naperon

Duas boas amigas juntam-se para desarrumar os bibelots.

terça-feira, maio 31, 2005

You've got old mail!

A crescer, nos anos belos da adolescência e até um pouco depois, fui uma pessoa de guardar. Guardava tudo e mais alguma coisa. Bilhetes de cinema, folhinhas, papéis, objectos guardados de momentos inesquecíveis (dos quais não guardava qualquer recordação momentos depois), recortes de jornal... coisas e coisas. Depois, deixei-me disso. Comecei a guardar menos, mas mesmo assim ainda tinha a carteira cheia de papelinhos ininteligíveis para o comum dos mortais, incluindo eu mesma.

Na era dos emails, voltou-me essa coisa de guardar. Primeiro os emails para e das pessoas que estavam longe, depois os de amor, depois os sérios e profundos... tudo e mais alguma coisa, lá está.

Deixei-me disso ultimamente. Agora não guardo nada, tudo se apaga. Palavras leva-as o vento, ou algo do género. E coisas, ainda menos. Ontem, a limpar ainda resquícios de hábitos antigos, deparei-me com um email de Novembro de 2002. O horror, o horror. Não há nada pior do que seres confrontado de surpresa com uma realidade esquecida, quase banida do teu quotidiano. Uma coisa é quando a pessoa vai à procura das coisas para sofrer, por puro masoquismo, outra completamente diferente é quando é surpreendida assim. Não há direito.

É por isso que acredito verdadeiramente que não devemos guardar nada do passado. Se está encerrado, guarde-se numa caixa que não se volta a abrir ou então deite-se mesmo tudo fora. Tudo o que guardamos, por exemplo de relações antigas, é para esquecer. Destrua-se. Nós sabemos que iremos ser bombardeados pelo mundo com reminiscências (músicas, filmes, cheiros, cães a ladrar, o que for...), para quê então guardar cartas, fotos escandalosas, anéis, prendas... para quê manter as coisas visíveis se as podemos simplesmente pôr de lado. Não estou a apelar ao esquecimento, ao delete completo, estou simplesmente a dizer que há coisas que nos estagnam e é bom que as larguemos.

Eu não sou muito dada a isso mas até o feng-shui o diz. Liberte o seu espaço de energias estagnadas. E a verdade é que não é só espaço, é o tempo, é a mente, é o email, é tudo e tudo.

Antes pensava que era difícil deitar coisas fora. Mas não há nada mais fácil, garanto. E é uma pura limpeza. E, de repente, a vida torna-se realmente presente e futuro.

domingo, maio 29, 2005

Pensamentos avulsos de mini-férias

(1)
O primeiro banho de mar é o melhor, o mais apetecível, mesmo na água fria da Ericeira.

(2)
À minha frente, cinco rapazes adolescentes tentam impressionar duas raparigas adolescentes. Estão a uns 50 metros de mim. Vejo-os bem porque estão num descampado. Uma das miúdas, a loura, está há vinte minutos ao telemóvel. Já se foram embora e já voltaram para o pé dos rapazes umas 2 ou 3 vezes. Eles insistem. São rapazes desocupados, meio de rua, os mesmos que provavelmente ontem à noite andavam pela terra aos gritos.
As miúdas vão-se definitivamente embora e eles começam a gritar SLB, entrecortado com comentários espirituosos como “ó boa!”.
A adolescência é-me estranha, penosa e irrita-me bastante. Sinto repúdio e pergunto-me sempre como serão em adultos e quanto tempo terão até lá chegar. Pouco ou demais?

(3)
Ao acordar sexta de manhã, não consigo evitar um sentimento de desolação. Sinto-me quase perseguida pessoalmente. Não se dá o verão a uma pessoa para tirá-lo logo no dia a seguir. Tinha planos e envolviam sol e praia.

(4)
Quando era mais nova, nas férias, os meus pais e muitas outras pessoas faziam fila para a cabine telefónica para darem notícias. Depois, eu própria, quando estava de férias sozinha (sem eles), usava as cabines telefónicas. Normalmente usávamos cartões com 100 impulsos. Antes de haver telemóveis. Hoje na Ericeira, vi também algumas cabines cheias. Estrangeiros, principalmente, mas não turistas, imigrantes brasileiros e de leste. O conceito de ligar para casa mudou substancialmente.

(5)
Sem sol, entretive-me a ver o 2ºepisódio do Star Wars (o ataque dos clones), para poder ver, agora, o último episódio. O rapazinho não é terrível, mas imagino que, com um bom actor, a personagem de Anakin/Darth Vader poderia conquistar toda a gente. Ficaríamos deslumbrados e efectivamente solidários com o rapaz. Mas, ainda não vi o terceiro, por isso…

quarta-feira, maio 25, 2005

Espelho meu, espelho meu, haverá alguém mais... do que eu?

Aconselho a todos um espelho gigantone em casa!

Estás de mau humor, a sentir-te mal amado, feio, idiota, totó, esquecido, ultrajado, etc.,etc., olhas para o espelho gigantone que tens a ocupar uma parede inteira na sala da tua casa [é uma longa história] e maravilha! Quando estás bem, feliz, contente, alegre, espirituoso, sensual, engraçado, inesquecível, também funciona. Nunca falha.
Salta, veste-te, despe-te, faz caretas, penteia-te, despenteia-te, olha para os outros de soslaio, beija de soslaio, enfrenta a fera, chora, desmascara-te, ama de frente, desmacara os outros, mascara-te, vê-te, vê-te e vê-te, tudo é possível.

Não é como se o espelho me desse identidade e muito menos a verdade. O espelho dá-me apenas uma outra perspectiva: sobre mim, o mundo e a vida. Um outro olhar é sempre bem-vindo, principalmente quando esse novo olhar é visto com os nossos próprios olhos.

E, depois, quando não precisas dele, torna-se invisível e nunca, nunca, mas nunca podes deixar que ele te faça mal. E isto aplica-se não só aos espelhos gigantones, mas também a todos os outros.

2 horas mais cedo = 2 dias mais cedo = Menos 2 pontos de défice

Hoje tive de estar no trabalho duas horas mais cedo: às oito da manhã em vez das normais dez, dez e meia. Ao sair de casa, tive uma sensação de regresso ao passado. O ar, assim respirado antes das oito, lembrou-me a escola e os verões do campismo na infância, em que oito parecia ser uma boa hora para acordar para ir para a praia. Não me lembro se realmente ia para a praia às 8, mas a memória disse-me hoje que sim, apenas pela sensação. Duas horas mais cedo, eu julgava que ia ver Lisboa deserta, uma espécie de cenário pré-espectáculo, mas não, as coisas já estavam a andar bem. Havia pormenores que marcavam a diferença: adolescentes de mochila (coisa que eu evito ver e que fui obrigada a esta hora), alguns camiões do lixo a fazerem a recolha (coisa estranha à luz do dia) e muitos lugares para estacionar perto do trabalhinho. Mas, no essencial, são oito da manhã e não sete, como eu julgava (quando um dia tiver de estar no trabalho às sete, vou mudar de ideias outra vez, mas isso não interessa).
Estou duas horas adiantada. Os meus colegas estão a chegar e eu já quero ir almoçar.
Para além das duas horas, sinto-me também dois dias adiantada. Hoje é quarta-feira, mas a verdade é que é sexta - o fim de semana começa dois dias e duas horas mais cedo, atrasando igualmente o início da próxima semana. Esta coisa das pontes tem que se lhe diga, porque subverte a ordem normal e estabelecida dos dias seguidos uns atrás dos outros com a lógica ordinal seguida da palavra feira (bizarro).
E, como não podia deixar de ser, sendo sexta-feira, embora seja de facto quarta, descobri coisas que preferia não ter descoberto: temos um governo de direita. Impostos para cima, idade de reforma para cima, modo de vida para baixo e mentalidade na mesma merda.
Quais reformas estruturais, quais mudança de mentalidade? No fundo, é fazer como eu: adiantar duas horas, dois dias e pronto, tudo resolvido! Onde estão as grandes mudanças? Para tapar buracos, qualquer um serve.

E por muito que eu vá avançando dois dias, continuamos atrasados 20 anos. A esta velocidade, não dá. Valha-me a ponte!

terça-feira, maio 24, 2005

Livros vs. Jornais (vitória em casa)

A um dia da abertura da Feira do Livro, exponho o duelo em que me vi enredada nos últimos meses, traçando um possível elogio à literatura e ao acto de ler.
Talvez tenha de recuar um pouco antes. Desde que comecei a ler à séria, desde os livros de Uma aventura e d’Os cinco até à Virgina Woolf, passando pelo primeiro best-seller que li O prémio do Irving Wallace (nas aulas de matemática do 9ºano, tentava lê-lo às escondidas – para quem conhece o livro, sabe que é impossível). Foram muitos os livros, muitos, mesmo muitos. Até começar a trabalhar, lia quase 30 livros por ano e guardava um caderno com as minhas apreciações genéricas sobre cada leitura.

Depois comecei a trabalhar e também a enredar-me cada vez mais em questões amorosas. Deixei de ler. Não foi nada que mais alguém se tivesse apercebido, porque ia lendo – mas passar de 30 para uns 5 livros por ano deixava muito a desejar. A cabeça já não se concentrava tão bem – diabo para o trabalho – e o meu ex-lado obsessivo-compulsivo fazia de mim uma exclusiva amante de amar.

Deixei-me disso.

Nos últimos meses, comecei a dedicar-me de novo à leitura. Mas de jornais! Lia jornais sempre que tinha um tempinho livre, nem que fosse um minuto. Lia-os compulsivamente mas, não sobrando muito tempo na azáfama da minha vida, lia-os com relativo atraso. Umas 3 semanas ou assim. Estava actualizada, mas o meu tempo é mais lento.

Depois veio o Frederico Lourenço (como já referi aqui) e o frenesim dos livros voltou-me. Em menos de 2 meses, li uns 6 livros.

Aí, começou o duelo que durou cinco segundos na minha cabeça: percebi que a leitura de jornais não era compatível com a leitura de livros. Disse, portanto, adeus aos jornais, lembrando-me do meu querido professor de Filosofia Medieval, que desdenhava a pretensa verdade estampada nos jornais. A verdade não pode, em princípio, ser impressa, mas se for, será com toda a certeza num livro e não num jornal. Com sorte, talvez numa revista como esta.

domingo, maio 22, 2005

ATENÇÃO: post escatológico

E não me refiro à escatalogia como a parte da Teologia que se refere às coisas que deverão suceder no fim do mundo, mas mesmo àquela relativa aos excrementos (esclarecer dúvidas aqui).
Tudo isto a propósito de penicos. Há uns dias tive a infeliz ideia de partilhar com algumas pessoas uma metáfora em que usava uma imagem escatológica. Houve quem tivesse levado a mal e eu até percebo. Mas isso fez-me reflectir sobre os limites da linguagem: ninguém quer ouvir falar de cocós nem dessas coisas, a não ser que sejam de bebés ou de animais (e mesmo assim).
Hoje, com a criança, assisti à leitura de uma história infantil deveras interessante. A toupeira que queria saber quem lhe fizera aquilo na cabeça conta a história de uma toupeira que, num belo dia, sai do buraco na terra onde vive e leva com um cocó (para não dizer cagalhão) em cima da cabeça. Ora, o resto da história está no título: a toupeira pergunta a cada animal que encontra se lhe fez aquilo em cima da cabeça. Cada um dos variadíssimos animais defende, demonstrando, in loco, que o seu cocó nada tem a ver com aquele que pousou em cima da cabeça da pobre toupeira. É um livro bastante didáctico, como podem imaginar, porque se todos os outros livros dizem como faz a vaca por exemplo, neste diz como faz realmente a vaca. A toupeira só descobre o autor da façanha quando duas moscas provam o excremento, durante toda a história pousado na cabeça da dita. Achei a história brilhante, genial até, fartei-me de rir, como só as crianças se riem quando repetem até à exaustão chichi cocó chichi cocó chichi cocó.
Há ainda outro livro infantil fantástico, desta vez apenas acerca de puns. Oh João! Foste tu, porcalhão? é um retrato detalhado não só dos puns do João, como também dos da sua família. No final, o João conclui que, apesar de censurarem os seus, todos dão também os seus punzinhos sorrateiramente. No entanto, os dele são os melhores.
Gosto deste lado descomprometido em relação a uma coisa que toda a gente faz, mas que quase ninguém consegue realmente assumir que faz. Eu, por mim, falo - mas eu sou das poucas pessoas que não faz cocó.
Por muita brincadeira que se tenha feito na infância e na adolescência (principalmente entre rapazes, pois eu cresci entre eles e sei coisas), por muita abertura que se tenha em muitos assuntos, existe esse tabu. Longe de mim censurar, aprecio-o e voto a favor, não me compreendam mal - não defendo a livre circulação de gases nem a troca de amostras. Questiono apenas a censura do cocó - se todos o fazem, para quê tanto segredo?

quarta-feira, maio 18, 2005

Obtusa

Às vezes, somos obtusos, irracionais, teimosos, às vezes mesmo estúpidos. Gosto disso. Há coisas em que não somos capazes de ser racionais, sensatos, justos. Há momentos em que os argumentos válidos evocam apenas a indiferença. É assim o animal humano e, aqui entre nós, ainda bem. Para quê invocar mandamentos, éticas, senso comum, quando tudo em nós, em relação a determinado assunto, é obtuso? Confuso e pouco dado a explicações.

Não defendo o ponto de vista (ou ausência dele) da bestialidade, mas acredito que há momentos em que temos de ser bestas. E, muito importante, sermos tolerantes a esse lado obtuso - é a única forma de vivermos com ele ou, em caso de ser realmente danoso, ultrapassá-lo.

Uma vez ouvi um futuro médico (ai, que medo!) dizer que era uma estupidez uma pessoa ter um ataque de pânico e achar que ia morrer. Que grande disparate, dizia ele. Eu já assisti a ataques de pânico. Não é qualquer coisa que se resolve chamando a pessoa à razão. Ó querida, então estás assim porquê? Que disparate. - é o mesmo que dizer a um louco que ele está louco. Os argumentos racionais não têm validade. Custa-me que as pessoas não aceitem isso, em si e nas outras. É preciso compreender que há níveis que não são argumentativos nem racionais. Aborrece-me não haver a percepção do lado negro (que é para mim obviamente obtuso).

Isto serve para ataques de pânico, momentos de histeria, desnorte emocional, mas serve também para coisas pequenas, como o bairrismo ou o clubismo. Que adianta dizer a alguém que os jogadores, a táctica do meu clube é melhor, provando por A + B que assim é? Haverá alguém que troque de clube por argumentos racionais, do género "ah, este fica mais perto de casa". Não se discute o irracional, não se toma um cházinho enquanto se constatam os prós e os contras argumentativos; berra-se, chora-se, ri-se, rebola-se, estrebucha-se, luta-se.

Podem dizer-me que este argumento é perigoso. Ah pois é! Mas é mais perigoso acreditar que a sensatez é um dado adquirido e absoluto. Quando se combate por princípios, é bom saber que do outro lado há alguém cujo lado obtuso pode ultrapassar todos os limites viáveis - é por isso que existem leis e prisões. O Rousseau foi ao ar e o bom selvagem é menos credível que a história da carochinha.

Fala o meu lado racional.

Conversa a 13 - Tentações

Todos os meses, no dia 13, o Naperon lança-vos um desafio: escreverem o que quiserem sobre um tema proposto por nós - o Conversa a 13. Aceitaremos apenas 13 comentários, por isso terão de se apressar. Durante o mês, o post Conversa a 13 ficará sempre na primeira página do nosso blog para que todos os 13 possam participar.
Vá, ponham-se à conversa.

Desta vez o tema é: Tentações.

Sintam-se mais que tentados em comentar.
Agradecemos desde já a vossa disponibilidade.

terça-feira, maio 17, 2005

Post(a) público (ou cross-selling bloguístico)

Finalmente, alguém que me compreende. Obrigada!

sábado, maio 14, 2005

Antes do apito, para os craques*

Antes que a coisa tenha lugar, apetece falar não da coisa em si, mas da expectativa que cria. Nas ruas, vêem-se pessoas de cachecol, no meu bairro, grupos juntam-se à esquina, às portas dos cafés, e falam da coisa, nas estradas os carros rolam como bolas para a baliza, com bandeiras e cachecóis esvoaçantes.

Eu estou preparada para a coisa, mas não é dela que falo nem falarei.

Esta expectativa, esta ligeira agitação, perpassa o ar. Existe tensão. E tantos sentimentos depositados neste momento. Tudo antes da coisa se dar. Porque no final, a euforia e a tristeza são sentimentos mais claros, mais brutos, mais directos. Antes da coisa, é tudo indefinido, nervoso miudinho.

Antes dos gritos e das lágrimas, urge perguntar: por que é assim a coisa? Irracional, obsessiva, entusiasta? E por que não haverá outras coisas a mexer assim com tanta gente?

Eu acho sempre bonito, mesmo sendo incompreensível. O que vem depois às vezes não é, muitas vezes é mesmo horrendo. Gostava que fosse bonito mais vezes, por tantas outras coisas.


*Para craques como este.

quinta-feira, maio 12, 2005

Encruzilhada (ou uma espécie de 11 de Setembro existencial)

Quando algo que sempre tememos (que não seja a morte) acontece, deveria haver uma espécie de libertação, do género: isto aconteceu, era o pior que podia ter acontecido, mas estou viva e finalmente nunca mais vou ter medo porque já aconteceu.

As coisas não são bem assim. Embora também se dê esse sentimento vago de liberdade, como se um peso nos tivesse sido tirado dos ombros.

Antes parece que ficamos numa encruzilhada entre a paranóia e a superação. Ou vamos pelo caminho do "isto vai sempre acontecer-me" ou "eu nunca mais vou deixar que isto me aconteça".

De qualquer modo, seja qual for o caminho, antes é preciso perguntar "por que é que isto aconteceu?". Se não se fizer a pergunta, há sempre atalhos, todos do lado da paranóia.

Por isso, não vou atacar o Iraque.

terça-feira, maio 10, 2005

Um bom sinal

Esta noite, tive uns quatro pesadelos de seguida.
Para quem deve ter tido pouco mais que o dobro disso em 28 anos, considero este caso um bom sinal.
Até o meu inconsciente começa a libertar-se.

Diz-me do que tens medo, dir-te-ei quem és.

segunda-feira, maio 09, 2005

I'm the first in line

Foleiro, piroso, bimbo são alguns dos adjectivos que algumas pessoas usam para descrever os ABBA. Normalmente são as mesmas pessoas que não aceitam que os anos 80 estão de volta. Nem mesmo saindo no Y aceitam?
Os ABBA são um verdadeiro marco universal, uma presença indispensável em qualquer festa, casamento ou baptizado. São um must! Quem me dera ter aquelas roupas e um cabelo platinado.

Enfim, ontem fui ver o Mamma Mia, musical com todas as músicas que importa ouvir dos ABBA. E que foleiro foi e que delícia! Estupidamente divertido e com um final apoteótico com tudo o que temos direito: fatos garridos à boca de sino e bailarico total!

Um verdadeiro musical!

Para todos os que acham os ABBA foleiros, eu respondo I'm the first in line.

Qualquer dia, acham Madonna, George Michael ou Barbra Streisand foleiros e dão cabo de toda a estrutura da cultura gay e da cultura da classe média.

Eu assumo: gosto de ABBA! Sou uma rainha da dança quando ouço ABBA e até chego a agradecer a música. E, no fundo no fundo, gostava mesmo de ter uma amiga chamada Chiquitita que pudesse consolar.

Está tudo ali, nos ABBA, tudo o que é preciso saber da vida. Os pontos altos, os baixos e os de mau gosto na moda. Quem nunca usou casacos com enchumaços nos ombros que atire a primeira pedra (e não contam os pirralhos que nasceram nos anos 80).

sexta-feira, maio 06, 2005

Ler nas entrelinhas

Ontem, a ver um episódio do "Sexo e a Cidade", voltou-me uma velha questão, à qual acrescentei um paradoxo.
Tinha a ver com os nossos juízos acerca do comportamento dos outros. A pergunta essencial resumia-se à metáfora: podemos julgar um livro pela capa? Mas interessou-me mais o raciocínio. Dizia, então a Carrie mais ou menos isto: quando percebemos que uma coisa ou uma pessoa não nos interessa, devemos deixá-la passar ou, pelo contrário, tentar ler nas entrelinhas e aprofundar mais?

Vale a pena ler nas entrelinhas?

A verdade é que se não tivesse tentado ler nas entrelinhas, metade das relações (não só amorosas) que tive e tenho, não teriam acontecido. Por isso, a resposta parece óbvia: sim, vale a pena. O que me intriga é que, provavelmente, foi esse desejo de ver mais além da capa aparentemente pouco a ver comigo que me fez abrir tantos livros. Quando decidimos não ouvir o nosso juízo, ou não ver a capa, o que estamos a fazer, no fundo, é acreditar que haverá mais juízos para lá do primeiro e mais coisas para ler para lá da capa.

Decidimos isso, mesmo quando não temos escolha. Muitas vezes, esse desejo de nos provarmos errados/certos, esse desejo de ver o que está para além, pode simplesmente resumir-se a não querer ver o que está mesmo debaixo dos nossos olhos.

Se uma pessoa, como eu, raramente tem boas primeiras impressões, é bom que tente chegar à segunda, é bom que se bata por isso, mas chega sempre um momento decisivo: o de fechar o livro e olhar para a capa como se já o tivéssemos lido todo. No caso das pessoas, nunca as lemos totalmente, mas há um momento em que tem de se parar. Podem ficar na prateleira, irem parar ao lixo, ficarem ao nosso lado na mesa de cabeceira, ou serem reabertas vezes sem conta, mas nunca, nunca, poderão ficar sempre abertas. Porque os nossos olhos acabam por cansar-se e a voz dentro da cabeça precisa calar-se.

Por muito que já me tenha desiludido, nunca me arrependi de ter lido nas entrelinhas. E a verdade, aí assenta parte do paradoxo, é que por muito que as entrelinhas confirmem a capa, quando estamos embrenhados isso só nos faz continuar, persistir. Mas tudo, enfim, consiste nessa capacidade de ser agarrado. E, aí, não há juízo ou razão que vençam.

No fundo, ler nas entrelinhas é ler algo que não está lá (independentemente de estar ou não estar). É acreditar que há coisas que só os nossos olhos podem ver. Aí pode começar o engano.

quarta-feira, maio 04, 2005

Bláblábláblá

Nas relações com as pessoas, houve sempre algo que me fez impressão: a conversa fora. Nunca fui muito boa a jogá-la, mas desde cedo reparei que há quem o faça brilhantemente. Por exemplo, qualquer pessoa que já tenha falado normalmente comigo, sabe quando estou a falar por falar, mas há outras pessoas -as tais especialistas em conversa fiada- em relação às quais nunca se sabe. Há pessoas que sabem mesmo jogar conversa fora, conversa de faz de conta.

Quando falo com uma velhinha, com um desconhecido integrado num ambiente estranho, com um conhecido a quem não me quero revelar, a minha voz, o meu tom, até a minha expressão, mudam. Digo frases genéricas que começam com "pois, de facto" ou "sabe que as coisas às vezes" ou "é verdade". Depois há a conversa fora jovem, igualmente genérica, igualmente sem o meu tom próprio, que varia entre "bem, que cena" ou "ya, isso é bué marado" ou "tás a ver?". Faço a coisa com algum esforço, mas lá me vou conseguindo entender com o mundo, sem me mostrar minimamente e sem dar um passo em falso no blábláblá social.

Ora bem, cá me vou safando. Mas há pessoas que parece que só tagarelam. Até aí, tudo bem. O que me faz aflição é a afinidade que se constrói entre pessoas, exclusivamente baseada em jogos de conversa fiada. O tempo, a bola, as compras, os rapazes, as raparigas, o governo, sempre tudo de uma forma geral, superficial e pouco comprometedora. Não tenho nada contra esses temas, pelo contrário - até se pode discutir o desarmamento nuclear dessa forma. O que me impressiona é a capacidade aparentemente inesgotável de ter uma conversa incólume para todas as partes, sem parecer que nos estamos a borrifar.

Na escola, havia amizades baseadas nisso. Agora, no local de trabalho, é vê-los a passar: grupos de homens no yada, yada, com uma empatia visível; grupos de mulheres no blábláblá que parecem melhores amigas.

É difícil entrar na conversa. Cada vez é mais difícil. E tenho optado pelo boicote ou pelo silêncio. Mas sei que tenho umas quantas relações baseadas no "faz de conta que estamos a comunicar".

segunda-feira, maio 02, 2005

Dia da mãe trabalhadora

Já vou com atraso, bem sei. Mas a intenção é a mesma.

Ontem, foi dia do trabalhador. Bem sei que já me estendi noutra ocasião sobre feriados de importância social e política. Além disso, devem ter sido poucos a lembrarem-se que era dia do trabalhador: foi domingo (só houve feriado para os empregados do Pingo Doce - Bravo!) e era igualmente dia da Mãe. Havia filas para comprar flores e não eram cravos, e ao que parece nos restaurantes, não se podia entrar.
Ontem, foi portanto dia da mãe. Mas também é verdade que já falei sobre elas e de forma bastante elogiosa.
Pois bem, para mim, ontem foi Dia da Mãe Trabalhadora. É um facto: as mães fartam-se de trabalhar. Começam com o trabalho de parto e depois a coisa nunca mais pára. Só me metes em trabalhos, é o que muitas mães dizem aos filhos. A trabalheira que esta criança me dá, etc., etc.
A vida é dura e para uma mãe ainda mais. E depois, se são também esposas, também têm um grande trabalho com o marido, mas, se são solteiras, meu deus, mais trabalho para cima. Independentes, profissionais, amantes, mães, mães, mães. É uma carga de trabalhos. Já estou cansada... é claro que depois elas nos dizem (quando são simpáticas) que foi tudo um prazer. Pois, pois...

Ó mãe, se estás aí, bom trabalho! Para que saibas (acho que já sabes, espero), valeu a pena a trabalheira!