O Casamento é, sem dúvida, um ritual que nos faz falta. Não gostaria de entrar pelos meandros da
indústria do casamento, nem pela concepção patriarcal do mesmo, nem pela "mentira" que é o casamento, nem pela
impossibilidade que ele eventualmente será. Não gostaria, mas bem sei que essas questões se poderão levantar em vós. No entanto, gostaria que tomassem isto em consideração: falo da cerimória do casamento (
the wedding) e não do casamento em si (
the marriage).
O ritual do casamento - por que o acho necessário?
Supostamente, duas pessoas que se amam tencionam passar a sua vida juntos, construir projectos em comum, fundar uma nova família, uma nova estrutura, uma nova base. Duas pessoas que se amam querem celebrar perante o mundo o seu amor - é bonito. Mesmo para os mais cínicos (
are you talking to me?), esta é uma ideia bonita. Não interessa se vão ou não passar o resto da vida juntos, eles têm essa intenção. E essa intenção, ainda mais nos tempos que correm, é digna de nota. É digna de festa, é digna de reconhecimento.
E, dirão vocês, mas se é isso por que é preciso fazer uma cerimónia pública? Por que não se limitam a fazer esses votos em privado? Aí deixaria de ser um ritual, como falei
abaixo, passaria a ser simplesmente uma expressão individual.
O que interessa é o nosso amor e isso também é bonito. E obviamente legítimo (não pensem que com este post pretendo alterar tendências ou marcar posições de força). A cerimónia do Casamento é importante porque é pública, porque há um afirmar individual perante um reconhecimento colectivo.
Esse reconhecimento não assenta necessariamente, como tem de facto acontecido, em posições de poder, do género patriarcal.
Ah, ela agora é dele, ela entregou-se a ele. Foi isso que matou o casamento. O que defendo é a ideia de vida em comum, mais uma vez. Também podemos dizer que o casamento assenta na ideia de posse mútua e aproximamo-nos mais da ideia de falta de liberdade, de constrangimentos sociais, etc. etc. Mas, que diabo, por onde havemos de começar sem ser pelo compromisso? O meu compromisso com uma pessoa até pode ser
olha, eu quero estar contigo, mas pode acontecer envolver-me com outras pessoas, mas isso já pode ser um compromisso, se for algo pensado em conjunto, de acordo com a outra pessoa. Duas pessoas decidem ficar juntas para o resto da vida (não interessa se ficarão) - se não se valorizar isso, o que se valorizará?
O ritual é importante pela expressão, por isso a legalização do casamento dos homossexuais ser uma questão central e não acessória à luta contra a homofobia. Dois homossexuais terem a possibilidade de realizar uma cerimónia de casamento reconhecida socialmente é um passo para a visibilidade. É um afirmar ao mundo que eles/elas são reconhecidos/as como detentores do direito de constituir a sua estrutura familiar. É óbvio que sem casamento também a constituem, mas não lhes é conferido o estatuto. Não estou a falar simplesmente de questões legais, falo sobretudo de visibilidade social.
Ao contrário do que alguns
esquerdistas (
are you talking to me?) possam afirmar, o casamento entre homossexuais não é uma importação de um modelo heterossexual errado, é o primeiro passo para transformar esse modelo num modelo melhor, mais completo e, fundamentalmente, mais verdadeiro.
Não defendo o "casamento" de x ou y, como não defendo o "casamento" em geral. Defendo, sim, a possibilidade universal e, esperemos, mágica de concretizar, num só momento, votos de futuro perante si próprio, o outro e o mundo. Sim, acho que é isso que defendo:
a celebração pública de um amor individual/duplo.