Deus não nos vê
aqui ninguém nos ouve
e nunca ninguém sabe
onde cabe

nada me prende ao céu
nada me prende ao chão
Deus não me dá razão

tudo pronto a vestir
amor pronto a fugir
só nos resta dormir

sono dos amantes
doce como dantes
longo como dantes

rosa nua
rosa carne
crua rosa
tua rosa, teus espinhos
rosa rua
rosa charme
posso magoar-me, rosa
sete ventos, vinhos
e caminhos

nada me prende a ti
dono e senhor de mim
nada me prende a nada

porquê
fugir de ti
aqui
Deus não nos vê
aqui
ninguém nos ouve
e nunca ninguém sabe
onde cabe

rosa nua
rosa carne
crua rosa de charme
tua rosa, teus espinhos
rosa rua
rosa carne
posso magoar-me, rosa
voz do meu deserto
céu aberto

25 Canções...

para provar que os Clã são a melhor banda do mundo ao vivo.
É oficial: saiu o cd perfeito para mim. Tudo o resto é música. Isto é outra coisa.

quarta-feira, outubro 05, 2005

Viva a República! (ou merda, merda, merda)

Este post não é sobre a implantação da República - o título serve só para expressar a minha ternura por este feriado, que é um dos meus favoritos.

Este post é sobre a merda das limpezas, sobre a merda da desarrumação. Hoje teve de ser: era a minha semana de lavar a casa-de-banho e já estava com uns dias de atraso; além disso, ontem quando estava quase a adormecer tive a sensação de que um bicho nojento (pelos guinchos, um rato) tinha entrado e saído do meu quarto. AAAAAAAArgh! Odeio ratos e já tive, na minha vida passada, de matar um à vassourada aos gritos.

Ok, acordei e toca de lavar as casas-de-banho, como se o dia ainda não tivesse começado. A merda da banheira entupiu, sabe-se lá porquê... De qualquer modo, esqueci-me e foi a minha prima desentupi-la, coitada. Pequeno-almoço à uma e beber café às 2h15 na Graça. Ir ao Pingo Doce comprar a merda do papel higiénico, que inexplicavelmente se esgotou!

Depois, o quarto. Tenho um problema e devo assumi-lo. Vou acumulando montes de coisas, que tiro dos bolsos e da mala ao fim do dia. Os montes vão crescendo e aquilo que era suposto arrumar no dia seguinte, por lá fica a ganhar bolor. Encontrei uma prenda de Natal que era suposto ter dado uma amiga que não vejo talvez há um ano. Olha, merda para isso, fiquei eu com o cd dos Humanos. Facturas, recibos, desenhos do Miúdo, pilhas, clips, eu sei lá, merda! O pó, a merda do pó!

Táctica de arrumação: metade vai para o lixo e a outra metade para o armário da sala. No fundo transfiro a desarrumação para uma parte não visível. Quando me mudar ou tiver de dividir o armário, nem quero imaginar. Ainda não chegou àquele limite de abrir as portas e cair tudo aos pés, mas não há-de faltar muito.

Mas, que merda!, para quê acumular tanta merda? Para quê? Alguma vez eu daqui a uma semana, um mês, um ano, vou dar importância a uma merda que está escondida debaixo de uma pilha há meses? Como? Já não basta ter de guardar a merda dos recibos e facturas para a merda do IRS? Nesse aspecto, ainda tenho um problema maior: tenho uma pasta com diferentes compartimentos para guardar as diversas facturas, mas por que haveria eu, desarrumada como sou, de chegar a casa e pôr as facturas nos locais devidos? Não, vai para o monte. Hoje, para limpar o monte, deveria ter feito isso, mas acham? É claro que não, vai para dentro de um saco em que estão mais facturas. Em março ou abril de 2006 preocupar-me-ei com isso. Simples...

Porque o problema é que eu quero fugir dali o mais rapidamente possível. Quero livrar-me das arrumações e das limpezas, como se elas não existissem. Quero fingir que não, não há problema nenhum em ter uma camada de pó na mesa de cabeceira. Porque no fundo não quero perder um minuto da minha vida a limpar ou a arrumar... Ufa, hoje isso passou, mas há aquele sentimento merdoso de que daqui a uma semana, tudo voltará a estar cheio de merdas outra vez. Ainda tenho, em casa dos meus pais, caixotes cheios de tralha da qual não sinto falta nem nunca sentirei.

Não posso só cozinhar e tratar da roupa, coisas fixes até...?

Gostava de ser como algumas pessoas, que têm etiquetas para tudo e vêem a arrumação como parte inerente ao dia. Eu não consigo! Odeio, odeio.

Odeio limpezas, mas desta já me safei. São cinco da tarde e ainda tenho muito do dia para aproveitar. Quanto ao rato, ou foi uma alucinação ou simplesmente entrou e saiu. Que merda!

Tenha eu sempre isto, Lisboa

Haja sempre Lisboa ao fim da tarde. As pessoas no chiado. Que bom vê-las passar. A cidade, esta cidade, cujos dias me roubam lá no Parque das Nações, visão bonita mas bem mortiça de Lisboa. Haja sempre estes dias livres, estes dias úteis em que podemos assistir ao tempo passar na vida diferente de todas as pessoas do mundo, que estão ali mesmo à mão. Haja a vida desta Lisboa tão bela, tão imperfeita, tão repleta, cantos e recantos. Haja a visão, haja a gente bonita a passar, a gente vulgar a passar, os indigentes a passar. Haja a loucura e a salvação. Haja o Camões. Haja o encontro acidental. Haja a gargalhada, o eléctrico entalado, haja a desordem instalada. Haja a rua do carmo, meninas bonitas, descendo o chiado, olha como é a rua do carmo. Haja a Fnac e comprar o cd perfeito. Haja o chá e a cultura do chá. Haja a alegria. Haja o sms. Haja a saudade e o sentido de pertença. Haja a vontade e o regressar a casa e fazer o jantar às dez. Haja o naperon. Haja Lisboa, que me faz sentir rainha, que me faz sentir em casa. Haja o trajecto perfeito. O pensamento certo, as mais completas emoções.
E então haverá também esta certeza que eu te pertenço de um modo só nosso. Lisboa em mim.

terça-feira, outubro 04, 2005

Almoçarando XIV - Gestos culturais

Que bela ideia a de nos juntarmos a minha boa amiga e eu ao almocito. E que melhor sítio (uma vez que o Casanova está fechado nos almoços de terça) se não os grelhados na Graça? Cheiro a churrasco à parte, não há melhor sítio para comermos um peixinho. A dada altura, a minha boa amiga olha para o lado, revira os olhos e diz "oh meu deus". Percebendo que ela se estava a referir a um sujeito no balcão, observo-o tentando encontrar indícios para tal reacção. Pronto, o homem não era propriamente bonito, até era esquisitóide, mas daí um "oh meu deus"... Olho interrogativa para a minha boa amiga e saiem-me estas sábias palavras de sua boca:

- Não há nada melhor que olhar para um homem e apanhá-lo com a mão nos tomates.

segunda-feira, outubro 03, 2005

Novas de segunda

Não sei se foi do eclipse fenomenal. Não sei se foi dos gatos terem voltado. Não sei se foi por ter ouvido logo pela manhã a manela em entrevista e do disco ao vivo dos Clã ter saído hoje. Não sei se foi por ter feito uma playlist perfeita no itunes para passar a semana. Não sei se é por estar finalmente concentrada no trabalho. Não sei se é por esta semana só trabalhar mais dois dias. Não sei se foi por ter passado um fim-de-semana calmo e revigorante. Não sei se é por hoje ir ver o novo espectáculo do Útero, com a Sara de Castro. Não sei por que foi nem estou muito preocupada.

Mas hoje acordei contente. Esta semana promete. E depois, bem, depois logo veremos. Agora, estou agarradinha às boas vibrações.

domingo, outubro 02, 2005

Qual cão de Pavlov

Tenho de fazer um esforço sobre-humano, diria hercúleo até, para ficar quietinha e não começar aos saltos e aos pinotes no meio da rua, sempre que passa um carro da CDU a tocar a Carvalhesa nos seus megafones.

Spicy Spike

A nova joint do Spike Lee, She hate me, é disperso, longo, por vezes estranhíssimo e bizarro, há quem diga até que é pouco credível e que tem pirosadas.

No entanto, acho-o brilhante. Tem um genérico fantástico.
Uma ideia de amor utópica perpassa. Uma ideia de uma América corrompida e a convicção estampada da defesa da liberdade. Um grito contra Bush. Um piscar de olho às diferenças, sempre tão ricas no mundo de Spike Lee.
A confiança perdida e a confiança reencontrada à luz de uma relação improvável, mas no entanto tão paradigmática a meus olhos. A traição e a entrega. A salvação de um homem passa pelo amor e pela verdade.
O mundo está diferente. É isso que Spike Lee nos diz. Reconheço essa diferença no meu dia-a-dia e faço parte daquele imaginário simplesmente por estar viva. Há negros yuppies e italianos que gostam de rap. Há desejo que não se coaduna com um estereótipo.
Spike Lee subverte. Subverte sempre. Desta vez, subverte o género, subverte a ideia de objecto sexual, subverte os quadros culturais e é "básico" na sua raiva a uma certa América. Apresenta-nos os maus da história e os cuspidos da sociedade. Dá-nos a cor do dinheiro, eleva-nos utopicamente para a esperança de um amor simples.

O novo do Spike Lee é imperdível. E se, durante o filme, ficava por vezes perplexa e desconfiada, a verdade é que, no fim, não conseguia pensar noutra coisa se não em como era bom.

Num sonho

Havia uma gata e um farol.
A gata enroscava-se nas minhas pernas enquanto eu andava. Não me atrapalhava, era como se andássemos a um só compasso, coordenadas. Quase um único organismo. Ela miava, mas eu nada dizia.
O farol estava longe no meio do mar. Era de noite e a luz do farol passava por mim, tornando-me visível por momentos. Eu tapava os olhos, mas continuava a caminhar.
A luz atraía-me.
A gata miava e eu não sei se era de medo se era de satisfação. Mas mantinha-se comigo.
À medida que me aproximava (talvez de um precipício), o movimento do farol acelerava e a luz era mais forte. E eu cada vez a cobrir mais os olhos com o braço, até ficar o tempo todo com eles tapados.
Deixei de ouvir a gata, de senti-la entre as minhas pernas. Abri os olhos e não havia farol nenhum, nem noite, nem gata. Apenas um desenho num papel na minha mão.