naperon

Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

quarta-feira, agosto 31, 2005

Eu digo batata!, tu dizes batata?!

Ontem, fui jantar com uma amiga de quem já falei. Depois de termos estado um bocado no Bar Entretanto (uma das melhores vistas de Lisboa), no Hotel do Chiado, decidíamos onde íamos jantar.

Ela - Então o que é que te apetece comer?
Eu - Apetecia-me portuguesa.
Ela - Hum... portuguesa?
Eu (com um sorriso maroto) - Sim... batatas fritas... hihi.
Ela (careta) - Batatas fritassssss?
Eu (boa consciência) - Sim, mas não faço questão. É só a minha tendência natural para os hidratos de carbono... não ligues. Pode ser qualquer coisa. O que é que te apetece?
Ela - Há ali em cima um restaurante, o Oriente, que é muito bom. É buffet e não é muito caro. Já foste?
Eu - Hum, acho que sei qual é. Não, nunca fui. Então, Oriente, hã? É o quê? Chinês, Japonês,...?
Ela (com um sorriso comprometedor) - É vegetariano, macrobiótico (ana vicente com cara de messenger). Mas a comida é muita boa, tem sabor...

Adeus, batatinhas fritas!

A comida é mesmo boa, vale a pena. Não se pode fumar, por isso tive de compensar à saída. E tanta coisa saudável também não me faz bem, mas eles, graças a Buda, tinham cerveja.

E, sem dúvida alguma, uma grande conversa numa grande noite!

Estamos na rentrée...

E os projectos que desenhei nas férias ganham forma a olhos vistos.

Estou contente! A palavra já corre.

Trova do vento que passa

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.


Manuel Alegre


Só por isto, Manuel Alegre seria o meu candidato à Presidência da República.

Duas notas para quem duvide da contemporaneidade deste poema:
- Rasganço, de Raquel Freire;
- e PacMan a cantar este poema - verdadeiramente sublime.

terça-feira, agosto 30, 2005

Mae, perdi a cabeça! (ou um post para ler com amor)

Há uma tradição entre os Vicentes. Nem sei bem se se pode chamar-lhe tradição - é mais uma herança genética ou educacional, talvez, que assume diferentes comportamentos em mim, no meu irmão e no meu pai.

Somos distraídos.

No caso do meu pai e infelizmente sem termo de comparação anterior (não me lembro de distracções na minha avó e do meu avô não me lembro de todo), ele apresenta-se como o mais distraído dos Vicentes. A sua fama precede-o e disso já ninguém o livra, mesmo não havendo por aí muitas histórias recentes.

O meu irmão é o que chamaria um distraído prematuro. Se tem de começar a procurar, acha logo que já perdeu! Mas normalmente basta procurar para saber que não perdeu.

O meu caso, bom o meu caso é diferente. Digamos que eu sou uma distraída em negação. Nunca consigo acreditar que acabei de perder uma coisa. Resisto até ao limite. E, no final quando todas as minhas tentativas sucumbem, ligo à minha mãe, é claro. Ela está livre desta linhagem - não perde coisas - e saberá o que devo fazer.

Ontem, aconteceu-me algo semelhante. Mas não eram umas chaves ou um cartão... era o meu carro. Não que não soubesse onde o tinha estacionado, não, tinha a certeza que estava ali naquele sítio onde estava outro! Levaram-me o carro, pensei. Mas estava bem estacionado. Se calhar, roubaram-no, mas quem haveria de querer um carro tão velho? Liguei à minha mãe. Ela lá me disse o que tinha de fazer. E eu, atarantada, comecei a andar e logo o vi, ainda ao telefone, todo saído, todo composto, o meu carrinho. Um erro de cálculo a que acrescentei alguma histeria.

Dirão agora vocês: afinal não estás assim tanto em negação. Pois não, estou a melhorar. Já sei que me é possível perder coisas. Já sei que sou desorganizada. Já perdi recentemente as chaves do carro, pensei que tivesse perdido as chaves de casa e perdi o cartão do Seguro de Saúde (que, já depois da 2ªvia, foi encontrado em local inusitado). Por isso, ontem não estranhei que também tivesse perdido o carro. E começo a assumir que também eu sou distraída, em vez de atribuir tudo à má sorte. (um exemplo de má sorte, ou de estranheza, é por exemplo o facto de aqueles papéis da mudança de óleo que se colocam nos manípulos do volante voarem sempre pela janela fora do meu carro)

É por estas e por outras que começo a achar que talvez eu seja a pior dos três...

Valha aos Vicentes a Mãe Vicente que vai pondo as coisas no lugar, mantendo debaixo de olho as outras e salvaguardando uma alternativa.

segunda-feira, agosto 29, 2005

As fotos de férias

Há um frenesim nas casas de fotografias. E um "stress" inerente às fotografias de verão.

Na hora da revelação, perante uma foto menos feliz (não comigo, não pensem), considero que as máquinas digitais são a melhor opção: evitam este embaraço.

Entretanto, revelar as fotos soa a dever cumprido, mas também a declaração oficial de fim de férias. Continuo melancólica, lamento.

Reconheço mais uma vez o talento da Criança para tirar fotografias. Com apenas 4 anos, faz uns excelentes enquadramentos e até tira auto-retratos sem problemas. Como modelo nem se fala.

Havendo também fotografias digitais das férias a circular, vem o problema das incompatibilidades informáticas. Recebo queixas de quem não as consegue ver e comentários simpáticos de quem as vê sem problemas. Há ainda quem não veja as fotos e depois diga ah, não percebi.

Enviamos as fotos como que a dizer: olhem, é verdade, eu tive mesmo férias e vejam como foi divertido. É um grito de vida, uma espécie de tentativa de redenção. Pensamos, ao ver as fotos, pronto, tive direito a isto, mas agora só restam estas provas, agora estou de volta.

No rolo que revelei agora, há ainda fotos da festa de fim do ano lectivo da escola da Criança. É impressionante: são iguais às nossas de há 20 anos. As crianças em fila, os espectadores babados, até as paredes são iguais... É verdadeiramente incrível ver o tempo passar... Por isso, há as fotos. Numa foto tirada há 20 e tal anos, dois amigos descobriram, na idade adulta, que tinham sido coleguinhas da Primária. Ver assim tais fotos é a constatação que também a Criança será esse adulto.

O post melancólico do regresso

Esta noite parece que o Verão acaba. Tenho essa sensação. Não lhe dou muita importância. Consigo reconhecer a melancolia.

Esta noite regresso ao Naperon, dizendo-vos:
- Lisboa é uma cidade imperfeita que adoro também por isso;
- Gostava de ver mais comments no último "Conversa a 13";
- Há quem parta para Cuba amanhã deixando-me um certo vazio na cidade por oito dias;
- Nem quero ver a minha folha de planeamento amanhã na oficina;
- Há vida para lá do blog;
- Passem pelo Castelo de S.Jorge, para ver o Festival Internacional de Máscaras e Comediantes e divirtam-se. Já vi "As desventuras de Isabella" e é hilariante. Commedia dell'Arte no seu melhor;
- A Sandera só volta daqui a uma semana e meia, pfff, tenho saudades da minha boa amiga;
- Ao fim de um ano, descobri que estou a escrever um livro (o tal épico) sobre nada e fiquei contente;
- Tenho um amigo que ontem me pareceu apaixonado. É bom rever esse quadro;
- Pergunto-me qual será a estação do ano ideal para a tomada das grandes resoluções;
- Um flirt, dois flirts, três flirts. Cadê o amor?
- Estou com jet lag, mas não voei;
- E, finalmente, bom dia. Aqui estou eu.

domingo, agosto 21, 2005

De passagem - um post pleno de cansaço bom

Entre a aldeia dos meus avós e a Ericeira, paro na Graça, para alguns apontamentos.

Há caminhos que não se esquecem e normalmente terminam num lugar maravilhoso.
O passado vale mais quando se tem crianças, sentimos que lhes deixamos algo.
Gosto do amor de família.
Vê-se no céu o fogo.
Se há água, tomo banho.
No auge da vida, temos mais medo de saltar do que aos seis.
Afinal há café no Cadafaz.
Se não gosto de uma piada de um primo rural, isso faz de mim uma arrogante ou uma pessoa demasiado séria?
Não sinto falta do mundo.
Os insectos são nossos amigos? Quando um gafanhoto saltou para o nariz da Criança, ri-me, por isso devem ser.
Queres ouvir a história do J ou queres levar porrada?
Fala-se açoriano na Beira Baixa.
Aaaachas?
Oh!

Dedicado a todos os que passaram estes dias fora do mundo comigo, especialmente às Crianças, à minha e à destemida - Como disse o meu irmão: se, em adultos, forem amigos, farão uma dupla imparável.

sábado, agosto 13, 2005

Afinal ainda cá estou

Tenho um motivo de força maior para voltar a escrever-vos, mesmo depois de ter ido de férias. Ontem estive no concerto dos Clã em Monsanto. Vocês bem sabem, por aquilo que já escrevi aqui e aqui, que os considero a melhor banda do mundo.

Pois bem... ontem não só a Manuela Azevedo vestiu a t-shirt que lhe atirei para o palco, como, no final, estivémos a conversar com ela. As minhas férias começaram bem, muito bem.




Ok, com detalhes para fãs que se interessem: foi uma louca aventura o concerto!
Atirei a t-shirt (tinha outra vestida) movida sabe-se lá porque impulso - era uma t-shirt vermelha dos Clã, que comprei no concerto no Olga Cadaval - e ela ficou mesmo à pontinha do palco. Ninguém sequer reparou. Ao terceiro encore (que concerto, meu Deus), quando estão todos a agradecer cá à frente, eu e a minha amiga RV começámos a gritar e a apontar para a t-shirt e taram! A Manuela viu-a! Perguntou quem tinha atirado, agradeceu-me e, enquanto eu pensava não cheires não cheires, ela veste-a. Fiquei boquiaberta, aos gritos, boquiaberta, aos gritos, enquanto ela estava ali a cantar e a dançar com a minha t-shirt vestida.
No final do concerto, pedimos a um rapaz que tinha estado o tempo todo a tirar fotos com o telemóvel para me enviar um filme da Manela com a minha t-shirt vestida. Juro-vos: ser fã histérica deve ser isto, suponho. Boquiaberta, aos gritos, boquiaberta, aos gritos...

Depois, sob o pretexto da t-shirt e com o empurrãozinho da JV (obrigada!), lá seguimos nós todos, para aí umas oito pessoas, para os bastidores. E lá ficámos a conversar com a Manuela Azevedo e com o Miguel das teclas, muito acessíveis, muito simpáticos, com grande sotaque. Eu pedi os contactos para enviar o meu livro, mas enquanto os outros falavam, eu dentro da minha cabeça estava boquiaberta, aos gritos, boquiaberta, aos gritos... Assim fiquei eu perante a Manuela Azevedo - perdi a inteligência. Mas o que ganhei em excitação, contentamento e energia compensou!

Agora é que é - entretenham-se! Eu por mim já ganhei um sorriso para dez dias!

sexta-feira, agosto 12, 2005

Keep your spirits high

Vou de férias. Duas semanas.

Pelo meio talvez apareça por cá. Mas devo dizer que, desta vez, não há nenhum acontecimento que tenha pena de perder. Principalmente porque hoje vou ver os Clã, eheh.

Entretanto, vão mantendo isto vivo! Até já!

Conversa a 13 - Férias

Este é o último Conversa a 13! Dedicado às Férias! As de sonho e as outras também. Contem-nos tudo!
Vamos de férias, antecipámos um dia, e quando voltarmos, já não há mais Conversa a 13 para ninguém. Mas haverá outra coisa...

Aproveitem que não vai estar cá ninguém para controlar!

Entretanto, Boas Férias, Bons Comentários!

O momento certo - desbloqueio

Há quase duas semanas que tinha o meu quarto com brinquedos espalhados pelo chão. Desde que a Criança tinha estado comigo pela última vez antes de ir de férias para o Algarve. A dois dias do seu regresso e da nossa consequente partida para a terrinha para uma semana de férias com rio e montes e floresta, finalmente arrumei os brinquedos.

Agora que está a voltar, já posso arrumar tudo sem ter medo das saudades.

Rituais - O Funeral

Usar aqui a palavra Funeral parece-me escasso. Gostaria antes de falar da Cerimónia da morte. A morte tornou-se invisível nas grandes cidades, às vezes até para as famílias. O luto parece não ter lugar e, muitas vezes, sinto que nem começa. Crescemos sem presenciar a morte, sem acreditar nela, até ao momento em que ela nos entra de rompante.

Imagino que um ritual de morte perfeito seja um que celebre a vida da pessoa que morreu. Que seja pensado, que demore tempo, que as pessoas se reúnam para aquele objectivo concreto de celebrar uma vida que chega ao fim e assim iniciar o seu luto. Não acredito que possa ser alegre (embora possa ter alegria), mas acredito que possa ser catártico e que nos ajude a confrontar a vida tal como ela é: acaba - a morte existe.

Para quê, mais uma vez? Por que acho esse ritual necessário?

Porque detesto viver na ilusão. Porque acredito que o nosso caminho na vida deve assentar na verdade. E acho que não há verdade mais incontornável que essa.

Nos dias que correm, podemos passar uma vida inteira (uns bons 30 anos se tivermos sorte) sem mortes directas à nossa volta. No entanto, também podemos ter mortes próximas sem as tomarmos como reais. Conheço experiências alheias de pessoas que assistiram à morte de alguém e, a partir daí, o mundo descambou - porque não era uma realidade pensar na morte, porque não era sequer uma possibilidade. Se tivermos contacto desde cedo (nao sei precisar a idade, não sou psicóloga, mas imagino que a partir dos seis anos, bom não sei), essa realidade torna-se palpável. Não acredito que possa alguma vez deixar de ser um choque, mas pelo menos aceitá-la já seria um passo importante. Com um ritual em que uma comunidade está presente, integrada e focalizada para o indivíduo que morreu, será mais fácil começar o luto e aceitar a ausência, aceitar a puta da morte.

Ter uma boa relação com a morte é uma utopia que nem sequer considero desejável. Mas ter uma boa relação com as emoções que a morte nos desperta, isso sim é desejável. O problema é esse mesmo: não conseguimos lidar com a tristeza da perda absoluta. A maior parte das vezes, sentimos raiva ou bloqueamos qualquer tipo de emoção. Passei pela morte de dois avós e, antes de morrerem, quando pensava na morte deles, sentia-me triste. Quando morreram, bloqueei tudo e, com a morte de um deles, passado um mês, não me conseguia lembrar as circunstâncias da morte. No funeral do outro, afastei-me e sentia apenas vazio. Ainda hoje, entro em casa da minha avó e fico surpreendida por não estar lá o meu avô. Depois vemos fotos, vemos imagens e temos um choque - alguém que sempre esteve presente, deixa de estar, desaparece.

Bom, isto está a complicar-se. Falemos de casos concretos de rituais. Em aldeias da província, mantém-se ainda o hábito de se reunirem as pessoas em casa da família - levam comida e por lá ficam. Há a história de uma miúda que nasceu na terrinha e, quando um avô morreu, ajudou a lavá-lo e a vesti-lo. Era uma criança e, de certeza que está mais bem preparada para a morte do que qualquer outra miúda da cidade. No Judaísmo, soube, reuniam-se as pessoas durante sete dias em casa dos familiares do morto. Vi isso na série Once and again, mas aí reduziram a coisa para 3 dias. Três dias já parece imenso. Obviamente que esta ideia de ritualizar a morte tem muito a ver com um imaginário norte-americano - lá, vemo-los a fazer homenagens às pessoas. Cá, desfilamos, carpindo, até ao buraco na terra e levamos com uma cerimónia religiosa, escassa, aquém. Parece que nem há mortes laicas. Nos velórios, as pessoas quase sempre evitam o morto. Por cá, tudo é para dentro e, quando é para fora, é carpido, é um lamento lancinante. Não há comunhão da morte, solidariedade. Somos demasiado fechados para isso, parece-me.

Tal como no casamento, não sei qual é a expressão certa para este ritual da morte - para mim, gostaria que houvesse música, mas isso não é para aqui importante. Mas sinto uma necessidade profunda de tornar visíveis os nossos mortos e, com eles, a Morte. Até a nossa própria morte. E isto nada tem de mórbido, pelo contrário. É por amar a vida que o defendo. Não quero vivê-la como medo de olhar em frente.

quinta-feira, agosto 11, 2005

Almoçarando XII - Nao me parece!

AM a rir-se a bandeiras despregadas. Ri-se, ri-se, como só a ciganita sabe fazer.

Diz é pá, esta conversa dava um grande almoçarando.

Rituais - O Casamento

O Casamento é, sem dúvida, um ritual que nos faz falta. Não gostaria de entrar pelos meandros da indústria do casamento, nem pela concepção patriarcal do mesmo, nem pela "mentira" que é o casamento, nem pela impossibilidade que ele eventualmente será. Não gostaria, mas bem sei que essas questões se poderão levantar em vós. No entanto, gostaria que tomassem isto em consideração: falo da cerimória do casamento (the wedding) e não do casamento em si (the marriage).

O ritual do casamento - por que o acho necessário?

Supostamente, duas pessoas que se amam tencionam passar a sua vida juntos, construir projectos em comum, fundar uma nova família, uma nova estrutura, uma nova base. Duas pessoas que se amam querem celebrar perante o mundo o seu amor - é bonito. Mesmo para os mais cínicos (are you talking to me?), esta é uma ideia bonita. Não interessa se vão ou não passar o resto da vida juntos, eles têm essa intenção. E essa intenção, ainda mais nos tempos que correm, é digna de nota. É digna de festa, é digna de reconhecimento.

E, dirão vocês, mas se é isso por que é preciso fazer uma cerimónia pública? Por que não se limitam a fazer esses votos em privado? Aí deixaria de ser um ritual, como falei abaixo, passaria a ser simplesmente uma expressão individual. O que interessa é o nosso amor e isso também é bonito. E obviamente legítimo (não pensem que com este post pretendo alterar tendências ou marcar posições de força). A cerimónia do Casamento é importante porque é pública, porque há um afirmar individual perante um reconhecimento colectivo.

Esse reconhecimento não assenta necessariamente, como tem de facto acontecido, em posições de poder, do género patriarcal. Ah, ela agora é dele, ela entregou-se a ele. Foi isso que matou o casamento. O que defendo é a ideia de vida em comum, mais uma vez. Também podemos dizer que o casamento assenta na ideia de posse mútua e aproximamo-nos mais da ideia de falta de liberdade, de constrangimentos sociais, etc. etc. Mas, que diabo, por onde havemos de começar sem ser pelo compromisso? O meu compromisso com uma pessoa até pode ser olha, eu quero estar contigo, mas pode acontecer envolver-me com outras pessoas, mas isso já pode ser um compromisso, se for algo pensado em conjunto, de acordo com a outra pessoa. Duas pessoas decidem ficar juntas para o resto da vida (não interessa se ficarão) - se não se valorizar isso, o que se valorizará?

O ritual é importante pela expressão, por isso a legalização do casamento dos homossexuais ser uma questão central e não acessória à luta contra a homofobia. Dois homossexuais terem a possibilidade de realizar uma cerimónia de casamento reconhecida socialmente é um passo para a visibilidade. É um afirmar ao mundo que eles/elas são reconhecidos/as como detentores do direito de constituir a sua estrutura familiar. É óbvio que sem casamento também a constituem, mas não lhes é conferido o estatuto. Não estou a falar simplesmente de questões legais, falo sobretudo de visibilidade social.

Ao contrário do que alguns esquerdistas (are you talking to me?) possam afirmar, o casamento entre homossexuais não é uma importação de um modelo heterossexual errado, é o primeiro passo para transformar esse modelo num modelo melhor, mais completo e, fundamentalmente, mais verdadeiro.

Não defendo o "casamento" de x ou y, como não defendo o "casamento" em geral. Defendo, sim, a possibilidade universal e, esperemos, mágica de concretizar, num só momento, votos de futuro perante si próprio, o outro e o mundo. Sim, acho que é isso que defendo: a celebração pública de um amor individual/duplo.

quarta-feira, agosto 10, 2005

Expressões que definem uma cultura IV

Conheço-te de ginjeira em oposição a Quem não te conheça que te compre.

Rituais - Introdução

A questão dos rituais tem sido recorrente na minha forma de olhar para o mundo. Passada a fase rebelde (para não dizer adolescente do contra) de questionar todos os rituais que a sociedade me apresentou, tenho vindo, cada vez mais, a desejar um reforço da existência de rituais na nossa sociedade ocidental e capitalista. Existem obviamente outros rituais, de comportamento essencialmente, mas os rituais de passagem parecem ter sido definitivamente expulsos pela nova mentalidade frenético-compulsivo e individualista. Os rituais foram jogados ao lixo ou reinventados como formas de conforto pessoal, muito mais individuais que culturais.

Sinto cada vez mais necessidade de rituais. Revivalismo? Talvez, mas não me parece que se esgote aí, uma vez que a ideia tem permanecido em mim há já algum tempo e não me parece que vá arredar.

Para quê então os rituais? Falo essencialmente de rituais de passagem e acho-os vitais porque parecemos cada vez mais perdidos na ordem dita natural das coisas. Quando deixa uma criança de o ser? Quando é que um adolescente já é adulto? Como se dá o luto? Como se celebra o amor? Tudo isto (e mais suponho) é feito de códigos sociais e as nossas emoções (e perspectivas) acerca disso formam-se também através desses códigos. Sem códigos, como valorizar o que são as coisas? Chegámos a um ponto absurdo de relativismo em que tudo é possível, só depende da nossa emoção? Não acredito que seja o caso, essencialmente porque não sabemos sequer lidar com as nossas emoções, pois também para expressá-las são necessários códigos e, se nunca vimos ninguém fazê-lo, como poderemos nós concretizá-lo?

Esta é apenas a ideia inicial. Uma ideia que se desenrola muito por reacção, é certo. Sendo progressista, há, no entanto, muitos estereótipos de uma certa esquerda (na maior parte das vezes, pouco progressista e bastante ortodoxa) que me entram nos nervos. A instrumentalização de tudo aquilo que, por exemplo, possa estar associado à religião católica como nocivo para a sociedade, ou de associar o casamento ao patriarcado, como outro exemplo.

Não é que eu não possa, muitas vezes, olhar para certos casos desses exemplos e sentir o mesmo. Mas a verdade é que não o associo ao ritual em si, mas à construção ideológica – passiva e pouco questionadora – por detrás e que corrói a meu ver as mentalidades.

A necessidade do ritual impõe-se-me por duas variáveis distintas:
Primeiro, porque o olho como algo profundamente individual para o colectivo, isto é uma expressão pessoal para uma linguagem comum – nesse sentido, para mim, um ritual é uma interpretação exclusiva que utiliza ferramentas de entendimento comuns, mas que é absolutamente único e intransmissível;
Segundo, porque vejo o ritual como uma ferramenta social indispensável para os momentos de passagem da vida, isto é um momento em que todos os indivíduos entram em contacto com uma certa dimensão da vida, até então desconhecida. Esse momento para mim deve ser sublinhado, pois torna a memória mais forte, mais construtiva, enriquecendo-o e à nossa vida.

Estas duas variáveis afunilam para uma ideia essencial para mim: a criação de uma comunidade em que o individual assume expressão e valor.

Nesse sentido, há dois ou três rituais sobre os quais gostaria de escrever aqui. É o que farei em posts seguintes.

As candidaturas - inspira, expira

Há um episódio do Seinfeld em que ele fala como é difícil fazer novos amigos quando se é adulto (ele diz depois dos 30, mas para aqui é irrelevante). Quando somos pequenos, basta termos em comum gostarmos de sumo, mas em adultos dizemos tu pareces ser uma pessoa porreira, mas neste momento não estamos a aceitar candidaturas, estamos cheios.

We're stuck with the friends we have. Fazemos as coisas com eles.

Gosto de apanhar ar, preciso de respirar cá fora, pois muitas vezes corro o risco de asfixiar. Desenvolvi nos últimos anos asma emocional - quando vêm muito para cima de mim, o ar começa a faltar-me. Apanho ar com as pessoas. Asfixio com as pessoas. É uma contradição permanente.

Vou aceitando as candidaturas para logo em seguida ser (outra vez) como o Seinfeld noutro episódio, em que a Elaine lhe diz acerca de um novo namorado tens de conhecê-lo, vais mesmo gostar dele. Ao que o Jerry responde: por que é que as pessoas me dizem sempre isso, vais gostar dele? Eu odeio toda a gente.

Gosto de pessoas. Mas tenho tendência para me fechar. E depois asfixiam-me. Vou respirar, mas deparo-me com a dificuldade de haver candidaturas abertas. Sou persistente e podem tomar-me como insistente ou sempre disponível, o que dado o meu problema de asma, não é verdade.

Vai daí, viro-me para o lado e digo vamos apanhar ar? e quando a outra pessoa diz que sim, que bom que é. Aí está um amigo.

terça-feira, agosto 09, 2005

A cigarra e eu

Ao telefone, de férias no algarve, a Criança diz-me que viu dois grilos e uma cigarra. Reajo como se fosse a coisa mais extraordinária do mundo, claro! EEEEEEEEHHHHH que fixe, dois grilos e uma cigarra. Ele continua e diz-me que a cigarra só tinha uma perna. Eu penso "que nojo!" e digo "coitadiiiiiinha da cigarra". Ele responde, com bastante desembaraço e algum espanto perante a minha reacção, "mas a cigarra anda, tem só uma perna mas anda".

A Criança dá-me uma grande lição! Quais coitadinha, a cigarra anda, pá, 'tás parva?

Assim como podem evoluir as mentalidades se perpetuamos um preconceito tão feio como este perante a deficiência? Força, cigarra maneta, aguenta-te e mantém-te por aí! E, tu, Ana Vicente, devias ter vergonha... pareces uma formiguinha! Devia era ter perguntado se a cigarra ainda cantava.

Arrebenta a bolha!

Pois bem! Tudo começou com uma brincadeira e de repente as coisas transformaram-se num pesadelo bloguístico.

Não, nenhum blogger andou a correr atrás de mim ou da minha boa amiga. Eu e a Sandera simplesmente decidimos revelar as nossas caras nos perfis. Parecia uma coisa simples, era só escolher uma fotografia e pronto. Mas não. Eu decidi primeiro pôr uma foto em que estou com o meu famoso chapéu de comboy, comprado quando fui madrinha de casamento deste moço e da noiva também, que ninguém via, que só eu via. Mas isso era uma questão estética e um piscar de olho para o jctp. O problema foi mesmo a concretização da coisa. E os downloads que eu fiz ontem à noite para perceber, duas horas depois, que era tão simples, tão simples, tão simples...

Enfim. Hoje de manhã, pensei que a coisa tinha acabado. Mas não. Lá me decidi a pôr uma fotografia visível. Mas o diabo do profile só aceita fotos com menos de 50 K. E foi para aqui um andar para trás e para a frente de emails com a Sandera a mexer e a tirar um anel do meu dedo e a formatar e sabe-se lá mais o quê. Horas nesta brincadeira.

No fim, fiquei com uma tremenda dor de cabeça. Tudo isto num blog que não quer ter imagens. E ainda por cima nos comments lá aparece também a nossa foto. Parece que tirámos o dia do Narciso, mas nenhuma de nós lhe apetece tanta vaidade e já não se aguenta nada disto.

Pronto, as nossas caras aí estão. E o diabo é que decidimos pôr uma foto das duas aqui na primeira página do nosso Naperon. Espero que seja fácil se não atiro esta porcaria toda ao ar.

Xiça, precisamos mesmo de férias. Qualquer dia, este naperon tinha folhos.

I'm singing in the rain

Chove!!!!!!!!!
É caso para levantar as mãos para o céu e gritar com esperança.

segunda-feira, agosto 08, 2005

A sesta

No sábado, estive numa praia superpovoada.

Como não me apetecia dormir nem ler nem fazer nada, pus-me a olhar para as pessoas. Ao meu lado estava um homem, na casa dos cinquenta anos, sentado numa cadeira de praia a ler o pequeno guia do Expresso. Ou, deveria dizer, a tentar ler. Pois, os olhos do pobre homem teimavam em fechar-se. Conseguia sentir o peso nas suas pálpebras e, à medida que os olhos se fechavam e abriam, a revista ia escorregando das suas mãos até cair definitivamente na areia, quando os olhos se fechavam por completo. Se uso o Pretérito Imperfeito, é porque foi um processo demorado e repetido durante algum tempo.

A revista caía na areia, ele acordava. Olhava para a frente a ver se alguém tinha reparado, abria muito os olhos e voltava a fitar as páginas do pequeno guia. Nem um minuto passava, até o processo recomeçar. Esteve nisso os bons 20 minutos que estive a olhar para ele. Ao princípio, estava divertida, mas depois comecei a desesperar. Que raio, por que é que o homem não se encosta simplesmente e aproveita o soninho bom de praia?! Que fixação é esta em ler o guia do expresso, que aliás nem tem nada para ler?

Que desconsolo, pensei. Estive mesmo para ir ter com ele, abaná-lo e gritar: RELAXE, senhor! DURMA À VONTADE QUE NINGUÉM QUER SABER. A SUA MULHER ESTÁ A DORMIR! POR QUE NÃO HÁ DE DORMIR TAMBÉM?!

Mas de nada adiantaria. Não entendo por que é que gritar a alguém "relaxe" não faz essa pessoa relaxar...

domingo, agosto 07, 2005

Pleno dia numa rua de Lisboa

Há menos de uma hora, estive perante uma situação que me impressionou bastante. Vinha do cinema e, enquanto subíamos pelas escadas do Metro que fazem a ligação entre o Corte Inglès e a rua, vimos um homem a atirar uma mulher ao chão. Corremos pelas escadas acima e cruzámo-nos com o homem a correr na direcção oposta. No chão estava uma velhota, com bem mais de 70 anos. Sentada com a blusa meio rasgada, a senhora gritava. Corremos para ela, tinha sido assaltada, não sem resistir. O homem tinha-lhe levado o colar com um medalhão que era da mãe, que morreu há 36 anos. Estávamos com a senhora a tentar perceber se estava bem, quando o assaltante corre de novo pela rua abaixo seguido de um homem com uns bons 40 anos. O meu irmão, que estava comigo, desatou a correr também atrás deles. Eu fiquei com a senhora e passou ainda outro rapaz a correr. A senhora estava bem fisicamente, ainda no chão. Entretanto, o meu irmão voltou. Levantámos a senhora que estava muito nervosa. As poucas pessoas que estavam ali num Domingo de Agosto em Lisboa começavam a juntar-se à nossa volta, a maior parte a uma distância razoável, meio atordoada com a situação. A senhora começou a ficar mais emocionada a falar do fio. Eu também, perante aquela mulher com idade para ser minha avó, completamente indefesa. Falou obviamente no Salazar, mas isso é o menos importante. Chegou um homem a dizer que tinha visto tudo do carro, que se pôs a apitar, mas não estava ninguém, que se estivesse armado lhe tinha dado uns tiros. A velhota despedia-se de nós com dois beijos e com a voz embargada quando chegou outro homem a dizer para ela esperar, que as coisas dela já vinham. Pelos vistos, o assaltante tinha-se assustado com a perseguição e tinha largado as coisas no caminho. Esse homem disse eu estava no jipe, ia-lhe dar uma trancada, passava-lhe por cima. Continuámos à espera que aparecessem as coisas da senhora. Chegaram pela mão de um rapaz com feições asiáticas. O homem mais velho que tinha perseguido o assaltante ofereceu boleia à senhora. Nós descemos até à esquina e ficámos ali uma boa meia hora, meio atordoados. Um espanhol abordou-nos e perguntou o que se tinha passado, perguntou se o ladrão era preto. Não, era branco. O ladrão era um branco com um ar perfeitamente normal.

Não sei se devíamos ter reagido mais rápido, não me parece que fosse possível. Ajudámo-la. Meia dúzia de pessoas juntaram-se para auxiliar aquela mulher, a quem tinham tirado o fio da mãe, que morreu há 36 anos. Pessoas diferentes aliadas por um certo sentido de comunidade. Salazar, preto, tiros, atropelamento nas frases misturadas de quem ajudou com grande dignidade aquela mulher. Há diferenças que não contam muito em certos momentos. Era um português, um chinês e um espanhol... e não havia anedota nenhuma para contar. Fiquei meio atordoada, já escrevi, com sentimentos contraditórios. Roubar e atacar uma velha indefesa durante o dia numa rua de Lisboa. As pessoas agirem. Assistir a tudo, como se não estivesse a acontecer, ao mesmo tempo que é a única coisa que está a acontecer. Fiquei agitada. No meio daquilo tudo, admirei e estranhei aquelas pessoas. Ajudei a senhora que gosta do Salazar. Ainda pensei naquele assaltante a fugir com cara de desespero, um homem que agride uma velha, para quê, porquê? Para onde terá ido?

Em certos momentos, tudo se funde. Somos todos vítimas e culpados de alguma coisa, mas hoje estava no meio de uma rua de Lisboa uma velha atirada ao chão. E não entendo porquê, nem consigo aceitá-lo. A velhota é a coitada, o ladrão o filho da puta, os homens que o seguiram os valentes, eu a menina boazinha? Quem somos nós no meio de uma rua de Lisboa? Hoje fomos uma comunidade, com tudo de bom e de mau que isso tem para nos dar.

sábado, agosto 06, 2005

Ode à Sara de Castro

Muitas vezes tenho pudor em dizer aos meus o quanto os amo, o quanto os estimo, o que quanto os admiro. Às vezes, fica mais fácil quando são tão talentosos. É o caso da Sara de Castro, grande actriz, grande amiga, grande mulher.

Isto a propósito (lá está, assim é mais fácil) da peça Ensaio sobre a Cegueira, do Bando, neste momento em cena, e até 18 de Setembro, no Teatro da Trindade. A Sara entra e é magnífica. Há muitos anos (já são oito, ó Sara) que a conheço e que adoro o seu trabalho de actriz. Aconselho-vos a irem, pois além dela têm ainda as excelentes interpretações do Gonçalo Amorim, Pedro Gil, Miguel Moreira, Rita Calçada, Maria João Pereira, Romeu Costa, entre outros. A história, como quem sabe quem leu o livro do Saramago, é excelente e a peça dá-nos parte daquele peso e brutalidade. Há muito tempo que não via uma peça do Bando em que o cenário funcionasse tanto a favor dos actores - normalmente tenho a percepção de que eles são mais um elemento usado do que um elemento central.

De qualquer modo, e podem crer que ela está soberba, queria só aproveitar-me deste momento de talento para expressar publicamente a grande admiração e amor que tenho por esta mulher magnífica. Sem ilusões ou palanques, é uma amizade que nasce de um carinho profundo e que, todos os dias, quase sem dar conta cresce ou alimenta-se um pouco mais.

sexta-feira, agosto 05, 2005

We need a rest...

...aurant.

Acabamos sempre no CasaNova.

Almoçarando IX - Conversa de gaja

Eu - É pá, fiquei cá com um TPM* este mês, xiça! Sorte tens tu por estares livre disso durante nove meses.
Sandera - Ah pois! No outro dia fiz uma limpeza geral e deitei fora os tampões todos que tinha...
Eu - Deitaste fora os tampões?! Estás tolinha?
Sandera - Não, não preciso deles. Para que é que os quero?
Eu - Sei lá, podias ter dado a alguém.
Sandera - Pffff, nem me lembrei. Como já não preciso disso...
Eu - Boa amiga, detesto ser eu a informar, mas sabes que depois volta?
Sandera - Sim, eu sei, mas quando voltar já há no mercado coisas muito mais modernas que tampões.
Eu - ... ?!

(Sandera afasta-se a fazer a dança da vitória)

*TPM - Tensão Pré-Menstrual

Ontem Dalai Lama, hoje pedido de casamento

Hoje recebi por email um pedido de casamento. Não para mim, don't worry, mas de alguém da minha família que partilhou connosco o seu pedido formal de casamento.

Foi bonito e inspirou-nos a todos a enviarmos mensagens de parabéns e felicidades. Foi também estranho, é claro. Mas, no fim de contas, o que importa é gostarem um do outro e serem felizes. Por isso desejo-lhes aqui muitas felicidades.

Continuo a achar, hoje ainda mais, que, embora estejamos já todos muito habituados às novas tecnologias, há ainda muitas coisas que nos surpreendem. Atenção ao abrirem os vossos emails, é o que vos digo.

E VIVA O AMOR!

Ah hoje é que é sexta-feira

Andava com essa sensação desde 3ª.

quinta-feira, agosto 04, 2005

Post a piscar o olho ao flirt IV

Enguiço (1990)
Adriana Calcanhotto

Eu hoje ando atrás de algo impressionante
Que me mate de susto
Um impulso, um rompante
Que é pra me desviar desse mar de calmante
Rodei New York inteira e não te achei
Você mora em Belém
Eu sempre andei atrás de alguém pra andar na frente
Ah, eu quis me apaixonar assim perdidamente
Um engano redondo
O ciúme intuiu meio tarde demais
Ah, o meu orgulho já perdeu teu endereço
Mas o meu coração não
Eu não
Eu não esqueço
Eu hoje ando atrás de algo impressionante
Que me mate de susto
Um discurso, um romance
Que é pra me desviar desse mar de calmante
Rodei Belém inteira e não te achei
Você mora com alguém...

Hoje recebi um email do Dalai Lama

Espero que o mensageiro consiga realizar o seu desejo.

Nesta história dos emails de corrente, a nossa recepção e reacção passa exclusivamente pelos seguintes factores:
1) quem nos enviou;
2) a quem podemos enviar;
3) o nosso desejo;
4) a disponibilidade do momento em acreditarmos em coisas que não fazem sentido nenhum;
5) medo de ameaçarmos a qualidade do nosso karma.

Hoje, o factor 1 venceu, fazendo-me perder uns minutos num teste que já tinha feito. [Ao que parece só o dinheiro para mim é menos prioritário que o amor, estando o orgulho em primeiro lugar. Mas por favor quem vai escolher uma ovelha como animal preferido quando tem um tigre à escolha? Ovelha representa amor? O que vale é que estava lá o porco -o vil dinheiro- para não nos sentirmos uns frios calculistas... E a ideia de o café representar o sexo, hum, genial. É claro que respondi estimulante, pois. Ah e o adjectivo que usamos para o rato descreve os nossos inimigos... quem diria, um animal tão adorável.]

Parece que factores 2, 3, 4 e 5 hoje são nulos, o que evitou que espalhasse a corrente. De qualquer modo, Sinto orgulho em ajudar à concretização do bom karma do mensageiro e à concretização dos seus desejos. Orgulho, lá está. Factor 1, pois é. Este post deve ser factor 3, piscando o olho.

quarta-feira, agosto 03, 2005

A boa pessoa mau carácter (post cáustico)

Existe uma espécie de pessoa que é a boa pessoa mau carácter.

A boa pessoa mau carácter é uma pessoa com bom fundo, a chamada boa pessoa, que no fundo não tem espinha dorsal e, por causa disso, faz montes de merda.

Como reconhecer uma boa pessoa mau carácter? Não é fácil. Porque normalmente temos alguma simpatia por ela, já que de facto é boa pessoa e é difícil dizermos para nós mesmos que a pessoa é fraca e não vale grande coisa. Mas consegue-se apanhá-la, porque mais cedo ou mais tarde ela revela a sua verdadeira condição.

A boa pessoa mau carácter normalmente está calada, parada, intacta. Tem dificuldade em dizer o que sente e o que pensa. Pensamos que podemos confiar nela exactamente por ser boa pessoa. Mas como a boa pessoa mau carácter não consegue dizer-nos exactamente o que pensa e sente, essa percepção é meramente intuitiva. Na verdade, a boa pessoa mau carácter está a asfixiar nela própria, enredada que está na sua própria fraqueza. Não consegue entrar em confrontos, foge dos conflitos como o diabo da cruz e, por isso, nunca toma uma posição. E, quando toma, ou é tarde de mais ou está longe de mais para levar com as consequências.

Porque a desculpa da boa pessoa mau carácter é a desculpa do sentir. E, como sabemos, quando o sentir é usado como desculpa, não é lá muito bom sinal.

A boa pessoa mau carácter é pior que um filho da puta, porque este reconhece-se à distância. A boa pessoa mau carácter não, mas o mais certo é que nos deixe na mão nos piores momentos. Que nos lixe sem intenção. Que trema o lábio quando se aperceber que fez merda. Que não assuma as consequências da sua posição, pois rapidamente a abandonará quando tiver de lutar por ela.

Gosto mais de filho da puta, a sério. Detesto ver qualidades e virtudes em pessoas fracas. Deixam de ter valor. Estamos aqui para ser livres, assumam-se. É que qualquer dia nem a pena conseguirão conquistar.

Alegadamente

É estranho pensar que a par do sucesso dos investimentos de um dos maiores grupos económicos portugueses no estrangeiro, poderá estar associado um caso de corrupção. Estranho, não por ser improvável, mas por ser desmerecedor. Por não ficar bem, por deixar de ter qualquer valor todo esse sucesso.

Será que, até para o Brasil, Portugal exporta a corrupção? Ou será antes que, dado o contexto cultural brasileiro, é necessário sujar a mão? Seja qual for a resposta, uma vez mais se poderá ter perpetuado o erro, over and over again.

Não sou liberal louca, nem liberal saudável, nem liberal de todo, mas tenho algum respeito pelos empresários, pelo espírito empreendedor. Sinto que é uma qualidade de que a sociedade portuguesa carece. Precisamos de mais. E agora vem ao lume esta notícia e fico sem saber o que pensar.

Espero que estejam enganados. Que seja má-língua, difamação, calúnia. Ficaria muito melhor a todos nós. Poderíamos ficar mais satisfeitos com a nossa internacionalização no mercado. Com o sucesso dos nossos empresários.

Ha elefantes na Graça!

Tenho o meu primeiro Bolila!

Teoria da Relatividade Aplicada

Ontem, depois de um dia de sonolência incontrolável, cheguei a casa e tinha uma carta pouco simpática da Segurança Social. A carta chocou-me, mas ter visto um episódio do Seinfeld em que o Jerry e a Elaine voltam a andar juntos chocou-me mais.

terça-feira, agosto 02, 2005

Expressões que definem uma cultura III

Andas com uma rica vida, andas.

segunda-feira, agosto 01, 2005

1 kg de humilhação

Ontem, na Calçada do Combro, vi qualquer coisa inédita: um talho que na montra tinha os nomes e as moradas de duas pessoas que estão a dever mais de 300 euros naquele estabelecimento.

Imaginem: D. Piruti, rua das hortaliças, deve neste talho 350 euros. A outra nota (duas folhas A4 escritas à mão) ainda acrescentava que era um ano de dívidas. Tudo isto ao lado das "promoções" do dia "bifes da vazia X€/kg".

Nunca tinha visto. Já vi entradas de prédios que mostram os pagamentos dos condóminos, mas isto nunca tinha visto. O nome dos devedores. Parece-me pior que cobrador do fraque. A humilhação daquelas senhoras (eram duas mulheres) que, além de não terem dinheiro para pagarem a conta do talho, ainda têm de levar com a expressão crua da sua falha. Os vizinhos dos bairros populares não são muito complacentes e não sei até que ponto funciona a ideia de comunidade. Se existisse de todo uma comunidade, provavelmente as senhoras nem teriam uma tal dívida.

A pergunta é: haverá algo que as pessoas se envergonhem mais do que a pobreza? E o poder daquele talhante que, ao mesmo tempo que abre o fiado, no momento seguinte lança a humilhação. Tenho vergonha daquele homem do talho, foi um golpe baixo. Por muito grave que seja a dívida, foi mais grave o seu gesto leviano de poder. Talhos há muitos, mas as senhoras estão bem identificadas com o estigma de não terem dinheiro para pagar a carne que colocam na mesa. Comida... numa casa portuguesa, com certeza.

Em torno de imperiais e petiscos, uma ideia

Juntem-se quatro risos particulares e faça-se um grupo coral.

Ninguém fica indiferente.