naperon

Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

quinta-feira, março 31, 2005

Essas palavras existem

O dicionário do meu telemóvel novo não reconhecia, entre outras, as palavras NUNCA e NINGUÉM. Agora já as coloquei lá. É para que saiba que elas existem e são para usar. Às vezes é bom usá-las. Às vezes é bom dizer NUNCA MAIS.

quarta-feira, março 30, 2005

O meu caminho é melhor que o teu

Sou control freak, é um facto.
Numa das coisas em que sou control freak é a conduzir. A mim, tudo é possível - sou do género de condutoras para quem nada parece impossível. Imagino grandes perseguições e saltos no ar e, quando dou por mim, estou a vivê-los.
Mas há um ponto em que não podem tocar: os caminhos. Odeio não saber um caminho. Tenho um problema, normalmente associado aos condutores homens, e que estou a tentar resolver, que é perguntar indicações. Fico doente. Só fora de Lisboa, é que consigo fazê-lo sem sentir o orgulho ferido.

Depois há a competição. Tenho uma amiga que disputa comigo esse título de "Eu é que sei todos os melhores caminhos". Mal entramos no carro, começa. Às vezes, até tentamos evitar, mas as nossas mãozinhas estão sempre a indicar o caminho. A resposta, pelo menos a minha, é "não faças isso, eu sei o caminho!". O grave é quando a outra pessoa, a que está a conduzir em vez de nós, decide escolher um caminho que a outra não conhece ou, pior, um considerado muito pior. Aí há discussão! O meu preferido é quando a pessoa não sabe de todo e eu dou as indicações completas. Quando conduzo, no meu carro, pianinho. Eu é que sei, eu é que me engano! É triste, reconheço.

Já me aconteceu, sozinha, experimentar caminhos alternativos, que me foram propostos. Aí, sucumbo e dou a mão à palmatória. Sim, é verdade, é um bom caminho. Mas eu chegava lá... mais cedo ou mais tarde.

terça-feira, março 29, 2005

Bem vindo!

Não costumo fazer isto. Mas desta vez o amor falou mais alto. Temos um novo link, um novo blog, uma escrita com sotaque.
Bem-vindo, Kardo, às blogadas!

Boa sorte!

A melhor banda do mundo

OK, escusam de dizer que estou a exagerar. Hoje, não tenho dúvidas: os Clã são a melhor banda do mundo.
Ontem, tive, mais uma vez (a 5ª), a oportunidade de vê-los ao vivo, na Aula Magna, em Lisboa, onde já os tinha visto em Dezembro de 2000. Viva a Semana da Juventude por dar-nos o privilégio de assistir a um concerto assim!
Os Clã são tão bons em palco que é inacreditável por vezes. A Manuela (Nossa Senhora no Céu, Manuela Azevedo na terra) é uma explosão em palco. Tem uma energia que não é humana. Desconfio que seja uma deusa.
Vou tentar não balbuciar: o concerto, ontem, foi especial. Foi uma prenda para os fãs. Foi um "hit parade". Passaram todos os grandes sucessos, até fizeram uma versão incrível do primeiro de todos, ainda do Lusoqualquercoisa, o "Pois é". Quem esteve lá foi contagiado por um sentimento de completude, não tenho dúvidas.
É por isso que os Clã são tão extraordinários: além de terem discos perfeitos (Rosa Carne no topo desta idealização), transformam cada concerto num happening inesquecível.
Vi-os pela primeira vez na Expo98, convidados pelo Pedro Abrunhosa (agora são eles que o podem convidar) e não me vou esquecer.

Eles são os melhores, é só isso. A Manuela Azevedo tem um poder imbatível, nunca pára. Está sempre lá em cima. Deixa-nos a todos de rastos.

Admito a minha obsessão. Não quero saber. Sou fã, que diabo!

Uma última palavra para o vestido: obrigada!

domingo, março 27, 2005

Até brilha!

Volto da Ericeira de um dia de Páscoa (será? maldisse tanto o papa ao almoço) e chove. Trânsito, muito trânsito. As luzes dos carros na noite luzem muito mais. Chove o caminho todo. Chego a Lisboa e a cidade brilha. Está linda, esta noite, esta cidade. Nunca gostei de conduzir à noite com chuva, mas hoje valeu bem a pena.

Reluz Lisboa, inundada de beleza. Na minha rua até cresce relva através das pedras da calçada. Bem abençoada seja esta chuva nesta (também abençoada?) Páscoa.

sexta-feira, março 25, 2005

É a Páscoa, Senhor?

E continua a Igreja Católica a afastar os seus fiéis, os crentes e os indecisos, mantendo bem perto de si os hipócritas. No jornal Público de hoje (link no título) vem uma estranha notícia: o Cardeal-patriarca de Lisboa diz que a comunhão pode ser recusada nalguns casos.
Passo a explicar. Embora o Cardeal considere que o acto de receber a comunhão (para os que não estão a ver, penso que é a hóstia que dão na missa, ou se quisermos ser mais específicos é a recepção do sacramento na Eucaristia) passa pela consciência de cada crente, também diz que em certos casos, em que "a situação de pecado é pública", deve ser negada ao crente. Ah pois, porque nesses casos, há uma "profanação pública da santidade desse sacramento".
E nós perguntamo-nos: mas o que é o pecado? Será que encontraremos a resposta na Bíblia? Penso que sim, num certo sentido. Ou será nos escritos papais? Deve ser, provavelmente. Esse pecado público será pecado por decisão pública, por referendo local, por decisão da comunidade? Que pecado é esse de que fala D. Policarpo? Que público estará disposto a revogá-lo ou a validá-lo? O público que, em segredo de forma menos pública, comete os seus pecados? Lembro-me da ovelha tresmalhada e não percebo porque foi Jesus atrás dela.

Peço perdão àqueles que são mais dotados de conhecimento eclesiástico se estiver a ser claramente (ou deveria dizer publicamente?) herege. Não é, de facto, o meu forte. Apoio-me na memória e em senso comum para traçar um evangelho suficientemente digno. Mas apelo à vossa compreensão e caridade.

Um pouco mais à frente no jornal tenho a resposta às perguntas. Na pág.39 está um anúncio (publicidade) de "Um grupo de cidadãos empenhados na defesa da vida" a dar os Parabéns ao Papa João Paulo II, no "10º aniversário da encíclica O Evangelho da Vida". Neste anúncio público, estão uma série de citações dessa encíclica (uma carta postular pontifícia) em que, lá está, o nosso moribundo Papa defende o valor da vida e aponta o dedo àqueles que defendem a legalização do aborto.

Quantos de nós fomos expulsos da Igreja à porta? Expulsos pela nossa consciência por não conseguirmos entrar num local que, é bem claro, não nos quer lá. Eu própria tive de sair da missa de 7ª dia pela alma do meu avô, num bairro em que publicamente não há pecado, quando o padre decidiu introduzir o tema do aborto na cerimónia. Quantos poderiam encontrar uma paz qualquer, quantos desejariam encontrá-la, se assim não fosse? Em nome de Deus, continuam-se a cometer estes crimes: a exclusão dos pecadores, a propagação da sida, a culpa de tantas e tantas gerações.
E é a Páscoa, por fim.

Boa Páscoa, portanto, com coelhos felizes e ovos recheados.

terça-feira, março 22, 2005

Pessoas solteiras desapaixonadas

Sonhas com uma pessoa à noite, fantasias com outra durante a manhã, fazes convites a outra ao fim do dia. No dia seguinte, percebes que até podes ser livre, mas o teu desejo está prisioneiro.

Uma emoção e um pensamento sobre a Primavera

A Emoção: para mim, a Primavera tem um rosto. Um rosto delicioso e doce. Há quatro anos que a Primavera ganhou essas feições. Bem hajam, por isso, todas as primaveras. Bem vinda, por isso, esta Primavera. Se há um sentido -frase retórica, é claro que há- passa por este meu recostar na cadeira, neste momento paciente, esperando e ansiando por todas as primaveras desse rosto, todas as minhas primaveras junto a esse rosto.

Adjectivos do dia: "Forte e robusto". Estou pacientemente à espera, com ansiedade.

O Pensamento: não há nada como as estações intermédias para recriar o amor. Tudo vive/morre na Primavera e no Outono (sem ser respectivamente), o resto das estações dão claridade e nitidez à vida e à morte. Adoro o ímpeto das estações intermédias. Adoro a lucidez das estações nucleares. Curvo-me perante esses dois estados e hoje abraço esse ímpeto primaveril, que me trará tanta vida/morte.

sexta-feira, março 18, 2005

Graças a Deus esse tempo passou

Eu sei que não vão compreender, vão achar obsessivo e tolo. Mas tenho de dizê-lo.

Estão a ver os carrinhos de bebé? Aqueles em que a criança já não é bem, bem bebé e, por isso, já não está virado para quem o conduz. Está virado para o mundo, para a frente.

Já há algum tempo que não tenho de lidar com a condução desse veículo, mas hoje deu-me uma reminiscência ao ver da janela uma mulher a empurrar o carrinho a uma velocidade excessiva. Foi difícil voltar a sentir aquelas coisas todas. A confusão, o desnorte emocional... O paradoxo: tu queres que a criança veja o mundo, mas, Deus, como tu queres ver a criança!!! Poder sorrir para o infante, falar sem gritar, saber se está a dormir, se não se está a babar, se está a chorar em silêncio... Há muitas coisas que estão mal nesses carrinhos de bebé. Por um lado, queres conduzi-los, pela sensação de controlo e segurança (eu é que sou a boa condutora - sim, demoro 10 minutos a chegar a qualquer lado). Por outro, queres ser a pessoa que vai ao lado, toda torta e curvada a falar com a criança, acompanhando cada gesto e cada abanar de cabeça.

Quando se vai sozinho, pode ir-se o tempo todo a falar, enquanto a criança dorme com o pescoço todo torto a cabecear no ar. E tu ali, radiante, expondo o sentido da vida e como a natureza muda e as pessoas...

Depois há aquela coisa de ver as outras crianças em sítios públicos, sentadas nos seus carrinhos, expulsas do mundo adulto de quem está com elas. Não resisto a essas crianças. Ponho-me logo a sorrir, a piscar o olho, a fazer caretas. Oh, adultos tontos.

Hoje, fiquei aliviada disso já não ser para mim, empurrar o carrinho com o bebé invisível. Agora, vamos de mão dada e nunca perco a percepção do que está a acontecer.

quinta-feira, março 17, 2005

XX (seguido de piscar de olho a Wittgenstein)

No jornal Público de hoje, vem uma notícia (o link está no título) muito interessante sobre genes e cromossomas e genomas e essas coisas da actividade genética. Aconselho-vos a ler a notícia, que é de facto interessante, porque o que se segue é um grande disparate.

Ora bem: as mulheres são muito mais heterogéneas entre si do que à partida se pode pensar e são atraídas pela inteligência. Estas são as conclusões que me interessam.

Oh meus amigos, escusavam de ter gasto tanto dinheiro em pesquisas científicas, eu já vos podia ter dito isso há muito tempo atrás.

Adoro quando a linguagem científica toca a linguagem emocional e vice-versa, entrevendo uma verdade comum. Os caminhos é que são tão diferentes e as fórmulas também. É o amor ao caminho que funda todas as proposições.

Um grande e imenso urinol ao seu dispor

Eu até compreendo. Há uma facilidade qualquer que impele àquilo. Está mesmo à mão, é fácil, cantos e paredes não faltam em Lisboa e pelo resto do país. Está-se aflito, puxa-se da pila e toca de urinar. Vê-se a toda a hora em qualquer lugar, velhos, novos, sóbrios, bêbados. Sempre com aquela atitude, estou encostado à parede, estou a mijar na via pública e então?

Ontem vi um enquanto passava de carro a mijar para a parede da estação de Sta.Apolónia. Lá dentro, há wc's. Para quê?

Eu percebo, é fácil. Tem um carácter lúdico. Mas não cheira bem, cheira ao que é, Lisboa já não vai na cantiga (não cheira bem nas bordas e cantos) e em vez de cidade branca, é uma cidade meio amarela tipo cor de mijo.

Estou cansada de virar a cara. De apertar o nariz.

No filme "Amigos de Alex" (The big chill), há uma cena em que o Kevin Kline e o Jeff Goldblum passeiam pelo campo e este último diz que o campo é uma espécie de urinol gigante. É verdade, eu compreendo isso. Em quantas viagens, no tempo das estradas nacionais e secundárias, eu e o meu irmão pedíamos aos nossos pais para parar e lá íamos fazer o que é suposto? O friozinho até era agradável, confesso.

Enquanto mulher adulta, acho que a qualquer rapazinho deve saber bem apontar para a terra, para a árvore e sentir-se macho, na estrita acepção da palavra. Eu própria estimularei isso na criança quando estivermos em pleno urinol gigante, onde a natureza suplanta qualquer ambientador de casa-de-banho.

Mas esta é a nossa cidade, o nosso país. Já não aguento vê-los de costas encostados às paredes da minha cidade. Aguentem... E pensem bem, se nós gajas começássemos a fazer o mesmo naqueles dias difíceis...

quarta-feira, março 16, 2005

Conversa a 13 - Psych@s

Todos os meses, no dia 13, o Naperon lança-vos um desafio: escreverem o que quiserem sobre um tema proposto por nós - o Conversa a 13. Aceitaremos apenas 13 comentários, por isso terão de se apressar. Durante o mês, o post Conversa a 13 ficará sempre na primeira página do nosso blog para que todos os 13 possam participar.
Vá, ponham-se à conversa.

Desta vez o tema é: Psychos.

Contem histórias, falem sobre isso, o que quiserem. Já alguém andou atrás de vocês, já andaram atrás de alguém, comportamentos assustadores e afins para todos os gostos e manias. Enfim, já sabem, o espaço é vosso. Agradecemos desde já a vossa disponibilidade.

You can't hide from the truth because the truth is all there is

Pedi esta letra emprestada à Moloko (o link para a letra na íntegra está no título).
O refrão é que me interessa. Não podes fugir da verdade. Mesmo quando ela te arranca pedaços uns atrás dos outros.
Podes fugir durante algum tempo, mas não todo o tempo. Ela vem e bate-te à porta. Tu finges que não estás durante algum tempo. Mas depois ela arromba-te a porta e parte-te a casa que pensavas que tinhas construído tão forte. Como os três porquinhos.

Há momentos em que julgo que deixo a porta escancarada, bem aberta, só para ela entrar e testar a resistência da minha construção.

Vou reunindo os destroços e construindo sobre as partes sólidas que ficam.

sexta-feira, março 11, 2005

Intrusão: the Red Square

Inaugurou ontem a exposição "Intrusão: the Red Square", da dupla de artistas João Maria Gusmão e Pedro Paiva, no Museu do Chiado em Lisboa.
Fui vê-la. Já conheço algum trabalho destes dois e se, no início, a obra não chegou completamente até mim, hoje considero-me fã.
O humor está claramente presente na obra, constituída essencialmente por filmes e fotografias. Nesta exposição, somos confrontados com mundos aparentemente absurdos, mas que no fundo evocam a realidade. Se há nonsense (e há), o sentido no entanto prevalece. Nas fotografias é-nos dado espaço para criar a nossa própria história e, não havendo narrativa, há pontos fulcrais que nos permitem construí-la livremente. Nos filmes, todos em película (16 mm), entramos numa situação em que o absurdo invoca temas bastante prementes. Para mim, são um reflexo da existência humana, a morte, a relação com o outro e o mundo na sua impossibilidade e desnorte. Talvez esteja a tentar demasiado explicar uma coisa que é, afinal, muito mais simples e por isso vou tentar recomeçar.
Na obra de João Maria Gusmão e Pedro Paiva, há ficção, não havendo narrativa. E isso dá-nos liberdade enquanto espectadores. No absurdo e no humor, não há no entanto distância porque reconheço o lado perdido da existência humana. Há uma ironia que serve de espelho do nosso próprio absurdo. E há além disso a criação de situações que estão tão bem, desculpem o termo, esgalhadas que é impossível não nos impressionarmos com o inteligência.

Não é uma arte de emoções ou de envolvência ou de deslumbre dos sentidos. É cerebral. Faz rir. É metafísica, sem ser fechada. E, desde o primeiro trabalho que vi, parece-me muito mais eficaz na relação com público. Eu sinto-me mais próxima. Não sei se foram eles que se aproximaram ou se fui eu que me aproximei. Eles saberão responder melhor.

Para convidar-vos a ir, até 22 de Maio, serve este post. Se prémios servem de argumentos, estes artistas plásticos receberam o último prémio EDP. E são bem apoiados pelo IA - Instituto das Artes.

Um conselho: escolham bem a corda com que se prendem.

quinta-feira, março 10, 2005

Homeless - reposição

Já falei desta peça do Útero há uns tempos atrás (http://naperon.blogspot.com/2005/01/homeless-um-teatro-maneira.html#comments) e agora vai ser reposta. A partir de hoje, dia 10, até dia 16, sempre às 21h30, podem ainda ver este grande espectáculo de teatro. Para uma experiência nova como espectadores, aconselho vivamente. O local de encontro é em frente ao Teatro Nacional D.Maria II, no Rossio em Lisboa. Não percam!

A partir de dia 27 de Março e até dia 2 de Abril, o Útero apresenta também "Auto-Retrato". À mesma hora, tendo desta vez como local de encontro o Jardim do Príncipe Real (ao pé da árvore grande) às 21h30. Este ainda não vi, mas estarei lá de certeza.

Informações e reservas para os números 965732982 e 965470159.

terça-feira, março 08, 2005

Ataques de estranheza

Há momentos em que as pessoas à minha volta, mesmo as mais familiares, me parecem estranhas. Quando isso acontece, não acontece com as pessoas todas ao mesmo tempo. Acontece só com algumas e nem sei bem qual é o critério. Às vezes é simplesmente neura, impaciência, desgaste. Mas há momentos em que é mesmo estranheza.

No outro dia isso aconteceu. Mas só percebi o que era quando voltava para casa e ouvia o "Radar 20 anos", um programa da Radar que só passa música dos anos 80. Passou uma versão do original dos Doors "People are strange", dos Echo & The Bunnymen. A ouvir aquela música, tantas vezes ouvida no original durante a minha adolescência, percebi. Há momentos em que as pessoas nos parecem estranhas exclusivamente porque nos sentimos estranhos. Há momentos em que o nosso olhar muda de repente, num clique, e olhamos para as pessoas na sua "monstruosidade" humana, com tudo de bom e de mau que isso tem. Mas no fundo somos nós que ficamos estranhos. Nesses momentos, queremos simplesmente alguém que nos lembre a casa. A família. Eu desejei estar com quem me faz feliz de uma forma simples. Isso seria tranquilo, familiar e muito pouco estranho.

A música que passou a seguir foi o "She drives me crazy" dos Fine Young Cannibals e, pronto, a estranheza passou. Afinal, as coisas são bem simples. Há sempre alguém que nos põe possessos e nós até gostamos da sua "estranheza".

Mulher, gaja, babe

Hoje é Dia Internacional da Mulher! Iupiiiiii! Parabéns a todas as mulheres, há que dizê-lo. Oxalá recebam flores...

A minha visão sobre o Dia da Mulher resume-se a duas questões essenciais: Luta e Celebração.
LUTA porque ainda há tanto para conquistar. Ao contrário do que possa inicialmente pensar, esta LUTA não é feita contra os homens. É feita também por eles e para eles, para nos libertarmos todos do jugo da opressão misógina, do preconceito, da violência. Se, no meu conforto burguês, posso LUTAR pela mudança de mentalidades, há ainda mulheres (não muito longe da segurança do meu lar) que têm de lutar por outras coisas, pela sobrevivência, pela integridade física, pela independência, pela liberdade, pelo orgulho. Essa é uma realidade que me faz ainda dizer, como a Madonna, que apesar de sermos o género maioritário, somos ainda tratadas como uma minoria. Uma das grandes questões relacionadas com a mulher, tem mais a ver com a expressão do Poder, do que o Poder ele mesmo. A frase "por detrás de um grande homem, está sempre uma grande mulher" é redutora e um pouco idiota, mas é significativa. Já não é suficiente o poder da alcova, aliás nunca foi. A título de exemplo, num governo com 16 ministros, há duas mulheres.
CELEBRAÇÃO porque é bom ser mulher e é bom que nos lembremos disso, que gostemos disso, que nos digam isso, enfim que façamos uma festa! Porque é bom estar viva! Porque é bom ser mãe, ter Tensão Pré-Menstrual, clitóris, mamas, e aquelas coisas todas que a Sheryl Crow fala na música dela. CELEBRAR o facto de essa ser uma realidade que não queremos ignorar - ser mulher - mas que essa não é uma condição para exclusão ou para o preconceito - ninguém nos pode impor um "ser mulher" diferente do que queremos.

Para que mais serve este dia? Suponho que para dinamizar o mercado e para dar azo a atitudes cavalheirescas e mais "companheirismo" entre as miúdas. No fundo, serve para colocar a questão. É bom? Eu sei lá. É suficiente? Claro que não.

Aqui ficam os meu parabéns, de qualquer modo e sem dúvida alguma. O meu gesto de regozijo e admiração, em relação a todas as mulheres que conheço e que não conheço e, evidentemente, em relação a mim.
Obrigada a todas!

sexta-feira, março 04, 2005

As coisas que descubro às sextas-feiras

Basta ler o jornal.
Eu tenho um problema: não consigo ler as notícias dentro do prazo em que ainda são consideradas notícias. Neste momento, em casa, estou a ler o Inimigo Público de 18 de Fevereiro. Ainda tenho muitos jornais para ler até chegar ao de hoje. Mas à sexta-feira, quase que consigo actualizar-me. Compro o jornal (os dos outros dias são sempre comprados pela minha prima roommate) e tento passar os olhos pelas "gordas" todas e, por isso, viva! estou na onda do mundo. Descubro muitas coisas à sexta-feira. Aqui vão algumas das minhas descobertas de hoje - exclusivo público versão impressa (link no título).

1. O Santana, como temíamos, ameaça voltar à câmara da cidade de Lisboa. Entro em dilema: quero ver-me livre dele já ou prefiro vê-lo esmagado de novo nas próximas autárquicas? Eu sei que ele acha que já está velho para mudar de profissão, mas, dadas as características da sua personalidade, acho que é mais fácil para ele mudar de emprego do que mudar de vida. Podes voltar, ó santaninha, cá te esperamos.

2. O Público tem novas regras de ética e um novo livro de estilo. Gosto deste jornal, mas não vou dar, não vou, não vou, 9 euros para ter o livro comigo.

3. 250 milhões de euros vão ser gastos para mandar 1000 pessoas à sua vidinha. Pomos o capital a circular - que interessa a criação de emprego?

4. Euromilhões, Totoloto, loto2, Joker e Totobola, esta semana, estão todos em Jackpot. Aí está uma informação (embora seja uma página de publicidade) que me poderia ser valiosa. Ainda por cima sabê-la no próprio dia. Mas de nada adianta, porque aquelas filas enormes afastam-me. Há anos e anos que digo a mim mesma: se queres ganhar, tens de pelo menos jogar. Se meter isto na cabeça, talvez daqui a uns meses esteja finalmente a jogar. Ainda tenho um cartão de jogador carregado com euros da altura do lançamento do portal dos Jogos Santa Casa. Sou um caso perdido, nunca serei uma fácil milionária. Quem estou a enganar? Nunca serei milionária ponto.

5. Cavaco Silva diz que o país não se radicalizou. Era bom, era! Isso queria eu.

6. Um dos candidatos à liderança daquele partido, aquele vocês sabem, defende a extinção do Tribunal Constitucional. Ó Menezes, por que é que não acabas também com a própria da Constituição? Corte-se o mal pela raiz.

7. Os votos mais originais são os nulos. É natural porque têm liberdade criativa, ao contrário dos eleitores que têm de pôr uma cruz. Podiam estipular que bastava preencher um dos quadrados, independentemente de ser uma cruz ou não. Isso estimulava que os votos válidos fossem também originais. De qualquer modo, fiquei surpreendida. Pensava que os votos mais originais tivessem sido os para o PND.

8. Michael Bolton vem pela primeira vez a Portugal. É já dia 10 de Março no Casino do Estoril. Quando vier cá pela quarta vez, o pessoal até monta tenda.

9. A primeira e última vez que falo de futebol no naperon: os bilhetes mais caros são os do Estádio da Luz e do Dragão. Depois dizem que o Sporting é um clube de betos. Ganhem juízo!

Para a semana, pode ser que descubra mais coisas. Bom fim-de-semana.

quarta-feira, março 02, 2005

Cínica ou simplesmente canina?

Ando a desenvolver um perfil, talvez uma atitude não sei que nome dar-lhe, de distância (não é sobranceria, juro) em relação aos afectos do outro, o próximo, a pessoa que não eu, o resto da malta, mas também em relação aos meus.

É uma coisa quase cândida, ao mesmo tempo que é lúcida e constante. Parece que "vejo com outros olhos", é isso (obrigada, Variações pela tua presença junto de nós, Humanos). Tudo me parece real, tangível, mas não me sensibiliza como dantes. Não me sinto desconfiada do mundo, nem um passo atrás, mas nada dá o passo à frente.

Principalmente as coisas do amor. As coisas do amor tocam-me e não me deixaram de tocar. Mas já não se prendem a mim. Já dou por mim menos dramática a dizer frases banais acerca de um assunto tão pouco banal. O amor está mais real.

"A culpa é da vontade", não resisti. Não, a culpa é dos meus olhos que se abriram num ângulo novo, que nunca tinha visto.

Quando alguém perto de mim sofre de amor, quase sorrio, não por desdém ou sadismo, mas porque reconheço a vida nesse sofrimento. É como se a pujança da vida se reflectisse em pleno no sofrimento, inclusive no meu. Especialmente no meu (o do passado, pois não tenho sofrido muito). Sei que este é um sentimento muito cristão à luz católica. Sorrio, porque vejo a vida e, embora esteja solidária, sinto que aquele sofrimento é só dessa pessoa que está a sofrer e que, mais cedo ou mais tarde, vai trazer-lhe coisas boas.

É fácil falar... mas nem sempre é. Por isso quero aproveitar.

Sinto-me um alvo fácil de desprezo para todos os que sofrem. Mas é por isso o título.

Cínico (segundo http://www.priberam.pt/)

do Gr. kynikós, relativo ao cão
adj.,
respeitante ao cão;
canino;
fig.,
imprudente;
desavergonhado;
descarado;
impassível;
ant.,
pertencente a uma seita de filósofos gregos que desprezavam as fórmulas e conveniências sociais.

Vá, chamem-me cadela! Cadela descarada.