naperon

Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

sexta-feira, junho 24, 2005

As férias - perdas e ganhos

Vou de férias, volto para a outra semana. Vou para a praia, para o sol, para o mar. Não espero encontrar cybercafés nem tecnologia wireless. A Sandera tomará conta!

Na partida, há um rol de coisas que sei que vou perder e não queria:
- o concerto dos Humanos. COMO É POSSÍVEL? Um concerto único logo na semana em que não estou cá. Haverá alguém mais fã da Manuela Azevedo do que eu? Haverá alguém que tenha oferecido tantos cds dos Humanos no Natal? Não é justo. Ainda por cima se calhasse a uma sexta, ainda pensava em vir mais cedo, mas assim a meio da semana. Não é justo, repito.
- a marcha do orgulho e o arraial pride. Vou todos os anos... lá se vai o grito da liberdade, as palavras de ordem subversivas, progressistas e a favor do casamento...
- o regresso de quem me pôs turn-on e me tira do stand-by num instantinho.
- o salão erótico a decorrer na FIL entre 30 de Junho e 3 de Julho (este talvez ainda veja). Porque sexo é cultura.
- a evolução dos enjoos. Aguenta, boa amiga!
- o email, já que tenho um problema de dependência grave (os textos de outras pessoas que envio em catadupa já irritaram muitas pessoas, fizeram com que me bloqueassem em muitas caixas de correio e me ameaçassem de porrada se alguma vez vissem Ana Vicente em formato electrónico). Enfim, estou a tentar deixar e as férias vão ajudar.
- o Naperon, claro.

O saldo, no entanto, continua positivo. Livro-me da neura pseudo-profissional que me enreda 8 horas por dia. Livro-me das tramas alheias. Descanso. Levo o amor dos que vão comigo e dos que transporto para qualquer lugar. Escrevo. Leio. Espreguiço. Viro-me para o outro lado. Deixo de esperar pelas horas. Complico-me apenas com a areia. Tenho o mar.

Terei saudades, mas há valores que falam mais alto. E choverá muito, mas só à noite, vão ver.

Nem que vivessemos 100 anos?

A pergunta da manhã é: as relações doentias algum dia deixam de ser?
Completada com a questão: quando é que te calas?
Seguida pela superação: eu juro que te vou apertar o pescoço.

Um remake cómico que acaba em homicídio ao estilo de Claude Chabrol, perdoem-me a referência.

quinta-feira, junho 23, 2005

Se a situaçao fosse humana

Agradecendo a quem assim contribui, roubo esta maravilhosa frase para torná-la aqui um pouco minha.

Se a situação fosse humana, eu dir-lhe-ia: ‘Comece por se deitar junto a mim e façamos amor. Após isso, trataremos de perceber qual o meio de livrá-lo do seu medo’.

Obrigada, Manso!

Acordar

Esta semana voltei a acordar cedo, depois de semanas a fio em que tinha de me arrastar para fora da cama com auto-empurrões e estaladões.
Ainda me iludi a pensar que era uma questão de força de vontade. Mas é treta. Tudo se resume afinal a motivação para estar desperto.
Agora só me apetece abrir os olhos o mais cedo possível.

Ainda bem que vou de férias. Qualquer dia, começava a escrever posts sobre como a vida é bela... medo!

quarta-feira, junho 22, 2005

Desejo

Só tenho olhos para o que não vejo.

Deserto

Já se falou mais disso, mas agora a situação ainda está pior: a seca. Segundo o público última hora, neste momento, 80% do território continental português encontra-se em seca extrema ou severa. O corte de consumos já começou em certos pontos do país e é provável que não fique por aqui.

Andámos preocupados quando era suposto chover e não chovia, mas agora chegam as férias, a praia e o calor e parece que nos vamos esquecendo. A verdade é que encontramos forma de voltar a reequilibrar as coisas e a substituir a preocupação pela ilusória sensação de segurança.

Mas o tempo não está para sensações ilusórias. A verdade é que o nosso modo de vida (o ocidental, consumista, o da cultura do desperdício) está ameaçado. Mais ameaçado pelo aquecimento global do que pelo défice, aumento dos impostos, idades das reformas, supostos arrastões. Hoje, mais uma vez, impôe-se um novo modo de estar. E não começa pelo vizinho, mas por nós. Como fazê-lo? Pois bem, não sei das soluções globais e estruturais, que bem gostamos de apontar a falta aos nossos governantes, mas sei daquelas que posso e devo fazer.

Não pretendo moralizar. Apetece-me praia e sol. Gosto de piscinas e de tomar duches longos. Mas tudo isto está ameaçado. E já está a acontecer. Está a acontecer a cada momento que passa. E assusta, ah pois, assusta.

terça-feira, junho 21, 2005

É preciso mostrar o B.I.?

A crescer, as crianças têm tendência a mostrar umas às outras o que sabem e o que não sabem fazer. Dizem, os mais velhos para os mais novos, tu não sabes fazer isto, enquanto os mais novos fazem tudo para conseguirem e finalmente provarem que também conseguem fazer, mesmo que não tenham interesse em fazê-lo.

Crescemos, mas continuamos a querer provar alguma coisa. Na adolescência, aos nossos pais e aos mais velhos, que insistem em não nos dar o crédito ou a confiança que já achamos que merecemos.

Em adultos, a coisa não varia muito.

Detentores de alguma independência e autonomia, a questão da afirmação poderia passar-nos ao lado. Mas estamos já viciados. Existe, por um lado, a condescendência/desconsideração pela opinião alheia que sentimos como ameaça e, ao mesmo tempo, a afirmação perante essa desconsideração alheia.

No profissional, muitas vezes queremos provar que somos competentes, como se o clima de desconfiança e tensão permanentes nos obrigassem a um constante - e inútil - prestar de contas. Não serve para nada, pois é através desse clima que se prendem os trabalhadores, sejam competentes ou não. Não adianta rejubilar por uma promoção, pois logo em seguida virá o aviso; não há satisfação no elogio, pois será mencionado mais tarde como um insulto. É uma generalização, mas dessa suspeição se instala o medo, a dúvida e, claro está, a necessidade de afirmação para podermos enfim sentir-nos tranquilos - estado a que só chegaremos quando nos estivermos a borrifar.

É tudo uma questão de poder, pois bem. O superior assedia o subalterno, and so on and so on até o limite do ridículo.

Nas relações sociais e pessoais, a coisa passa-se mais ou menos da mesma maneira. A senhora da repartição acusa o jovem de desleixo. As acusações, seja qual for o caso, sucedem-se para assegurar uma posição: conformismo do outro, arrogância da que está mais à frente, estagnação do sujeito lá de trás, falta de visão do do lado...

As opiniões diferentes, por exemplo, são desvalorizadas por razões alheias à própria opinião. Do género: estás a ser influenciada pelas pessoas erradas, se tivesses visto o que eu vi, não dizias isso, um dia vais pensar como eu. A mim, já me disseram dessas frases, mas também já fui bode expiatório daqueles que não querem dar crédito às opiniões, aos pontos de vista, numa palavra às vidas dos outros. Do género, tu não podes pensar assim por que eu não quero, portanto deve ter sido a Ana Vicente a dizer-te isso. Ou, como disse antes, eu é que sou a influenciável. Influenciadora ou influenciável, depende do ponto de vista, logo do poder que me é atribuído e aos que me influenciam ou sofrem da minha influência.

Apetece dizer: é preciso mostrar o BI? A renda da casa? As contas que pago? Os prémios? As relações? Os textos? As notas? É preciso mostrar que sou?

Não vale a pena dizer nada. É tudo uma questão de poder, mais uma vez. E o poder é algo que só cada um de nós pode dar ao outro. Ninguém nos tira do nosso lugar se não quisermos - sem paranóias, apenas com confiança. Se começarmos a olhar para os outros mais como pessoas e menos como ameaças, talvez as suas opiniões, posições, méritos, defeitos, sejam valorizados e também relativizados. Porque não há nada de absoluto quando se fala da espécie humana - há apenas relação a.

Quando não nos dão crédito aparente, o mais provável é que nos estejam a dar a mais. Provavelmente até nos estão a ver como uma ameaça, quando de facto só queremos ser e viver.

É tempo de quebrar o vício.

Verão - Primeiro dia

É a praia, é o mar, é a sardinha assada, os caracóis, as alças, o decote, o bronzeado. São os chinelos, as havaianas, as sandálias e o pé descalço. É o sol, a chuva inesperada, as férias estragadas, é o calor, o mergulho no rio, as férias encantadas. São os miúdos à solta. Mais miúdos ainda. São as férias grandes e os 15 dias em Agosto. É o verão, o verão, verão. Os gelados, as cervejas na esplanada... Tudo e tudo.

É o primeiro dia de Verão. E a sua inauguração é feita, em Lisboa, com um pequeno suspiro, valentes desejos, anseios de mar. Viva o Verão a um passo daqui, já aqui, quase a acabar. Secretamente estou na praia. Em pleno areal, há uma celebração de todos aqueles que estão lá e não é suposto estarem. Eles têm um segredo: ainda não lhes tomaram a alma. E, hoje, está invadida de espírito de Verão.

Bem haja.

segunda-feira, junho 20, 2005

Stand-by

Segundo a EDP, poupamos energia e não sei quantos euricos se desligarmos realmente os aparelhos em vez de os colocarmos em stand-by.
Hoje, sinto-me em stand-by, mas não me poderiam desligar nem que quisessem. Estou com demasiada energia para ser desligada.

Mesmo em stand-by, estou turn-on. Espero que alguém pague a conta.

domingo, junho 19, 2005

Partimpintas?

Pois é, meus amigos, foi a loucura. Se, com os adultos, a coisa já é empolgante, com os miúdos, torna-se apoteótica.
Foi lindo assistir à histeria colectiva no Coliseu com a Adriana Partimpim. As crianças vibraram a um ponto inacreditável. Foi verdadeiramente emocionante. Se, no início, parecia o circo, com um burburinho constante, no final, parecia a maior festa de todos os tempos.
Ela cantou, tocou, mascarou-se, fez de brinquedos instrumentos musicais, foi genial como sempre. E doce, doce. Pulos, gritos, pura apoteose. Que energia abalou aquela sala, minha gente.

E, como se não bastasse, estamos a criar futuros apreciadores de música, de festa, de dança e, claro, de Calcanhotto. Brilhante, brilhante.

Um post a piscar o olho ao flirt II

Belle

Oi lienda
Bella che fa?
Bonita, bonita que tal?
But belle
Je ne comprends pas francais
So you'll have to speak to me
Some other way

Jack Johnson, In Between Dreams

Para ouvir, aqui.

sexta-feira, junho 17, 2005

O rosto do mal

Depois de:
- sermos manipulados com esta história do pseudo-arrastão, em que 500 pessoas passam para 40;
- o Governo Civil de Lisboa ter autorizado uma manifestação supostamente contra a criminalidade, mas verdadeiramente anti-imigração e de extrema-direita, para amanhã às 14h no Martim Moniz, como confirma o Público;
- portugueses em Inglaterra terem sofrido represálias por um crime alegadamente cometido por um português, também no Público;
- de ter assistido ontem à leitura encenada da peça "Praça dos Heróis" (Heldenplatz), de Thomas Bernhard, que, genericamente, fala de como o Nazismo ainda está vivo na Áustria;
- ter encontrado uma barata em minha casa.

Depois de tudo isto, sinto-me contaminada. Vivemos contaminados pelo mal e pela estupidez. Temos de ocupar o nosso lado.

O meu é o da vida e da liberdade. Isso dá-me esperança e ainda, espero sempre, alegria.

Adriaaaana (ler post com sotaque brasileiro)

Calcanhotto ou Partimpim, o génio vence e o deslumbre permanece.
Começa hoje a série de três shows de Adriana Partimpim, no Coliseu dos Recreios. No que a mim me concerne, já tenho lugar reservado com mais duas crianças maravilhosas.

Adriana Calcanhotto é para mim referência inigualável: referência literária, musical e muito, muito existencial. Consigo associar quase todas as canções dela, desde o início, a momentos da minha vida. É um dos meus objectos obtusos, que colo na t-shirt como se colasse na pele. Já a vi duas vezes no coliseu (uma das vezes, com repercussões para toda a sala) e em Mafra, no jardim e depois nos bastidores. Já tive um bilhete autografado que dei a quem nunca mais vi, já guardei outro de novo para nunca mais dar a ninguém. Sou fanzaça! Roubo letras dela, colo-as nas minhas palavras, sigo dias falando apenas sua língua. É paixão.

Domingo, lá estarei, na matiné. Com a noção de que não é Calcanhotto para mim, mas Partimpim para a molecada. Mas os adultos curtem a valer. Estou nessa até morrer!

quinta-feira, junho 16, 2005

Conversa a 13 - Festa

Todos os meses, no dia 13, o Naperon lança-vos um desafio: escreverem o que quiserem sobre um tema proposto por nós - o Conversa a 13. Aceitaremos apenas 13 comentários, por isso terão de se apressar. Durante o mês, o post Conversa a 13 ficará sempre na primeira página do nosso blog para que todos os 13 possam participar.
Vá, ponham-se à conversa.

Desta vez o tema é: Festa.

É a época delas. Aproveitem que da próxima pode ser que o tema seja férias.

Agradecemos desde já a vossa disponibilidade.

Em complemento do post anterior: Azar ou sorte no amor?

Eu tenho apenas mau perder.

Azar?

Nunca fui uma pessoa dada a considerações sobre a sorte ou o azar. Acredito no acaso. A verdade é que nunca me senti azarenta nem sortuda. Há, no entanto, pessoas que parece que atraem má sorte, azar, coisas más. E não conheço muitos Gastões (plural de Gastão).

Há pessoas que são assaltadas sistematicamente, que têm pequenos acidentes, que perdem coisas, que escorregam na casca de banana, que são enroladas nas ondas... quem não conhece dessas pessoas? Pessoas que atraem confusão. Pessoas que, quando lhes acontece qualquer coisa, despertam reacções como "não há nada que não lhe aconteça" ou "outra vez?" ou indiferença, ou mesmo irritação "como é possível?". O "coitado(a)" também é muito utilizado.

Será justiça divina (mesmo que injusta)? Será equilíbrio natural? Será o cá mas fazes, cá mas pagas de um Deus colérico ou simplesmente brincalhão? Será puro íman para desastres? Será apenas desorganização? Falta de cuidado? Desrespeito universal?

Nunca me senti especialmente abençoada e tenho a minha dose de azares, mas na verdade nunca os vi como tais: considerei-os sempre ou coincidências ou desleixo ou estupidez.

Haverá alguma coisa para nos livrarmos da má sorte? Será apenas um ponto de vista sobre a vida, uma forma de olhar para as coisas? Desconfio que sim, mas depois há alguém que volta a cair na esparrela e fico com dúvidas. Sempre achei que a melhor forma de não atrair o azar era não ter medo. Agora que o menciono, serei amaldiçoada?

E se, em alternativa, me saísse antes o Euromilhões? Hoje tive de ouvir a mulher da tabacaria a dizer, acerca dos meus papelinhos das apostas da semana passada, "estes não prestam". Não prestam, não. Por causa disso, já não terá a sorte de ser recompensada por uma apostadora benemérita que eu eventualmente poderia ser.

quarta-feira, junho 15, 2005

Estao ali a fazer-me sinal para voltar a acreditar

Ontem, numa urgência de zapping que me dá de mês a mês, apanhei o célebre debate de 1975 entre Mário Soares e Álvaro Cunhal na RTP Memória. Vi ainda um bom pedaço. 30 anos marcam uma diferença evidente.
Eu nem sou do género de achar que no passado é que era e repudio todas aquelas afirmações recorrentes da inépcia das novas gerações em oposição à bravura e coragem das passadas - esse tipo de abordagem é tão culpabilizante, vã e castradora que só nos pode paralisar. Mas, ontem, ao ver o debate, admirei essa diferença e lamentei que as coisas no nosso tempo não sejam um pouco como as vi ali.
Em primeiro lugar, os dois políticos. Não há qualquer tipo de dúvida enquanto se assiste àquilo: aqueles dois homens acreditam realmente naquilo que estão a dizer. São genuínos. Estão mais atentos ao que dizem do que à forma como dizem. Há uma diferença estrutural e ideológica entre os seus pontos de vista - têm uma ideia política para Portugal. Num período em que tudo ainda era possível, é impressionante constatar que foi naquele confronto (não o televisivo, mas o ideológico) que se jogou o rumo de Portugal. E se, de um lado, tínhamos um Mário Soares que queria "institucionalizar a revolução", de outro, havia um Cunhal que via claramente a Revolução como um processo contínuo e duradouro. Este abismo é intransponível porque define tudo. A ideia de Revolução continuada que, de certo modo, defendo, para alterar mentalidades, instituições, modos de vida e a sociedade, é apaixonante, enquanto a ideia de revolução que se institucionaliza, a que assistimos de facto na sociedade portuguesa, é o caminho para a estabilidade, para a criação de riqueza, para a ilusória segurança do dinheiro no banco e os bens em nosso nome - a manutenção de um status quo ou, naquele caso, a criação de um novo. O fascínio proporcionado por essa ideia de Revolução em curso é também rapidamente afastado quando Cunhal a desenvolve e concordamos com Soares, numa entrevista dada ontem ao Público, quando afirma que a história nunca dará razão ao emblemático líder comunista.

Não pretendo analisar o debate, não tenho competências nem paciência para tal. Achei Soares um homem muito mais belíssimo do que me lembrava, com uma postura muito mais cativante do que a de Cunhal, mais frio, mais obstinado.

Para uma reposição que pretendia homenagear Cunhal, fiquei mais impressionada com o Soares. Fiquei impressionada com a simplicidade de tudo aquilo. Em que os moderadores fumavam e falavam como se só percebessem de política e nada de televisão. Impressionou-me que há 30 anos se falasse mais de reacção e progressismo do que actualmente e como hoje nos tiraram essas palavras como se fossem pouco importantes.

Vivemos num tempo barroco, como diz uma amiga. Nenhum político hoje vai a um debate sem estudar a pose, sem ensaiar gestos. Ali vemos um animal político, passo a banalidade porque é verdade, como Soares, que sabe como falar para o povo, que provoca Cunhal, que ri entredentes, mas que acredita, acredita em todos os momentos. Hoje nenhum apresentador diria "estão ali a fazer-me sinal para pararmos porque temos de trocar as bobines" ou "o que é que achas, joaquim? o que é que fazemos agora?".

Nada mais simples. Nada mais real.

terça-feira, junho 14, 2005

Condução de grávida, segundo uma não-grávida

Já é difícil uma pessoa conduzir quando tem outro carro a segui-lo, mas muito mais difícil é quando a condutora que nos segue está grávida. Um destes dias, tinha uma condutora grávida -não sei se estão a ver quem é- a seguir o meu caminho. Mal a coisa começou percebi que tinha sido má ideia. Mais valia ter ido cada uma por si. As entradas nos cruzamentos, seguidas de esperas infindáveis a quatro piscas. Dividi o meu olhar entre o espelho retrovisor e o velocímetro, pois à velocidade que ia quase nem era preciso olhar em frente.

Por amor de Deus, vou a 40! Tu consegues ultrapassar essa camioneta de caixa aberta que vai a 20!!!!!

É um verdadeiro stress, porque uma pessoa pensa: será que está bem, será que me está a ver, será que não consegue andar mais depressa, será, será???????? Ufa!

Mas o pior de tudo é quando tu estás a conduzir a 35 kms por hora num sítio em que costumas andar a 100, estás com uma paciência de santa e uma preocupação genuína e, quando finalmente ela consegue ultrapassar o diabo da carrinha caixa aberta, olhas para trás e quem está a bocejar é ela!!!!

Desculpa lá, boa amiga, mas eu é que já estava a dormir! Só me apanhas agora noutra quando realmente me conseguires apanhar... até lá, vou atrás.

segunda-feira, junho 13, 2005

Eu sobrevivi a este fim-de-semana

As crianças, a família e os amigos. A praia, os almoços, os xaropes e as gotas. As más notícias e os desacatos. A fúria acumulada e o amor desmedido. As sardinhas sempre esgotadas, subtituídas sempre por frango no churrasco. O caldo entornado e o que não tem remédio remediado está. Os multibancos sem funcionar e o saldo embasbacado. A febre e a cumplicidade. O on, quando se está no mute. O disparate na Bica e o reencontro assustador com uma doutorada da neurobiologia a falar do olfacto. O estar para dentro ou o estar para fora. Os lombares e o polvo à lagareiro. O mar, o mar, o mar. Os brinquedos e a vontade de afogar os miúdos na areia. O sol a ir-se embora e ainda assim o mar. Outra vez o mar. A confiança, o amor e o respeito em vez da birra. Cair por terra, desistir, mas não, vai-se em frente. E há sempre mais forças e ainda a alegria. Os caminhos novos e as portagens. As marchas na televisão e torcer pela Graça por uma única razão. O bairrismo. O arrastão. As melgas a fazerem a vida negra aos descansados. O regresso a casa. A libertação de energia. A calma. O episódio dos sete palmos finalmente. O primeiro post da semana.

E, para que não haja mal-entendidos, este fim-de-semana foi pleno de vida. Por isso, presto a devida reverência aos mortos destes dias, que tanto fizeram por Portugal e pela vida.

quinta-feira, junho 09, 2005

O mistério da Casal Ribeiro

Já passei três vezes pelo sítio à noite e acontece sempre o mesmo. Há um mistério que é necessário ver deslindado.

Na Av.Casal Ribeiro, em Lisboa, há uma garagem, com um portão feito de rede (ou seja vê-se lá para dentro), que tem sempre (nessas três vezes pelo menos) uma televisão ligada à noite. A televisão a altos berros virada para a parede, tudo escuro sem se ver vivalma e um ponto de interrogação gigante na minha cabeça.

Por favor, passem por lá. Eu tenho testemunhas.

Podem passar dias, meses, anos quem sabe embora ache improvável, sem se ver uma coisa absurda como esta, mas depois vem uma destas e começamo-nos a interrogar: para quê tanto disparate? Não é que o normal não seja igualmente disparatado e absurdo, mas uma televisão ligada numa garagem à noite é cenário de instalação ou de filme policial.

Onde há televisão ligada, há quem a ligue.

quarta-feira, junho 08, 2005

Pode alguém ser quem não é?*

Muitas vezes me pergunto a razão das minhas limitações. A única forma de desenvolver este assunto é assumindo as limitações. Só a partir do momento em que isso acontece, podemos realmente pensar se as limitações são ultrapassáveis ou não. Há limitações que, infelizmente, não são ultrapassáveis, como só ter dois olhos (para não falar de casos piores), mas há outras que são, do género não saber nadar (pode sempre aprender-se). Enfim... normalmente falo das segundas, caso não tenham percebido, mas desta vez irei falar das primeiras - as limitações que não podemos mudar!

Há quem queira ser o Homem-Aranha, há quem queira ter a mesma energia que outra pessoa tem, há quem sonhe com o Euromilhões, há quem deseje voar. As limitações, as nossas, as humanas, e o desejo de ultrapassá-las com muita hybris (esclarecimentos aqui), foi o que fez a evolução, as grandes descobertas, blábláblá... não vou entrar por aí. O que é certo é que nós, banais humanos, não conseguimos ultrapassar a maior parte das nossas limitações.

Isto a propósito de super-poderes. Eu queria mesmo era ter super-poderes. Não me basta ser o anti-herói, quero ser uma heroína! Super heroína, com poderes bons, à séria (não me bastava esticar-me toda, era necessário também ter muita força, alta velocidade, voar, dar saltos magníficos, invisibilidade, etc.). Muito à Ally McBeal, é certo, a maior parte de nós (estarei a ser pretensiosa) imagina grandes cenas possíveis com poderes mirabolantes. Mas é apenas uma fantasia e isso, em vez de ser uma frustração, pode ser uma benesse. Não ter o dom da multiplicação dos pães é triste... mas não esborrachar a cabeça de alguém sempre que nos apetece é muito bom.

Agora, toda a gente tem de ter super-poderes, ou anseia ter ou obrigam-nos a ter. Ninguém nos favorece com o dom da ubiquidade e como eu desejava tê-lo quase todos os dias, principalmente para não falhar naquilo que considero mais importante. Falho muitas vezes.

Falhamos, mas também por isso nos superamos, nos aceitamos, nos gostamos.

E, que diabo, começo também a irritar-me a mim própria: só queria mesmo falar de super-poderes, explodir cabeças, saltar no topo dos edifícios e parar catástrofes naturais. Aceito a limitação ou supero? Será crónico?


*Título roubado ao nosso Godinho.

segunda-feira, junho 06, 2005

Sem piada nenhuma

Era segunda-feira, mas era uma boa segunda-feira. Decoração nova com frases minhas espalhadas pela parede.
Parecia uma boa segunda-feira, entrei a sorrir no trabalho.

Três colegas meus foram despedidos, entretanto. Por alguém que não despede, nunca despede. Isto é verdade.

Fica um aperto quando se respira. Não se espera. Esta é a segurança que nos dão, nós com as nossas licenciaturas, casas compradas, com trinta anos ou a chegar a eles, a querer ter filhos, a sonhar com outras coisas. É assim o mercado.

Não há muito ânimo para continuar este dia. Para eles desejo o melhor. Orgulho-me de ter trabalhado com eles. Amanhã já não estão cá. É assim o mercado.

Na luta de classes contemporânea, não há inimigos, não há alvos a abater, é tudo vago e incerto. Nebuloso e inconstante. De um dia para o outro.

Não há segunda-feira pior.

domingo, junho 05, 2005

O meu encontro com a Fernanda Young

Foi ontem. Festa da Bomba Suicida, Bairro Alto, e ali estava ela, a Fernanda Young. Alta, tatuada, cabelo curto, exactamente como aparece na tv, no programa saia justa.
Pois claro que tinha de falar-lhe, não é a Marisa Orth ou a Rita Lee, mas é a Fernanda Young, escritora, radical, meio esotérica e com um impacto visual incontornável, para dizer o mínimo.

Pois bem, aproximei-me e disse olá. Mas ela estava a dançar de olhos fechados, voltei a dizer olá, os olhos mantiveram-se fechados. O homem que a acompanhava, em princípio o marido de quem ela estava sempre a falar, chamou-a. Ela continuava de olhos fechados a dançar, numa espécie de transe. Olhei para ele, sorri e encolhi os ombros: não iria mais incomodá-la. Há momentos em que devemos reconhecer o mau timing: ela estava lá para dançar. Como foi parar àquela festa underground e o que está a fazer em Portugal, não sabia. Mas, graças à internet, já sei. Esteve na Feira do Livro dia 3... Edições Asa.

É bom pensar que talvez se divertiu. Eu também. Agora tenho de ir ali à feira à procura dos livros dela, embora na Asa não haja referência a livros dela. Mas, entre a obra e o autor, só me resta a obra, há que tentar... A autora estava na dela.

sábado, junho 04, 2005

Girl talk ou Girlie is my middle name ou Entra na conversa

Demorei tempo a aderir à denominada "girl talk"... por vezes, nem assistir conseguia. Era-me difícil, impossível até. Não entendia.

O que é a girl talk, perguntam vocês? É tudo aquilo que se imagina e ainda mais. Ou seja, não estou aqui para reforçar o estereótipo, do género as raparigas falam disto e daquilo, e os rapazes de aqueloutro e mais não sei o quê. Não, não pensem isso de mim: sou progressista e feminista e pela igualdade dos géneros, etc., etc.

Chamo Girl Talk às conversas que só mesmo as miúdas podem ter: menstruação, depilação, ginecologia e sensações associadas, já para não falar da gravidez, parto e amamentação... Depois há àquelas (a que chamaria conversas Girlie) que preconceituosamente as pessoas atribuem como exclusivamente das mulheres, como relações, cremes, compras, culinária, novelas, roupas ou homens. Mas disso um homem também pode falar - e fala com toda a certeza - sendo que há muitas mulheres que simplesmente não falam disso. É óbvio que qualquer homem pode ter uma conversa sobre menstruação ou aleitamento e até pode dissertar bastante bem sobre o assunto, mas não é disso que se trata, não sejam picuínhas.

Pois bem, acontece um fenómeno (a que tenho assistido ao longo da vida) das miúdas começarem a falar dessas coisas e não haver limite: girl talk ou mesmo conversas girlie. Eu poucas vezes consegui. Falar de homens não conseguia e de depilação muito menos porque seria assumir que tinha pêlos. Às vezes, é difícil assumir quem somos, como se se tratasse de uma falha não gostar assim tanto de homens ou ter pêlos.

Durante a adolescência, as minhas amigas não falavam disso comigo e eu pensava que isso seria geral. Só mais tarde percebi que eu não dava espaço para essas conversas. Depois comecei a ter o privilégio de assistir às conversas, embasbacada, como se tivesse entrado de repente no mundo das mulheres adultas, mas ainda não me achava no direito de falar girlie ou mesmo girl talk. Às vezes, é difícil assumir quem somos, como se se tratasse de uma raridade preciosa não ver as novelas ou não tomar a pílula.

Cresci entretanto. E agora acho que posso falar do que quiser. E quando as miúdas falam entre si - seja girl talk seja girlie - é bom sentir que faço parte, mesmo que as coisas sejam todas diferentes entre nós. É a isso que chamo girl talk: gajas a falarem entre si do que quiserem, mas com aquele leve convencimento de que estão a falar de algo que só elas podem falar.

Não há nenhuma conversa que me possa excluir do meu género, por haver assuntos em que não estou à vontade. Um homem não deixa de ser homem (nem passa a ser gay) por falar de um rabo de outro homem, nem uma mulher deixa de ser mulher por não saber que skip é o melhor detergente para a roupa. Andam-nos a enganar e tornam-nos ainda mais difícil assumirmos quem somos. É por isso que digo: entra na conversa, homem ou mulher, muda-a, subverte-a, alinha, concorda, discorda, mas não deixes de falar.

quinta-feira, junho 02, 2005

Auto-confissão

Passado algum tempo, percebi finalmente que tinha precisado muito, mesmo muito, de uma pessoa e nem sequer a mim fui capaz de dizê-lo. Achei extraordinário descobrir isso passado tanto tempo. Senti-me livre e aliviada por muitas razões. Senti-me triste por não ter sabido na altura. Senti esperança de não me voltar a acontecer.

Gostava no futuro de saber quando preciso de alguém e dizê-lo. Nem que fosse só para mim.

quarta-feira, junho 01, 2005

Na BASE da auto-promoção

Hoje, é lançada oficialmente a Revista Literária BASE. À venda na Feira do Livro, na tenda dos pequenos editores, e em livrarias.
O primeiro número tem como tema ERROS e, pronto, tem uma pequena história de minha autoria. Espero que corram para comprá-la! E que gostem da minha Erropção.